Uma horta em plena Avenida da Boavista, na cidade do Porto. Dito assim, a seco, alguém poderia pensar tratar-se de uma brincadeira ou estarmos a imaginar uma eventual ocupação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que decidiram mudar-se do Brasil para o centro da Invicta. Mas não. Não é nem imaginação nem brincadeira. É a mais pura das verdades. De uma nova realidade.

No número 1466, no Crowne Plaza Porto, unidade hoteleira de 5 estrelas, num terraço outrora utilizado para dar umas curtas tacadas de treinos de golfe (Putting Green) ergue-se agora uma horta urbana.
Suspensa, ao nível do quatro andar e com vista para a longa avenida que rasga o coração do Porto, é a maior horta urbana do país, com 25 espaços de cultivo concentrados em 300 m2.

“Cada módulo tem 125 cm de largura, por 125 cm de comprimento e 35 cm de altura e uma capacidade de 400 litros de substrato, 90 litros de água e 12 de argila expandida”, descreve Mário Carvalho Diretor do Departamento Food & Beverage do hotel.

O pedaço de agricultura no terraço do Crowne Plaza foi instalado pela Noocity Ecologia Urbana, uma startup portuguesa sediada no Porto que, desde 2014, tem acompanhado a tendência crescente da agricultura urbana um pouco por todo o mundo.

A Noocity Growbed, cama de cultivo, contém um sistema de auto-rega que permite uma poupança de água global até 80%, retendo as águas da chuva e um sistema de sub-irrigação que permite uma autonomia de rega até 3 semanas.

À sazonalidade das alfaces, cebolas, frutos-vermelhos junta-se a exclusividade da cherovia

Com as necessidades da cozinha a ditarem a lei, os produtos são servidos e colhidos diretamente da horta. A sazonalidade é um dos critérios em cima da mesa na hora da escolha de plantar.

“As alfaces, as cebolas, os frutos-vermelhos… é importante respeitar a sazonalidade dos alimentos e semear os produtos em conformidade”, frisa Jorge Sousa, chefe do Restaurante Poivron Rouge. A estes, acrescentam o tomate, ervas aromáticas, cenouras, cebolas, rabanetes, batata-doce e flores comestíveis, com as primeiras colheitas prevista para o mês de dezembro.

A exclusividade entra também nesta equação. “O facto de o restaurante ter acesso à sua própria horta, permite-nos, ainda, semear alguns produtos que não se encontram facilmente no mercado — pelo menos com a qualidade que exigimos. Como exemplo, a cherovia, uma raiz que utilizamos em alguns pratos como substituto da hortaliça por ter um sabor mais intenso”, acrescenta.

Moda ou talvez não, o chefe acredita que “as hortas urbanas são uma tendência crescente e que, certamente, veio para ficar”, sustenta. A finalizar, Mário Costa acrescenta ainda ser “possível que, ao longo dos próximos tempos, se acrescentem novos módulos e sejam semeados novos produtos”.