Escritor universal a partir da complexa realidade peruana, Vargas Llosa fez parte do chamado "boom" latino-americano junto com outros grandes como o colombiano Gabriel García Márquez, o argentino Julio Cortázar e os mexicanos Carlos Fuentes e Juan Rulfo.

Admirado pela sua descrição das realidades sociais em obras-primas da literatura como "A Cidade e os Cães", ou "A Festa do Chibo", no plano político os seus posicionamentos liberais e à direita provocaram hostilidade num meio intelectual que geralmente tende à esquerda.

"Nós, latino-americanos, somos sonhadores por natureza e temos problemas em diferenciar o mundo real da ficção. É por isso que temos ótimos músicos, poetas, pintores e escritores, e também governantes tão horríveis e medíocres", disse pouco antes de receber o Nobel em 2010.

Nascido na cidade de Arequipa, no sul do Peru, a 28 de março de 1936 numa família de classe média, foi educado pela sua mãe e seus avós maternos em Cochabamba (Bolívia) e depois no Peru.

Após os seus estudos na Academia Militar de Lima, obteve uma licenciatura em letras e, ainda muito jovem, deu os seus primeiros passos no jornalismo.

Instalou-se em 1959 em Paris, onde se casou com a sua tia Julia Urquidi, 10 anos mais velha, e exerceu várias profissões: tradutor, professor de espanhol e jornalista da Agence France-Presse.

Anos depois, separou-se de Urquidi e casou-se com a sua prima-irmã e sobrinha da sua ex-esposa, Patricia Llosa, com quem teve três filhos e 50 anos de relação.

Vargas Llosa divorciou-se de Patricia após iniciar em 2015, com quase 80 anos, um romance com uma figura conhecida do mundo madrileno, Isabel Preysler, ex-mulher do cantor Julio Iglesias. De resto, o escritor obteve a nacionalidade espanhola em 1993.

A sua longa carreira literária descolou em 1959, quando publicou o seu primeiro livro de relatos, "Os Chefes", com o qual obteve o Prémio Leopoldo Alas. Depois, ganhou notoriedade com a publicação de "A Cidade e Os Cães", em 1963, seguida três anos depois por "A Casa Verde". O seu prestígio consolidou-se com "Conversa n' A Catedral" (1969).

Naquela época, o autor peruano já afirmava que queria continuar a escrever até ao último dia da sua vida e foi cumprido a sua palavra com a publicação de obras como "O Herói Discreto", ou "Tempos Duros", sobre a agitada história recente da Guatemala, que lhe rendeu o Prémio Francisco Umbral de Romance.

Com as suas obras traduzidas para 30 idiomas, Vargas Llosa foi agraciado com os prémios Cervantes, Príncipe de Astúrias das Letras, Biblioteca Breve, o da Crítica Espanhola, o Prémio Nacional de Novela do Peru e o Rómulo Gallegos.

Quando jovem, Vargas Llosa sentiu-se seduzido por Fidel Castro, mas em 1971 rompeu com a Revolução Cubana por causa do caso do poeta Heberto Padilla, forçado pelo regime a fazer uma humilhante "autocrítica" pública.

Foi candidato à presidência do Peru em 1990. Era o favorito até aparecer o então desconhecido agrónomo Alberto Fujimori, que foi eleito. Depois do seu fracasso eleitoral, voltou às letras, de onde – admitiu – nunca deveria ter saído.

Ainda assim, não se mantém alheio às vicissitudes da política mundial, atacando nos últimos anos o populismo, "a doença da democracia", que inclui o chavismo e o castrismo, a extrema direita e a esquerda radical europeia e o nacionalismo independentista.

Teve uma estreita amizade com Gabriel García Márquez, que terminou abruptamente num incidente confuso que ambos preferiram não voltar a mencionar. "Deixem que os biógrafos cuidem desse assunto", disse Vargas Llosa certa vez.