O vencedor do Prémio LeYa 2017, justamente com esta obra, o seu segundo romance, que apresenta no sábado, em Ponta Delgada, na livraria Solmar/Leya, vê atualidade “naquilo que a história, que não se repete mas rima, nos vai mostrando”.

A obra de ficção alude a um episódio histórico ocorrido numa pequena localidade, a nordeste da Polónia, a 10 de julho de 1941, durante a II Guerra Mundial, quando “um grupo de cidadãos, na sua maioria cristãos, reuniram à força os seus vizinhos judeus na praça principal e, num festim de violência, conduziram-nos até um celeiro que incendiaram, queimando vivas centenas de pessoas, incluindo muitas crianças”.

O 'arquiteto-escritor' refere que “se consegue identificar, nos dias de hoje, muitos dos sinais que são apresentados em parte da narrativa dos [seus] dois romances” (“Perguntem a Sarah Gross” e “Os Loucos da Rua Mazur”), apesar de salvaguardar que “não exatamente com as mesmas características", mas "provavelmente com razões idênticas”.

João Pinto Coelho explica que a sua obra premiada surge na sequência "Perguntem a Sarah Gross”, que também aborda uma situação concreta, “igualmente desastrosa”, numa cidade polaca que foi ocupada pelos alemães e que se “transformou em Auschwitz”.

“Quando terminei o meu primeiro romance, entendi que havia uma parte da história que não estava contada e quis falar um pouco da universalidade do mal, mais do que a sua banalidade”, afirmou o escritor.

Considerando que “não foram só os alemães” que “cometeram atos bárbaros” durante aquele período da história, mas também os polacos, e outros povos, João Pinto Coelho pretende transmitir que “o mal pode tocar-nos a todos”.

João Pinto Coelho nasceu em Londres, em 1967, licenciou-se em arquitetura, em 1992, e viveu a maior parte da sua vida em Lisboa, tendo passado diversas temporadas nos Estados Unidos, onde chegou a trabalhar num teatro profissional, perto de Nova Iorque.

Em 2009 e 2011, fez parte de duas ações do Conselho da Europa que tiveram lugar em Auschwitz (Oswiécim), na Polónia, trabalhando de perto com diversos investigadores sobre o holocausto.

Foi nesta fase que concebeu e desenvolveu o projeto "Auschwitz in 1st Per-son/A Letter to Meir Berkovich", que juntou jovens portugueses e polacos e que o levou uma vez mais à Polónia, às ruas de Oswiécim e aos campos de concentração e extermínio.

O escritor tem realizado diversas intervenções públicas, uma das quais, como orador, na conferência internacional "Portugal e o Holocausto", que teve lugar na Fundação Calouste Gulbenkian, em 2012.

A apresentação do livro em Ponta Delgada ficará a cargo do professor universitário, critico literário e escritor Vamberto Freitas.