Em declarações hoje à agência Lusa, José Vieira, coordenador do congresso internacional intitulado “A Peregrinação de Mário Cláudio”, explicou que a iniciativa surgiu “no âmbito de duas celebrações maiores na longa carreira da literária do Mário Cláudio” que se comemoram este ano.
“Em primeiro lugar, os 40 anos da publicação do romance ‘Amadeo’, que ganhou em 1984 o prémio de Grande Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores (APE). Aliás, Mário Cláudio é o único escritor da literatura portuguesa que ganhou por três vezes este prémio. Em segundo lugar, para celebrar os 55 anos de vida literária do escritor, que se comemoram este ano e que foi iniciada, em 1969, com a publicação do livro de poemas ‘O Ciclo de Cypris’”, explicou o professor universitário.
Docente na Universidade de Pádua, em Itália, José Veiga realçou que “Mário Cláudio é o escritor vivo [82 anos] da literatura portuguesa, mas também da literatura de língua portuguesa, com a mais extensa obra literária, sendo superado somente por Camilo Castelo Branco e Agustina Bessa-Luís, que são seus grandes mentores e monstros sagrados”.
Segundo José Vieira, o congresso que decorre entre quinta-feira e sábado, nos concelhos de Amarante, distrito do Porto, e Paredes de Coura, no distrito de Viana do Castelo, visa “debater e discutir ideias em torno da obra, das personagens, dos grandes temas utilizados por Mário Cláudio nos seus romances, novelas, crónicas e biografias”.
“Isto revela, por um lado, uma obra em constante transformação e, por outro, a vitalidade da sua obra, ao reunir tantas pessoas de tão diversos lugares. É uma obra viva e que se transforma, sendo ela um clássico”, afirmou.
Além do “tributo a um dos nomes maiores das letras em língua portuguesa, que escolheu Paredes de Coura para viver” e onde está situado o centro Mário Cláudio que guarda “o precioso espólio” do autor, o encontro internacional será o primeiro passo para a criação de um centro de pesquisa, em rede, dedicado a escritores do Norte de Portugal e da Galiza.
“Este congresso serve também de mote, de trampolim para iniciar essa rede alargada de escritores não só do Norte de Portugal, mas do Norte da Península Ibérica, ou seja, da Galiza. Creio que ao juntar todos estes especialistas e ao realizar-se uma parte em Amarante e, a outra, em Paredes de Cora, é um sinal da vitalidade dos escritores da região Norte de Portugal e também da Galiza”, afirmou o académico.
Mário Cláudio, natural do Porto, vive em Paredes de Coura, mas tem “ligações familiares e afetivas a Amarante patentes na publicação do romance ‘Amadeo’”.
Mário Cláudio foi ainda agraciado mais duas vezes com o prémio APE pela obra “Retrato de Rapaz” (2015) e “Tríptico da Salvação” (2019).
O congresso começa na quinta-feira, no auditório da biblioteca municipal de Amarante, com comunicações e uma visita guiada ao museu Amadeo de Souza Cardoso.
O programa “inclui um concerto do Gomo de Tangerina no museu Amadeo de Souza Cardoso, aberto ao público. É um concerto pensado naquilo que é a obra de Mário Cláudio”, lembrando que, além de escritor, Mário Cláudio é letrista.
Já em Paredes de Coura, na sexta-feira e no sábado, além das comunicações, serão lançados dois livros, uma tradução italiana de “Retrato de Rapaz” e “A Verdade é de Papel - Ensaios para Tiago Veiga”, com organização de José Vieira.
No sábado, “além de um roteiro literário de Mário Cláudio, haverá um concerto de violoncelo, duas exposições patentes no centro Mário Cláudio sobre a obra de Tiago Veiga e da pintora irlandesa, Ellen Rasmussen, a segunda esposa de Tiago Veiga”.
“É um congresso que não só congrega a academia, mas abre a academia à sociedade civil, através da música, da literatura, da pintura, da troca democrática e arejada de ideias”, sublinhou o professor universitário.
O congresso é organizado pelo Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Universidade de Lisboa, em colaboração com as autarquias de Amarante e Paredes de Coura.
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