Não me foi possível assistir à discussão sobre os limites do humor que acredito que foi moderada com todo a ponderação e propriedade a que Fátima Campos Ferreira nos tem vindo a habituar. Estou na Índia, uma das poucas nações do Mundo onde a sociedade civil ainda não escarrou por completo na Moral e nos bons costumes, pelo que não conseguirei sintonizar, a tempo de entregar a crónica, no canal do Estado para assistir à medição de egos destes jograis de segunda categoria que reclamam para si o estatuto de foliões da pátria.

Todavia, estou perfeitamente familiarizado com as manhas de tais bobos sem corte. Terão dito que se sentem censurados por um clima persecutório, ao mesmo tempo que terão mencionado o livro “Direito a Ofender” de Mick Hume, recorrido a citações atribuídas a Voltaire e sublinarmente insultado Fernanda Câncio.

O humor tem limites, sim. São, até, limites semanalmente definidos. Basta estar atento aos artigos da Vice, ao meio académico norte-americano, ao Twitter de pessoas que são, de facto, woke. E os limites do humor são como a Lei. Parte-se do princípio que o humorista tomou conhecimento dos novos limites, atualizados diariamente. Não pode cá vir com “ah! Não sabia que não se podia dizer que o reggae é uma merda porque é pôr em causa a cultura jamaicana o que faz de mim imediatamente um esclavagista!”.

A ausência de limites tem levado a injustiças gritantes. Não falta razão aos animalistas quando defendem a reformulação semântica das expressões idiomáticas que ponham em causa a idoneidade de determinados bichos. Não sejamos ingénuos ao ponto de ignorar que a expressão “a cavalo dado não se olha o dente” não tem criado um estigma enorme nos potros, a quem a expressão atribui injustamente uma tendência para as complicações odontológicas.

Espero que o debate de ontem sirva para que os humoristas entendam de uma vez por todas que a liberdade de expressão é como o champanhe na passagem de ano. É essencial, indispensável, mas a cada um só cabe uma mijinha, para evitar os expectáveis excessos.

Recomendações

Índia.

O álbum Santa Rita Lifestyle.

A cantora Rosalía.