“É um erro grosseiro julgar que mais tempo expostos ao sol vamos ter mais produção de vitamina D (…) e é errado aconselhar a população a expor-se mais ao sol, de forma desmesurada, pois vai é aumentar o risco de cancro de pele”, alertou Osvaldo Correia, secretário-geral da APCC, que hoje apresenta os dados mais recentes deste tipo de cancro.

O responsável respondia à agência Lusa a propósito dos défices de vitamina D que têm sido detetados na população portuguesa e que levaram a um aumento do consumo destes suplementos vitamínicos.

Por causa dos gastos com os suplementos de vitamina D, que dispararam nos últimos anos, o Infarmed, a Direção-Geral de Saúde (DGS) e o Instituto Ricardo Jorge (INSA) já anunciaram que vão avançar com uma avaliação "firme e rigorosa" do diagnóstico e tratamento deste défice vitamínico.

“Têm sido detetados em várias faixas etárias níveis deficitários. Considera-se, de qualquer forma, que dos níveis que têm sido reportados em termos internacionais, dos laboratórios, é preciso saber o deficitário que obriga a fazer suplementação, e isso é em função da patologia que possa estar associada e tem de ser decidido pelo médico”, alertou Osvaldo Correia.

O especialista explicou ainda: “A pele, após exposição à luz durante 15 a 20 minutos, em áreas limitadas, pode ter uma capacidade de produção de vitamina D suficiente para nós próprios, disso não temos qualquer tipo de dúvida. Não vai ser à custa de mais exposição à luz que ela vai produzir mais vitamina D”.

Para o responsável da APCC, se de facto existem défices que são necessários corrigir “eles têm de ser suplementados por medicação, tal como os bebés, não é por maior exposição [ao sol]”.

Dados recolhidos pelo Infarmed mostram uma duplicação dos encargos entre 2015 e 2016, valor que quintuplicou em dois anos, passando de 1,1 milhões de euros para 5,7 milhões, incluindo medicamentos com e sem comparticipação.

Já o financiamento no Serviço Nacional de Saúde (SNS) aumentou num ano de 779 mil euros para 2,1 milhões.

Para o Infarmed, "estes valores, só por si, não permitem concluir que há um sobretratamento do défice de Vitamina D", mas "a discrepância de valores nos resultados publicados em dois estudos diferentes justifica uma avaliação profunda e esclarecedora nesta área".

Segundo a autoridade do medicamento, esta investigação está a ser efetuada em diversas vertentes, desde logo relativamente às metodologias utilizadas na determinação dos níveis sanguíneos de vitamina D, à racionalidade clínica na prescrição de medicamentos com vitamina D e às práticas promocionais daqueles medicamentos por parte das empresas farmacêuticas.

Quase 100 suspeitas de cancro de pele no rastreio nacional de 2016

Quase 100 suspeitas de cancros de pele foram detetadas em 2016 no rastreio nacional que avaliou cerca de 1.700 pessoas, segundo a Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo (APCC).

De acordo com o secretário-geral da APCC, Osvaldo Correia, os casos de cancro de pele têm vindo a aumentar e neste rastreio as suspeitas ascenderam a “mais de 80 casos de carcinoma basocelular e 14 de melanomas, além de outras lesões de risco de cancro de pele”.

Osvaldo Correia falava a propósito dos dados do rastreio nacional que serão hoje apresentados em Lisboa, assim como os do rastreio feito em S. Jorge, nos Açores, onde segundo a APCC a taxa de incidência de cancros de pele é “das mais elevadas do país”.

Na iniciativa, integrada no Dia do Euromelanoma, que se assinala todos os anos em mais de 30 países, serão ainda revelados dados relativos à incidência dos cancros de pele nos jovens adolescentes, “que se estão a tornar mais frequentes e que se prevê continue a aumentar nos próximos anos”, disse.

“O que pretendemos é (…) amplificar as mensagens de prevenção primária e secundária de cancro de pele, que visam chegar às crianças e aos adolescentes com muitas iniciativas no país decorrentes de ações de escola e no desporto, em que queremos que pratiquem desporto ao ar livre mas com segurança, assim como os trabalhadores ao ar livre, que devem ser sensibilizados para a proteção necessária quando trabalham ao sol”, afirmou Osvaldo Correia.

Segundo disse, estima-se que surjam este ano mais 12.000 novos casos de cancro de pele, 1.000 dos quais de melanoma.

“Se no melanoma podemos ter um sinal previamente existente que modificou ou um novo que surge, temos também de pensar no cancro de pele não melanoma – como o carcinoma basocelular e o carcinoma espinocelular -, que pode aparecer por uma ferida que não cicatriza e que pode ocorrer sobretudo nas zonas cronicamente expostas ao sol, como a face, em particular o nariz, a fronte, as orelhas e, no calvo, o couro cabeludo e o pescoço”, explicou o responsável.

Segundo a APCC, estima-se que na face e no pescoço seja onde ocorrem cerca de 50% dos casos de cancro de pele não melanoma, um tipo de cancro de pele “extremamente frequente na população”.

Para o responsável da associação, as causas do aumento do número de casos do cancro de pele são múltiplas, mesmo que a população portuguesa seja das que tem mais conhecimentos e comportamentos mais adequados.

“Além de fatores genéticos que podem existir em determinadas populações com fototipo de risco, as atividades ao ar livre são múltiplas, não só profissionais, mas de lazer. Hoje as pessoas têm mais exposição a luz, mas devem evitar as horas de maior exposição aos raios ultravioletas”, afirmou Osvaldo Correia, lembrando que “os adolescentes e adultos jovens são os que têm comportamentos menos adequados”.

“A sensibilização tem aumentado, a percentagem de população que tem mais cuidado também é maior, mas não nos podemos esquecer que a pele memorizou. A pele memoriza os riscos e agressões a que esteve sujeita ao longo da vida a essas agressões podem ter como consequência a lesão de cancro de pele ou de risco de cancro de pele cinco, 10, 15 ou 20 anos depois”, acrescentou.

Osvaldo Correia sublinha a importância do diagnóstico precoce, dando o exemplo das várias iniciativas que vão ser desenvolvidas no âmbito do Dia do Euromelanoma, sobretudo para ensinar a população a fazer o autoexame, “identificar o inimigo” e saber o que deve ou não valorizar nesse diagnóstico.

A campanha que irá decorrer este ano prevê diversas ações para o dia 17 de maio, Dia do Euromelanoma em Portugal, como os rastreios gratuitos que vão decorrer em meia centena de serviços de dermatologia espalhados pelo país.