Na sessão solene de abertura das Comemorações 50 anos do 25 de Abril, que decorre no Pátio da Galé, em Lisboa, António Costa afirmou que “pensar o futuro da democracia”, tornando-a mais viva, exigente, moderna e participada, “é a responsabilidade maior destas Comemorações e é a melhor mensagem que delas pode resultar”.

“A liberdade e a democracia são sempre obras inacabadas e nunca estão imunes a ameaças. É sempre possível democratizar mais a liberdade e libertar mais a democracia e é necessário agir contra o populismo, as desigualdades, a corrupção, o medo e o ódio que sempre as ameaçam”, defendeu.

Para o primeiro-ministro, “defender a democracia é ter consciência de que a democracia é de todos” e que todos têm “o dever de cuidar da democracia” porque "o primeiro dever dos democratas é o de defender, aperfeiçoar e reforçar a democracia".

De acordo com António Costa, é obrigatório modernizar o Estado, a economia e sociedade, aumentar o crescimento económico, acabar com pobreza, dignificar o trabalho e valorizar o mérito, liderando ainda “a dupla transição climática e digital”.

“Não ignoramos – ninguém ignora - o muito que há ainda a fazer para termos o país que desejamos e merecemos. Não desconhecemos que, como todas as outras democracias, a nossa tem problemas urgentes e desafios imperiosos”, assumiu.

O primeiro-ministro avisou ainda que "o futuro está sempre em aberto e nada está garantido".

"É o futuro que devemos prevenir e preparar. É o futuro que somos chamados a imaginar e a construir. Porque foi em nome do futuro, de um futuro melhor, que o 25 de Abril se fez", lembrou.

António Costa citou, em momentos diferentes do seu discurso, dois poemas de Jorge de Sena, um escrito antes do 25 de Abril e outro já depois da Revolução dos Cravos.

“Como Jorge de Sena, sabemos, desde o 25 de Abril, que a cor da liberdade é verde e vermelha, a cor da bandeira nacional, mas sabemos também que a diversidade das cores que a liberdade nos dá está muito para além do verde e muito para além do vermelho. É a cor do arco-íris que hoje é uma nova fronteira das liberdades, é a cor amarela a azul que hoje são as cores por quem luta pela paz”, disse, numa referência à guerra da Ucrânia, com a embaixadora daquele país sentada na audiência, uma frase muito aplaudida.

De acordo com o chefe do executivo, as cores da liberdade não são as cores da pele, mas “as cores que cada um cria na sua imaginação criativa que a liberdade libertou”.

“Hoje e sob o signo da liberdade que tudo renova, manifestamos a nossa vontade de fazer destas Comemorações um grande momento de afirmação, de rejuvenescimento e de aperfeiçoamento da democracia portuguesa”, enfatizou.

Quando passam “17.500 dias sobre o dia 25 de Abril de 1974”, o marco em que Portugal “vive há mais dias em liberdade do que aqueles que viveu em ditadura”, Costa fez questão de prestar uma homenagem “sempre devida” aos Capitães de Abril, “heróis da Revolução e que serão sempre merecedores da nossa gratidão renovada”.

“Sem perder obviamente a memória da resistência que queremos honrar, a memória da libertação que vamos festejar, a memória do muito que construímos e devemos celebrar, estas comemorações terão de ser sobretudo uma passagem de testemunho para as novas gerações que continuarão e renovarão a nossa democracia na aspiração a um futuro que realize o que ainda falta realizar”, antecipou.

Marcelo pede que comemoração vá além da “celebração contemplativa do passado”

O Presidente da República defendeu hoje que a comemoração dos 50 anos do 25 de Abril deve ir além da “celebração contemplativa do passado” e procure respostas para “as frustrações, desilusões e fragilidades e insuficiências” da democracia.

“Está nas nossas mãos fazer com que estes 50 anos do 25 de Abril sejam sementes do futuro e não apenas revivalismo do passado”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, na intervenção na abertura solene das comemorações.

O chefe de Estado apelou a que esta celebração, que durará mais de dois anos, não sirva para “afunilar, empobrecer ou excluir”, mas para alargar e enriquecer.

“Que seja o futuro o nosso desafio fundamental, por aí passa o sucesso ou o fracasso da comemoração, por aí passa ser uma oportunidade ganha ou uma oportunidade perdida”, alertou.

No dia em que a duração da democracia ultrapassa a da ditadura arrancaram as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril e Marcelo Rebelo de Sousa elencou para que devem e não deverão servir estas celebrações, na sua perspetiva.

“O percurso que hoje principia não pode ficar na celebração contemplativa do passado, naquilo que nele foi o melhor, tem de ir mais longe, analisar esse passado no que não foi o melhor, juntar-lhe a reflexão sobre o presente e o futuro, em busca da resposta para as frustrações, as desilusões, as fragilidades, as insuficiências da democracia e da liberdade sonhadas e depois vividas”, balizou.

O chefe de Estado salientou que as comemorações também devem celebrar o passado “no que merece ser celebrado”, como a luta pela liberdade e pela democracia durante décadas, com “sacrifícios na perda de vidas, de liberdade, nas censuras, nas prisões, nas torturas”, quer em Portugal, quer nas antigas colónias.

“Com destaque cimeiro para os que converteram a pré-história em história: os capitães e heróis de Abril, todos eles a pensarem em futuros muitos diversos e até opostos, mas tendo congregado vontades naquele momento”, apontou.

No entanto, o chefe de Estado ressalvou que as comemorações têm também de servir para “fazer aquilo que só é possível em democracia e nunca é possível em ditadura”.

“Perguntar, questionar, repensar, propor, querer mais e melhor democracia e liberdade, mais igualdade e mais solidariedade”, defendeu, pedindo um “olhar com sentido crítico para o que se pretendia e nunca existiu ou o que resultou e depois se esvaiu”.

Depois, o Presidente da República apontou para que não deve servir esta comemoração.

“Não deve servir para monopolizar a liberdade e a democracia, que são de todos os portugueses e de todas as instituições que se manifestem na sua liberdade”, disse.

Também não deve servir, segundo o chefe de Estado, para “disputas de glórias, discussões de vaidades ou protagonismos que não dizem nada aos portugueses”,

“Não deve servir para refazer a história, dela apagando os que tiveram relevo e relevo diverso, respeitando essa diferença - porque houve quem tivesse sofrido mais do que outros. Não deve servir para afunilar o que deve ser alargado, empobrecer o que deve ser enriquecido, alienar e excluir no que deve caber na manifestação do povo português”, elencou.

E, acrescentou, “não deve servir para perder de vista o futuro”.

“Desejo profundamente como deputado constituinte e como Presidente da República portuguesa hoje que seja uma oportunidade ganha, uma vitória da liberdade, da democracia toda ela, a política, a económica, a social e cultural, uma vitória de Portugal de futuro”, desejou.

Ferro apela a maior “participação convencional” de jovens na política

O presidente da Assembleia da República defendeu hoje que é necessário atrair mais jovens para uma “participação convencional” na política e no sistema partidário, de forma a que as suas preocupações sejam ouvidas e representadas.

Na abertura solene das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974, no Pátio da Galé, em Lisboa, Eduardo Ferro Rodrigues - que disse já estar na "fase dos descontos" da sua função como presidente do parlamento - centrou parte da sua intervenção numa reflexão sobre o futuro.

“Um futuro de esperança numa vida melhor para todos, no muito que há ainda por cumprir, numa democracia com mais qualidade”, afirmou, defendendo que esse desafio se coloca a todos e, “em particular, aos mais jovens”.

O presidente do parlamento recusou a ideia de que os jovens de hoje “sejam politicamente menos participativos ou mais passivos do que as gerações anteriores”, mas reconheceu que a sua voz “nem sempre é suficientemente audível no espaço público”.

“Os jovens participam e interessam-se por política, tanto ou mais do que a restante população. É uma participação menos institucional, de cariz mais cívico, que privilegia, por exemplo, a recolha de fundos para uma atividade social, cívica ou política, o boicote a certos produtos por razões políticas ou ambientais, manifestações, a assinatura de petições, ou a participação política nas redes sociais”, elencou.

No entanto, o presidente do parlamento defendeu que “uma participação mais convencional, ou institucional, dos jovens, orientada para o sistema partidário, é fundamental”, a começar pelas eleições.

“Precisamente para que as suas preocupações estejam mais presentes e sejam mais representadas na vida política nacional e na sua agenda, nomeadamente nos partidos, no Parlamento ou no Governo”, defendeu, alertando que "sem parlamento não há democracia, sem partidos livres não há parlamento".

Para tal, Ferro Rodrigues apontou dois desafios aos responsáveis políticos: por um lado, “um esforço criativo para se encontrarem formas de estimular esta participação convencional dos mais jovens”.

“Através de uma maior sintonia dos representantes políticos e dos governantes com as preocupações dos mais jovens e as suas prioridades”, sugeriu em segundo lugar, dizendo ser necessário encontrar “inspiração nas propostas da sociedade civil, na academia ou nas experiências dos vários países que se deparam com os mesmos desafios”.

O presidente do parlamento alertou que “o futuro de Abril não se faz sem os jovens, cujo típico inconformismo, agora como então, é fundamental para a vida nacional”.

Ferro Rodrigues saudou o marco simbólico do arranque das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril - em que a democracia suplanta a duração da ditadura -, considerando que Portugal deixa para trás “um histórico défice, ajustando contas com os dias do passado ditatorial”.

“Em 74, tinha 24 anos; agora tenho 72. Quem diz que a ditadura durou pouco esquece que os jovens de Abril são agora os avós de 2022. E só agora podemos comemorar este dia”, disse, recordando outra efeméride que se assinala na quinta-feira, os 60 anos da crise académica de 1962.

Sobre o passado, Ferro Rodrigues disse ser necessário não esquecer os que “resistiram, lutaram e morreram” e, quanto ao presente, enalteceu os muitos indicadores de desenvolvimento do Portugal democrático, “da educação à saúde, passando pelos direitos das mulheres e dos trabalhadores, até às condições de saneamento e infraestruturas”.

“O caminho positivo que fizemos neste combate às desigualdades, essencial para cumprirmos o nosso potencial de crescimento, não pode, no entanto, contentar-nos, devendo antes estimular-nos a fazer mais e melhor, pois ainda somos um dos países com mais desigualdade na União Europeia”, alertou.

Na sua intervenção, Ferro Rodrigues referiu-se ainda ao ambiente de “grande incerteza mundial” devido à pandemia de covid-19 e do ataque da Rússia à Ucrânia.

“Não adiro particularmente à ideia da crise virtuosa, vista sobretudo como oportunidade, embora também o possa ser. Antes de mais, estas crises configuram, para tantas pessoas, momentos dificílimos de luta pela sobrevivência. Não obstante, elas podem trazer ao de cima o melhor de nós enquanto seres políticos e sociais”, referiu.

Como exemplos, a segunda figura do Estado destacou a “entrega incondicional dos profissionais de saúde na crise pandémica” e o “pronto e generoso apoio aos refugiados da Ucrânia”.

“São incontáveis os casos de entreajuda que nos devem inspirar a fazer melhor no futuro. E escolho enfatizar isto porque considero que a solidariedade é um dos projetos mais ambiciosos de Abril, por onde passa muito do chão comum que nos une enquanto portugueses, europeus e cidadãos do mundo”, sublinhou, numa cerimónia que conta também com intervenções do primeiro-ministro e do Presidente da República.

Porque o seu tempo é precioso.

Subscreva a newsletter do SAPO 24.

Porque as notícias não escolhem hora.

Ative as notificações do SAPO 24.

Saiba sempre do que se fala.

Siga o SAPO 24 nas redes sociais. Use a #SAPO24 nas suas publicações.