Leões, tigres, golfinhos, koalas, elefantes, preguiças. Estes são alguns dos animais que surgem frequentemente em selfies no Instagram, fotografias estas que tiveram um aumento de 292% desde 2014. Os dados são da ONG World Animal Protection e não deixam margem para dúvidas: é necessário proteger as espécies selvagens em cativeiro.
Mais de 40% das selfies partilhadas são, segundo o relatório, “más selfies de vida selvagem”, uma vez que as pessoas interagem de forma errada com os animais, abraçando-os e agarrando-os. Contudo, é possível uma “boa selfie”: fotografias em que seja visível que não houve contacto direto com o animal e que este não estava retido em cativeiro para possibilitar as ditas imagens.
Um caso concreto de "más selfies" é o das preguiças, utilizadas como atração turística na Amazónia peruana. Passam de mão em mão, o que causa um grande stress psicológico. Assim, estes animais — conhecidos pelo tempo que passam a dormir — descansam apenas 4% do que deveriam, sendo por isso a sua esperança de vida reduzida para seis meses, ao invés dos 15 anos que viveriam em liberdade.
Tomando como caso a América Latina, é ainda referido que 54% dos 249 parques de vida selvagem oferecem contacto direto com os animais para selfies, 35% usam comida para os atrair e 11% dão a possibilidade de nadar com os animais selvagens.
Contudo, não são apenas as fotografias em si que são preocupantes. Das espécies identificadas, 61% estão classificadas como protegidas pela CITES, uma convenção sobre o comércio de espécies ameaçadas, e 21% como espécies ameaçadas, segundo a IUCN, a União Internacional para a Conservação da Natureza.
“O mais complicado é conseguir que as pessoas vejam que por trás desta atividades tão exótica e desta foto tão bonita que partilham no Facebook há muitos maltratos”, refere Giovanna Constantini, coordenadora do departamento de comunicação da associação de defesa dos animais FAADA, ao jornal espanhol El País.
Além disso, há também falta de conhecimento por parte das pessoas quando procuram atividades relacionadas com a vida selvagem. “Nenhuma agência de viagens vai dizer ‘sobe a um elefante e vais ver todos os danos que isso implica' para ele e para a espécie”, continua Giovanna. “As atividades são vendidas como se fossem positivas para as pessoas e para os animais”. Contudo, algumas agências já começam a ter mais cuidados e apresentam alternativas que possibilitam a observação das espécies sem entrar em contacto com as mesmas.
E se as selfies no Instagram mudarem a vida dos animais?
No Instagram, as selfies com a hashtag #koalaselfie ultrapassam as 3.700 publicações, #tigerselfie tem mais de 5.000 registos e #elephantselfie apresenta mais de 12 mil fotografias.
Esta rede social, com mais de 700 milhões de utilizadores e 92 milhões de imagens carregadas por dia, tem “o poder para mudar o debate sobre o uso de animais selvagens como ‘adereços’ nas fotografias”, diz a organização World Animal Protection. E foi precisamente isso que começou a ser feito.
Inseridas estas hashtags no Instagram, o aviso que surge é claro e pretende proteger a vida selvagem na rede social: “Estás a pesquisar uma hashtag que pode estar associada a publicações que incentivam comportamentos nocivos para os animais ou para o ambiente”, lê-se. Contudo, as publicações são visíveis num segundo passo, após carregar-se num botão que direciona a pesquisa pretendida.
A partilha destas imagens tem, no entanto, as suas vantagens, uma vez que pode ser uma forma de se identificar os locais onde os animais são maltratados, permitindo agir para mudar a situação.
Também o Tinder alerta para a proteção da vida selvagem depois de ver o crescente de selfies com tigres, tendo pedido para serem retiradas, uma vez que “abusam destas espetaculares criaturas que estão fora do seu habitat natural”. Ficou, também, o aviso: “Posar junto a um dos reis da selva não te converte num”.
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