Já nos últimos dois anos, a Black Friday carregou o assombro de ter sido o dia em que mais se compraram armas nos EUA: 185.345 em 2015 e 185.713 em 2016. Este ano o número voltou a aumentar: na última sexta-feira 203,086 pessoas solicitaram a verificação de antecedentes para comprarem uma arma ao FBI.
Contudo, o número de solicitações de verificação de antecedentes não espelha, de forma rigorosa, o número de armas vendidas. Pode acontecer um comprador adquirir, só numa transação, várias armas - ainda que só precise de uma verificação de antecedentes. Daí que, na prática, o número de armas adquiridas possa ser mais elevado do que o que foi registado (203.086).
Estes números chegam ao Sistema Nacional de Verificação de Antecedentes Criminais Instantâneos (NICS) poucos dias depois de o Procurador-geral Jeff Sessions ordenar uma revisão abrangente do sistema de armas nos EUA. Esta ordenação acontece na sequência de Devin Kelley, veterano da Força Aérea, comprar um fuzil usado (fuzil é uma arma de fogo portátil, de cano longo, normalmente maior que 48 centímetros) para matar 25 pessoas dentro de uma igreja, no dia 5 de novembro, em Sutherland Springs, Texas.
Após o tiroteio, a Força Aérea admitiu não ter fornecido ao FBI informações completas acerca de Kelley - informações essas que poderiam ter bloqueado a venda da arma.
Stephen Morris, ex-assistente do diretor do FBI, disse ao USA TODAY, na sequência do caso de Devin Kelley, que o NICS tem sido confrontado com base de dados incompletas e desatualizadas acerca dos compradores de armas.
Segundo o The Wall Street Journal, na maior parte dos casos a verificação de antecedentes leva apenas alguns minutos. Se a base de dados do comprador estiver “limpa”, a arma é imediatamente adquirida. Em muitas ocasiões, a base de dados do comprador mostra se há um registo de prisão, mas não há informações adicionais que indiquem se o caso resultou numa absolvição ou numa condenação. Além disso, estas bases de dados não reúnem registos de saúde mental dos compradores, por exemplos.
Quando os dados do comprador não são considerados "limpos" (como acontece em 8% dos casos), a pessoa pode ter que esperar cerca de três dias para adquirir a arma. Nesta situação, o FBI tenta preencher as lacunas de informação ao requerer inquéritos aos departamentos policiais ou aos tribunais. Ainda assim, nem sempre é possível reunir a informação necessária para impedir a venda da arma.
Segundo a Gun Violence Archive — empresa sem fins lucrativos, fundada em 2013, para fornecer acesso público a informações sobre violência relacionada com armas — os EUA registaram, até hoje, 323 tiroteios em massa, 55.651 incidentes, 14.036 mortes e 669 crianças (com menos de 11 anos) mortas ou feridas.
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