A notícia de que foram detetados os primeiros casos da variante brasileira do novo coronavírus em Portugal abriu a maioria dos telejornais nacionais deste domingo à noite. Esta surge na véspera de os políticos reunirem com os especialistas, nas chamadas reuniões do Infarmed, para debater a situação epidemiológica da covid-19 no país, onde será apresentada por parte do Instituto Ricardo Jorge (INSA) "a nova abordagem de sinalização precoce de potenciais variantes genéticas que importa monitorizar".
Esta variante tem sido detetada proeminentemente no Brasil e tem merecido atenção especial pelas autoridades de saúde mundiais. A nota do INSA esclarece mais sobre este ponto:
"A variante 501Y.V3 (P.1), primeiramente detetada no Brasil, em particular na região de Manaus (Amazónia), tem sido assinalada pelas autoridades de saúde mundiais como merecedora de especial vigilância dado o seu elevado potencial de transmissão, mas também devido ao facto de poder ser menos reconhecida por alguns dos anticorpos gerados no decurso de uma infeção, suscitando naturalmente uma atenção acrescida", sublinha o instituto.
Explica posteriormente a RTP que os dois primeiros casos foram detetados no dia 10 de fevereiro pelos laboratórios da UniLabs no âmbito da colaboração que estes mantêm com o INSA, a que mais tarde se juntaram dois casos suspeitos no Porto. E, hoje, ficou a saber-se não só que os quatro casos suspeitos eram de facto desta variante, como efetivamente se tratavam de sete situações no total. De acordo com a estação pública, os virologistas consideram que a variante brasileira é mais contagiosa do que a britânica, que no final de janeiro representava quase metade dos casos confirmados na região de Lisboa.
Amanhã durante a reunião dos políticos com os peritos — que ajudará a decidir os próximos passos na luta contra a pandemia — deverão ser transmitidas mais informações. As questões que os especialistas agora colocam passam por saber se a eficácia das vacinas atuais se mantém e qual será o risco de severidade desta estirpe. Para já é sabido que a variante brasileira possui 12 mutações, uma delas já encontrada nas variantes da África do Sul e na do Reino Unido.
Entre o último encontro do Infarmed e aquele que se realizará amanhã já se passaram duas semanas. Durante este período o cenário melhorou: Portugal já não está no topo da lista dos países em pior situação e desceu na tabela das nações com mais casos de covid-19. O número de internamentos tem vindo a descer nos últimos dias — hoje foi exceção — e desde sexta-feira que o número de mortos se tem situado abaixo dos 100. Por outras palavras, no primeiro mês de confinamento, tem-se vindo a registar menos novos casos confirmados, internados e mortes diárias.
Todavia, é preciso afastar a ideia de que vamos desconfinar. A 9 de fevereiro, Baltazar Nunes, um dos peritos que falou na última reunião, salientou que as escolas deviam permanecer encerradas (mantendo-se em formato digital) durante dois meses. Só desta forma se conseguirá trazer o número de camas ocupadas nos cuidados intensivos para baixo das 200 (atualmente estão 638 pessoas internadas). É que apesar dos indicadores estarem a descer, os hospitais nacionais continuam com números muito acima daqueles apontados pelos especialistas como metas para reabrir o país.
É por isso que o Governo não quer discutir possíveis cenários de abertura. Pelo menos para já. Tanto que a Ministra de Estado e da Presidência, Mariana Vieira da Silva, sublinhou que apesar de o desconfinamento começar pelas escolas, aquilo que é a nossa rotina não vai sofrer alterações nas próximas semanas. "A nossa vida tem sido muito marcada pela pandemia e eu queria dizer que vai continuar a ser", afirmou.
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