Era a notícia de que muitos agentes ligados ao turismo, nomeadamente na região do Algarve, ansiavam há semanas: a abertura dos "corredores aéreos" entre Inglaterra e Portugal. Marcelo Rebelo de Sousa já tinha, aliás, colocado a questão no fim de semana passado: "se não abre agora, quando é que abre?". A resposta à questão colocada pelo Presidente da República, sabemo-la agora: é "já" a partir das 4h00 deste sábado, dia 22 de agosto.
Todavia, o ministro dos Transportes, Grant Shapps, através da rede social Twitter, assim como confirmou a notícia que o The Guardian avançou em primeira mão antes desta ser oficial, deixou o aviso aos seus concidadãos: assim como Portugal foi incluído na lista, pode também voltar a sair se o cenário por cá piorar.
Ou seja, a meio das férias, as regras do jogo podem mudar — e voltar tudo a ficar como estava. E, enfatiza sobre esta realidade, pois fala "por experiência própria", tendo em conta que teve de regressar mais cedo de Espanha, onde gozava um período de descanso. No entanto, esse é um cenário que ninguém quer. Nem o turista, nem as agências de turismo, nem a economia do país.
Mas o que são e porque tanto se fala nestes corredores aéreos? Numa versão resumida, quem viaje de Inglaterra para Portugal, fica isento de cumprir uma quarentena de duas semanas imposta pelo governo como medida para travar a pandemia. Na prática, isto quer dizer que Portugal continental passa a integrar a lista de destinos seguros para viajar (Açores e Madeira já faziam parte).
A primeira reação do executivo português à saída de Portugal da "lista negra" dos corredores veio pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros. O MNE saudou a decisão, enfatizando que esta sucede devido ao "intenso trabalho bilateral realizado, quer ao nível político, quer ao nível técnico", que permitiu "que toda a informação relativa à situação e evolução epidemiológica portuguesa tenha sido tempestivamente transmitida ao Reino Unido".
Mas é esta a altura ideal? E será que a chegada das tão necessárias libras esterlinas britânicas consegue salvar o verão de 2020? A resposta é negativa em ambas as frentes, mas dará uma grande ajuda para setembro e outubro. É sempre importante salientar que é uma decisão importante para a região algarvia ou não tivesse este mercado emissor de turistas para Portugal, em 2019, representado 20% total do bolo.
Em declarações à SIC Notícias, Elidérico Viegas, Presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), explica a sua importância para a economia da região: além destes turistas representarem 1/3 das dormidas do Algarve, são aqueles mais dinheiro gastam.
Não obstante, já se sabe que até mesmo as boas notícias não estão dispensadas de críticas, pelo que a abertura "destes corredores" não é exceção. E, nesse sentido, tanto a Confederação do Turismo como a Associação hoteleira algarvia (AHETA), reportam que a decisão é "boa", mas que peca por tardia. O mesmo pregam os empresários da região: será bom para setembro, mas "já não vem salvar muita coisa em termos de verão", pois quem tem férias marcadas para outros locais não vai desmarcar à última da hora para ir para o Algarve.
"É uma grande notícia para aqueles que a esperavam"
Marcelo Rebelo de Sousa referiu várias vezes que "a grande notícia" é importante não só para os portugueses a residir em Inglaterra, mas também para aqueles que a esperavam e que "vão ver agora satisfeita essa possibilidade, que é o caso do Algarve, de ver nos meses de setembro e outubro muitos britânicos a passarem aqui as suas férias".
O Turismo do Algarve é só uma dessas identidades. É que "há muito tempo" que esperavam por ela, mas também porque se fez "justiça" ao esforço do país para conter a pandemia de covid-19. Contudo, realça que a medida poderá só ter efeitos em setembro, com, altura em que coincide com a época alta de golfe, altura em que a região recebe o Portugal Masters. E depois em outubro, como qualquer fã das competições de automobilismo e motociclismo bem sabe, há Fórmula 1 e MotoGP.
No entanto, como salienta o comunicado do MNE, há que ter em conta a "particular relevância" desta decisão, pois não só está em causa os emigrantes que vão para o Algarve e outras regiões, mas também os "mais de 300 mil portugueses que residem no Reino Unido", bem como para os "mais de 30 mil britânicos que escolheram Portugal para viver". Isto é, não se trata de uma decisão que visa em exclusivo o turismo, mas que pesa na atividade profissional, intercâmbio académico ou motivos pessoais.
Em suma, a notícia que todos queriam é agora uma realidade que chegou como um balão de oxigénio importante, potencialmente revitalizador, mas que foi anunciada mais tarde do que o desejado. Especialmente para o sul do país, que viu o número de desempregados inscritos em junho, nos centros de emprego do Algarve, subir 231,8% em relação ao mesmo mês do ano passado.
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