Henrique Gouveia e Melo é provavelmente o Henrique mais famoso da Armada desde que infante andou a navegar mar fora. Henrique Gouveia e Melo, o vice-almirante, vai regressar ao anonimato das funções militares que já tinha, “que é como deve ser”, disse hoje, na despedida da “task-force” para a vacinação, o grupo de trabalho que liderou a imunização contra a covid-19 em Portugal.

A “Força Tarefa”, como lhe chama a Marinha, terminou hoje a sua missão de planificação e gestão do processo de vacinação contra a covid-19.

À margem da sessão em que foi anunciado o fim da missão da equipa coordenadora do processo de vacinação, o vice-almirante Gouveia e Melo agradeceu e resumiu os oito meses de trabalho: “O balanço é agradecer à população portuguesa por ter contribuído para o processo de vacinação, agradecer aos profissionais de saúde, entre eles, os enfermeiros, mas todos os outros, os auxiliares, e a todo o Ministério da Saúde, com todos os seus organismos”, disse o vice-almirante aos jornalistas, na sede da ‘task force’, em Oeiras, distrito de Lisboa.

“Julgo que temos de estar todos contentes por termos em conjunto feito uma coisa que vai ficar na história e agora vou-me despedir e vou voltar ao anonimato das minhas funções militares que é como deve de ser. Muito obrigado por tudo”, declarou Henrique Gouveia e Melo.

A ‘task force’ do plano de vacinação contra a covid-19 foi criada em novembro de 2020, cerca de um mês antes do arranque do plano de vacinação. Henrique Gouveia e Melo, um submarinista com mais de quatro décadas de vida militar, assumiu a liderança da estrutura que já integrava, após a demissão do coordenador Francisco Ramos e numa altura em que o país tinha poucas vacinas e cerca de 2% da população vacinada — muito longe da meta de 85% agora quase atingida.

Iniciado a 27 de dezembro de 2020, os primeiros meses do plano de vacinação para combater o vírus SARS-CoV-2 "foram inseguros e cambaleantes, originando uma descredibilização, por parte da opinião pública, em grande parte devido aos inúmeros casos de suposta vacinação indevida", avança o documento do grupo de trabalho que vai ser publicado na Wikipédia sobre a organização e estratégia desenvolvida desde fevereiro.

Depois, tudo mudou: dos processos às resistências. O grupo de trabalho teve de lidar com um fornecimento errático das farmacêuticas; com novas regras sobre vacinas específicas; e com reivindicações de vários grupos. Foi preciso contornar e equilibrar a vacinação no território como um todo, revela o documento. E aí reside talvez a chave do sucesso: a resistência às interferências.

"Este sucesso, contudo, não seria possível sem a adesão massiva por parte da população portuguesa a este processo de vacinação. Portugal, com larga tradição em campanhas de vacinação, demonstrou ao mundo que possui uma sociedade com maturidade, esclarecida e que confia na ciência", conclui o mesmo documento.

António Costa destacou o “render da guarda” na evolução que se segue em termos de esforço de vacinação dos portugueses. Agora, a coordenação do processo de vacinação contra a gripe sazonal vai ser liderada pelo coronel do exército Carlos Penha Gonçalves, coadjuvado por uma equipa com mais oito elementos, representativos dos três ramos das Forças Armadas. É um novo grupo de trabalho, anunciado pelo até agora coordenador da “força tarefa” da vacinação contra a covid-19.

Carlos Penha Gonçalves é também médico veterinário e já integrava a ‘task force’ da vacinação, tendo a seu cargo o Núcleo de Normas e Simplificação. Os oito elementos que o acompanham neste processo, cujo fim está previsto para 15 de dezembro, pertenciam igualmente à equipa anteriormente liderada por Gouveia e Melo.

Portugal iniciou na segunda-feira a vacinação contra a gripe sazonal, numa fase de transição em que a este processo vacinal se soma a administração da terceira dose da vacina contra a covid-19 a determinadas faixas da população.

Da Ínclita geração à geração coronavírica, são uns bons anos, mas a equipa liderada por Gouveia e Melo foi capaz de ultrapassar os percalços iniciais da vacinação em Portugal e pôr o país no topo dos índices mundiais. Portugal, no princípio de 2021, era o país onde a covid-19 mais estragos fazia; agora, é aqui que vêm os exemplos dos cidadãos que se vacinam e dos profissionais que tornam o ato possível.