Numa altura em que as famílias portuguesas aprimoram a ginástica numérica e ultimam as combinações para passar da melhor maneira o seu Natal dentro de cinco dias, surge a notícia de que em Londres há novo confinamento devido a uma nova estirpe do coronavírus encontrada em Inglaterra. Alguns países europeus já fecharam as suas fronteiras com aquele país, levando a que os representantes dos estados-membros da União Europeia reúnam de emergência por videoconferência nesta segunda-feira para abordar o assunto. Portugal já informou que só vai permitir a entrada de portugueses e com teste negativo de voos provenientes do Reino Unido.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, reuniu com o gabinete de especialistas e foi obrigado no sábado à noite a modificar os planos para o Natal. Feita a comunicação à nação, ficou a saber-se que Londres e o sudeste da Inglaterra subiram para o nível de risco para o 4 — grave —, o que levou ao encerramento das lojas que vendem produtos não essenciais, ginásios, teatros, cinemas.
O que se sabe até ao momento é que esta nova variante do SARS-CoV-2 acelera a transmissão do vírus em até 70% e parece responsável pelo aumento preocupante das infeções em Londres e em vários condados do sudeste e leste da Inglaterra — só hoje foram registados praticamente 36.000 novos casos. Porém, não existem ainda provas de que esta estirpe seja mais letal, mais grave na doença ou que possa ter impacto na eficácia das vacinas desenvolvidas.
Contudo, a notícia fez soar o alarme em vários países e levou a que algumas nações fechassem as portas a viajantes oriundos do Reino Unido. Estes são aqueles que países que suspenderam as ligações aéreas:
- Países Baixos
- Itália
- Bélgica
- Bulgária
- Israel
- Áustria
- França (nas próximas 48 horas)
A vizinha Espanha pediu mesmo à Comissão Europeia e ao Conselho Europeu uma resposta conjunta à situação. E deixou o aviso: se assim não for, haverá resposta unilateral. Até os meios de comunicação irlandeses dão conta de que a Irlanda também vai impor restrições a voos e ferry provenientes de Inglaterra. O mesmo anúncio será esperado da Alemanha já às 00h00 de hoje, até 6 de janeiro.
Assim, os Estados-membros da União Europeia vão reunir-se de emergência amanhã de manhã para discutir a coordenação dos 27 na resposta a esta estirpe. Todavia, numa reunião ocorrida esta tarde, fontes precisaram à agência Lusa que a suspensão de viagens e a introdução da obrigatoriedade de realização de testes estão em cima da mesa. Ou seja, a Inglaterra começa a ficar cada mais isolada.
Por cá, uma fonte do gabinete de imprensa do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) fez saber que, até ao momento, ainda não há registo de que esta estirpe tenha sido encontrada no país.
"O Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge tem vindo a desenvolver, desde o passado mês de abril, um estudo de âmbito nacional sobre a variabiliade genética do SARS-CoV-2 em Portugal, através da análise do genoma deste novo coronavírus. De acordo com os resultados obtidos até ao momento, ainda não foi identificada em Portugal a nova variante genética detetada a circular numa região do Reino Unido", avançou à agência Lusa.
Outra questão que se coloca nesta altura é se a vacina da Pfizer que chegará em breve a Portugal será suficiente ou ainda é eficaz na proteção à nova estirpe do coronavírus. Sobre esta questão, o virologista Pedro Simas, do Instituto de Medicina Molecular de Lisboa, considera ser "pouco provável" que a nova estirpe tenha "impacto gigantesco" na vacina. No entanto, apesar da incerteza, o especialista enfatiza que "se as pessoas usarem máscara e respeitarem as regras de distanciamento tanto faz que a estirpe seja mais transmissível ou não, porque as medidas funcionam na mesma".
O virologista, à agência Lusa, defendeu ainda que "é preciso ter alguma prudência da divulgação destas notícias" porque "se do ponto de vista da saúde das pessoas, estas estirpes que aparecem são menos virulentas", por outro lado "é mau porque quanto mais infeções houver mais probabilidade há de infetar os grupos de risco que poderão desenvolver doença grave".
Por agora, esta é a informação que se sabe. Mas se há algo que os últimos meses ensinaram é que quando se trata do novo coronavírus basta apenas algumas horas para que tudo fique desactualizado e novos factos e evidências sejam apresentados. Resta aguardar.
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