O Papa Francisco inicia esta domingo uma visita de seis dias ao Canadá. Esta será “uma peregrinação penitenciária” pelos abusos que os indígenas sofreram nos internatos católicos durante os séculos XIX e XX. O termo, que rotula a viagem, foi proferido pelo próprio na oração do Angelus de 17 de julho.
O que está em causa?
Entre o final do século XIX e 1997, os Governos canadianos confiaram a instituições católicas, anglicanas e protestantes a educação de crianças indígenas, que foram retiradas das suas casas sem autorização dos seus pais, tendo sido proibidas de usar os seus nomes, a sua língua e as suas tradições.
Estima-se que, entre 1890 e 1997, cerca de 150.000 crianças indígenas tenham sido internadas à força em centenas de residências escolares e que cerca de 4.000 menores tenham morrido devido às condições insalubres em que viviam.
No ano passado, foram descobertos os restos mortais de 215 crianças, estudantes da Kamloops Indian Residential School, na província de British Columbia, que reviveu a tragédia dos povos originários do Canadá e do seu pedido de justiça.
A mensagem do Papa Francisco
Pouco antes da partida, pelas 09h16 de Roma (menos uma em Lisboa), o Papa deixou uma mensagem no Twitter: “Queridos irmãos e irmãs do Canadá, vou até vós para encontrar os povos indígenas. Espero que, com a graça de Deus, a minha peregrinação penitencial possa contribuir para o caminho de reconciliação já empreendido. Por favor, acompanhem-me com a oração".
Antes, há cerca de uma semana, através da janela do Palácio Apostólico, após a recitação da oração do Angelus, o pontífice dirigiu-se aos canadianos. “Infelizmente, no Canadá, muitos cristãos, incluindo alguns membros de institutos religiosos, contribuíram para a política de assimilação cultural que, no passado, prejudicou seriamente as comunidades nativas de diferentes maneiras”, reconheceu, acrescentando então que esperava que a viagem pudesse “contribuir para o caminho da cura e da reconciliação já empreendido”.
O Papa recebeu, em abril, no Vaticano, alguns membros dessas comunidades, a quem expressou a sua “dor e vergonha pelo papel que vários católicos desempenharam, particularmente os que tinham responsabilidades educacionais”.
A agenda
Esta viagem será a 37.ª viagem internacional do Papa Francisco, o segundo Papa a visitar o Canadá (João Paulo II visitou o país por três vezes: 1984, 1987 e 2002). Será também a primeira de Francisco desde que ficou com a saúde mais debilitada e com dores num joelho, situações que levaram à suspensão das visitas ao Sudão do Sul e à República Democrática do Congo.
Na agenda, até dia 29 de julho, o Papa tem nove intervenções previstas: quatro discursos, quatro homilias e uma saudação a representantes de povos indígenas.
Entre elas destaca-se a cerimónia religiosa, marcada para o dia 28, no Santuário de Santa Ana de Beaupré, no Quebeque, com a participação especial de comunidades indígenas.
A basílica de Santa Ana de Beaupré é um dos locais de peregrinação mais antigos e populares da América do Norte, que atrai mais de um milhão de pessoas por ano. A organização estima que a missa conte com a presença de 10 a 15 mil pessoas, dentro e fora da basílica, sendo que 70% dos lugares estão reservados para representantes das comunidades indígenas.
Francisco visitará também a cidade de Quebeque e Igaluit, a capital do território de Nunavut, uma cidade do extremo norte do Canadá no arquipélago ártico.
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