Com uma aparência emaciada, rosto pálido e vestidos com roupas sujas, cerca de 20 moradores da cidade ucraniana de Avdiivka emergem dos porões para recolher pacotes de alimentos distribuídos nas caves de um edifício.
Nenhum deles presta atenção às explosões incessantes que ressoam nesta localidade próxima a Donetsk e sob fogo constante das forças russas.
Carregando caixas do Programa Mundial de Alimentos, retornam lentamente aos seus abrigos subterrâneos, onde vivem sem eletricidade, gás, ou sequer água, mas protegidos dos bombardeamentos.
Vitali Barabash, administrador militar da cidade, descreve à AFP os ataques russos ininterruptos. "A partir das 7:15, começaram a bombardear com foguetes Grad", conta, e enumera os ataques da manhã. Muitos edifícios estão destruídos, sem vidros nas janelas, alguns enegrecidos.
Num porão perto do ponto de distribuição, Svitlana, de 74 anos, compartilha um quarto frio com outras cinco mulheres e dois homens, todos idosos. Antes da guerra, viviam nos andares superiores.
As camas estão cobertas com colchas grossas e sacos de dormir. Numa parede, uma lanterna conectada a uma bateria fornece o mínimo de iluminação.
"É muito difícil... [Os voluntários] afirmam que devíamos ir embora, evacuar, mas para onde? Somos velhos demais, o que podemos esperar de um lugar novo? [...] Este é o nosso porão", explica Svitlana à AFP.
Num quarto vizinho, há uma pequena fogueira que Mycola alimenta com galhos que retira de um pequeno monte de lenha. Duas explosões ressoam do lado de fora. "Quem sabe o que era? Diria que artilharia, ou talvez morteiros", assinala o homem, já acostumado aos sons da guerra.
Para Svitlana, "a esperança é tudo o que temos. A maioria está doente, como toda a gente aqui", lamenta.
Quando o conflito começou na Ucrânia em 2014, Avdiivka foi tomada pelos separatistas, antes de ser reconquistada pelas forças de Kiev. Devido à sua proximidade com a linha de frente, trata-se de um dos pontos quentes desde que a ofensiva russa começou em 24 de fevereiro.
Nos últimos meses, a cidade converteu-se, junto com Bakhmut, num dos cenários de combates mais complicados da frente de batalha.
No norte de Avdiivka, os russos e as forças separatistas da região de Donetsk bloquearam em junho uma das duas principais vias de acesso à cidade.
Também estão posicionados no leste e no sul, onde, nos últimos dias, forçaram as tropas ucranianas a retroceder.
"As nossas tropas retiraram-se [da localidade] de Vodyan [...] porque era absolutamente impossível manter as mesmas posições de antes", explica Vitali Barabash.
O responsável militar de Avdiivka garante que Moscovo acaba de enviar para a cidade tropas do exército regular, que têm "mais treino" do que as separatistas.
Na sua esquadra transformada em bunker, o oficial de polícia de Avdiivka, Rasim Rustamov, acredita que a situação é "verdadeiramente difícil". "Somos alvos constantes de bombardeamentos. Todos os civis estão em perigo", garante.
Entre aqueles que esperam para conseguir um cabaz de comida reina a resignação, como no caso de Lyudmyla, de 62 anos. Ao ser questionada sobre como planeia passar o inverno em Avdiivka, responde: "A primavera vai chegar. Connosco ou não, mas vai chegar".
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