Desde 2011 que os EUA não enviavam um voo tripulado para o espaço, ano que marcou o final das missões do programa Space Shuttle, mas este é o primeiro a ser feito por uma empresa privada. A responsável pelo lançamento é a SpaceX, start-up formada em 2002 pelo magnata Elon Musk, também ele criador dos carros elétricos Tesla.

O lançamento do foguetão Falcon 9 com a cápsula Crew Dragon da SpaceX está a ser comandado pelos astronautas da NASA Bob Behnken e Doug Hurley, que estão de quarentena devido à covid-19 há duas semanas.

Os dois descolaram para uma viagem de 19 horas rumo à Estação Espacial Internacional a partir da histórica plataforma de lançamento 39A, como a Apollo 11 que foi à Lua em 1969, às 15:22 (hora local, 20:22 em Lisboa). Segundo a SpaceX a cápsula Dragon Crew está na órbita certa para chegar à estação espacial.

É esperado que Behnken e Hurley cheguem amanhã à Estação Espacial Internacional, onde ficarão por quatro meses até regressar à Terra.

A primeira parte do foguetão desprendeu-se como planeado após dois minutos de voo, a quase 4.000 quilómetros por hora, enquanto a segunda continuou a impulsionar a cápsula Dragon. Entretanto essa primeira parte do Falcon 9 a desacopular-se da cápsula, o foguete reforçador, aterrou com sucesso numa plataforma no Oceano Atlântico.Este passo foi também bastante importante, já que esta componente é reutilizável.

Operação feita em colaboração com a NASA, o objetivo desta missão é que a agência espacial norte-americana possa enviar os seus astronautas para a Estação Espacial Internacional em voos comerciais a partir dos Estados Unidos e não da Rússia, como acontece desde 2011.

O lançamento "foi incrível", disse Donald Trump, que assistiu à operação no Kennedy Space Center, acompanhado pelo administrador da NASA, Jim Bridenstine, e pelo diretor do Centro Espacial Kennedy, Bob Cabana.

Na passada quarta-feira, 27 de maio, foi inaugurada uma primeira tentativa de lançamento, mas acabou por ser adiada para hoje devido à falta de condições climatéricas.

Durante este sábado, tanto a SpaceX como a NASA mantiveram-se otimistas quanto à tentativa de lançamento, apesar das ameaças de mau-tempo.

Os gestores do SpaceX e da NASA monitorizam o tempo não só no Kennedy Space Center, mas em toda a costa leste dos Estados Unidos, e através do Atlântico Norte até à Irlanda, porque as ondas e o vento têm de estar dentro de certos limites caso os astronautas tenham de fazer um ‘splashdown’ (aterragem na água) de emergência a caminho da espaço.

"O problema, claro, na Florida, em maio, é que haverá trovoadas. Isso é verdade hoje, como provavelmente será todos os dias em maio e no início de junho aqui", disse o administrador da NASA Jim Bridenstine à agência de notícias The Associated Press, quando os relógios de contagem decrescente atingiram a marca das cinco horas.

"Parece que temos aqui uma hipótese de 50-50 e vamos a isso", acrescentou.

A contagem decrescente na última quarta-feira foi interrompida quando faltavam menos de 17 minutos, devido à ameaça de relâmpagos. "O Falcon/Dragon foram concebidos para resistir a múltiplos relâmpagos, mas não nos parece sensato correr este risco", disse Elon Musk, o chefe executivo e fundador do SpaceX.

Hurley e Behnken referiram na sexta-feira que já sofreram vários atrasos em voos de vaivém espacial, tanto por razões técnicas como meteorológicas. Hurley disse que a sua primeira missão foi adiada cinco vezes no decurso de um mês. A segunda missão foi o último voo de vaivém espacial da NASA, em julho de 2011, a última vez que os astronautas se afastaram do solo nacional.

Bridenstine disse que os dois astronautas lhe garantiram que estão "prontos para partir".

"Eu estaria a mentir-lhe se lhe dissesse que não estava nervoso […]. Queremos fazer tudo para minimizar o risco, minimizar a incerteza, para que Bob e Doug fiquem em segurança", disse Bridenstine à AP.

A NASA tentou desencorajar os espetadores a assistirem ao lançamento, por causa da pandemia de covid-19, e limitou severamente o número de funcionários, visitantes e jornalistas dentro do Kennedy Space Center. No entanto, na nova paragem turística reaberta do centro, os 4.000 bilhetes para o lançamento foram todos comprados em poucas horas.

De manhã cedo, os espetadores começaram a percorrer as praias e estradas da zona.

A NASA contratou a SpaceX e a Boeing, em 2014, ao abrigo de contratos que totalizam sete mil milhões de dólares. Ambas as empresas lançaram as suas cápsulas de tripulação no ano passado com manequins de teste. O SpaceX's Dragon cumpriu todos os seus objetivos, enquanto a cápsula Starliner, da Boeing, acabou na órbita errada e quase foi destruída devido a múltiplos erros de software.

Como resultado, o primeiro voo do Starliner com astronautas não é esperado até ao próximo ano.

Desde que retirou o vaivém espacial em 2011, a NASA tem confiado nas naves espaciais russas, lançadas do Cazaquistão, para levar os astronautas americanos de e para a estação espacial.

Para além significar a primeira missão em nove anos para os EUA, esta viagem representará um momento histórico para Musk se ficar provado que os seus foguetões reutilizáveis são viáveis. Se assim for, as viagens espaciais passarão a ser menos caras e poderá significar a possibilidade de fazer do turismo espacial uma possibilidade.

[Notícia atualizada às 20:31]