“A vitória será nossa!”, gritou o Presidente russo, sob os aplausos de uma multidão de vários milhares de pessoas.
“Bem-vindos a casa!”, declarou Putin, dirigindo-se a habitantes dos territórios ucranianos anexados, considerando que estes tinham “regressado à sua pátria histórica”.
“A Rússia não abre só as portas de sua casa às pessoas, ela abre o seu coração”, afirmou ainda, num palco especialmente instalado na emblemática praça junto ao muro do Kremlin (sede da Presidência russa).
Entre a multidão presente, muitas bandeiras russas eram brandidas, e algumas pessoas ostentavam também as fitas de São Jorge, com riscas negras e laranja, uma antiga decoração militar czarista que se tornou um símbolo da vitória do Exército Vermelho sobre a Alemanha nazi.
Vários ecrãs gigantes e um forte sistema de som foram igualmente instalados para permitir às pessoas acompanhar o discurso do Presidente russo e a atuação de várias estrelas da música russa que se apresentaram em palco.
O chefe de Estado russo, no poder há 22 anos, evocou “um dia especial, histórico, de verdade e de justiça”, numa altura em que os soldados russos, segundo ele, “defendem heroicamente a escolha das pessoas” na Ucrânia.
“Faremos tudo para apoiar os nossos irmãos e irmãs em Zaporijia, Kherson, Lugansk e Donetsk, para aumentar a sua segurança, relançar a economia, reconstruir”, afirmou também, algumas horas após ter assinado a anexação dessas quatro regiões ucranianas, numa cerimónia no Kremlin.
Após esse simbólico ato no Kremlin, que representou um novo passo na sua guerra contra a soberania e integridade territorial do país vizinho, Putin defendeu, de microfone em riste, o seu mantra de que a Rússia criou a Ucrânia moderna.
“Não posso deixar de recordar como se formou a União Soviética. Foi a Rússia que criou a Ucrânia moderna, transferindo territórios significativos para lá, os territórios históricos da própria Rússia, juntamente com a população”, disse Putin.
“Ficamos mais fortes, porque estamos juntos. A verdade está connosco, e na verdade há força” declarou Putin, acrescentando de novo: “Então, a vitória será nossa!”.
Kiev e os seus aliados ocidentais condenaram amplamente tal anexação, tendo-a a NATO (Organização do Tratado do Atlântico-Norte, o bloco de defesa ocidental) classificado como “ilegítima”, ao passo que os países da União Europeia (UE) e do G7 (grupo dos países mais industrializados do mundo: Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido) declararam que “nunca reconhecerão [tais] alegadas anexações”.
Segundo o porta-voz do Kremlin, Putin não tenciona, por enquanto deslocar-se às quatro regiões ucranianas agora anexadas por Moscovo, em pleno conflito militar com Kiev.
“Por agora, não, porque neste momento há muito trabalho pela frente, mas tal acontecerá certamente dentro de algum tempo”, disse Dmitri Peskov, citado pelas agências noticiosas russas e questionado sobre a hipótese de tal visita.
As quatro regiões ucranianas ocupadas cujos tratados de anexação Putin hoje assinou correspondem a cerca de 15% do território da Ucrânia – Donetsk e Lugansk (que já reconhecera como repúblicas independentes pouco antes de invadir a Ucrânia), Kherson e Zaporijia (onde se situa a maior central nuclear da Europa).
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas — mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,5 milhões para os países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa — justificada por Putin com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra, que hoje entrou no seu 219.º dia, 5.996 civis mortos e 8.848 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
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