No início do plenário desta quinta-feira, no âmbito da discussão sobre a inclusão no ensino superior, a deputada do Chega Diva Ribeiro acusou Ana Sofia Antunes, ex-secretária de Estado da Inclusão e deputada do Partido Socialista (PS), de só contribuir na Assembleia com assuntos que incluam o tema da deficiência. As palavras de Diva Ribeiro foram muito contestadas pelas bancadas parlamentares à esquerda e à direita.

Além disso, de acordo com o jornal Expresso, não foram captados pelos microfones de gravação da sessão os insultos vindos da bancada do Chega. “Aberração”, “não sei quê da esquina” e “drogada” foram algumas das palavras gritadas.

Ana Sofia Antunes reagiu hoje ao insulto, que considera "redutor e diminuidor", lembrando que no seu percurso foram vários os momentos em que se focou na defesa dos direitos das pessoas com deficiência e, por isso, reserva o direito de intervir sobre o tema "as vezes que entender e o que o partido achar que o deve fazer".

No entanto, nota que, nos últimos tempos, foram mais as vezes que comentou sobre outros temas, do que sobre deficiência, desde "segurança, migrações, nacionalidade, assuntos europeus e uma vez ainda sobre o direito dos idosos". E, por isso, a acusação do Chega é "mentira". Acrescenta que "no PS, somos livres e intervimos sobre aquilo que entendermos e sobre qual temos competências".

O secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, sublinhou, em reação à situação, que o partido “não vai compactuar com o desrespeito” do Chega. Na rede social X, condenou as declarações de Diva Ribeiro, que descreveu como um "desrespeito" não só ao PS, mas "aos portugueses, ao Parlamento e à democracia".

Marina Gonçalves, vice-presidente da bancada socialista e antiga ministra da Habitação, foi a primeira a reagir às declarações da deputada do chega, no parlamento. Dirigindo-se a Diva Rodrigues, referiu que as suas palavras representavam "uma ofensa à honra da bancada parlamentar, que tem deputados sérios, que todos os dias trabalham em prol das populações, que não vêm para aqui fazer acusações".

Também Alexandra Leitão comentou a situação, que lamenta como um caso de "bullying". A discussão levou a líder parlamentar do PS a exigir que "o ambiente de violência verbal, de provocação, de intimidação que se vive na Assembleia da República" acabe e a dizer "basta".

Também do PS, Lia Ferreira, deputada com portador de deficiência, deixa a sua palavra de solidariedade com a colega Ana Sofia Antunes: "É um prazer estar aqui, apesar de ter deficiência e de estar a falar de um tema que, precisamente, vem dar voz às pessoas com deficiência, em voz própria". Fala em seu nome e dos colegas "Pedro e Ana Sofia, [...] por todos e todas vós".

E, sobretudo, deixa claro que o objetivo do parlamento deve ser o de "estimular a diversidade nesta casa da democracia" e acompanhar os deputados "neste desafio de empoderar, de respeitar, para que as pessoas com deficiência tenham a capacidade de chegar aos órgãos de comunicação não por terem alguma visibilidade, não por serem vítimas, mas por serem respeitadas pela sua capacidade de trabalho nas suas áreas".

À deputada juntaram-se mais vozes do Bloco de Esquerda e do Partido Social Democrata, como Joana Mortágua, coordenadora do BE, que revelou que a bancada do Chega de dizer outras coisas “em off”, igualmente prejorativas.

A deputada do BE acusa ainda Rita Matias, do Chega, de provocar a bancada socialista.“A vozearia é constante. No meio da vozearia há vários insultos, entre eles o de aberração, que nós nem percebemos a qual das deputadas do Partido Socialista da primeira fila é que se dirigem. Quando a deputada Lia Ferreira [que apresentou o projeto do PS] acabou de falar, a Rita Matias continuava a dizer ‘vamos ver se te põem a falar para o mês que vem’”, relata ao Expresso.

Da oposição, Hugo Soares, líder da bancada parlamentar do PSD, disse que a intervenção de Diva Ribeiro “ultrapassa o bom senso, a educação, a urbanidade e a dignidade que a Câmara exige”.

O PS pediu a defesa da honra e fez, entretanto, saber que irá levar o tema à Conferência de Líderes.