Graça Freitas: "Creio que não vai ser difícil para as creches cumprirem estas orientações"

Este artigo tem mais de 3 anos
O secretário de Estado da Saúde revelou durante a conferência diária sobre o balanço da pandemia em Portugal que o primeiro estudo para monitorizar a evolução da imunidade "já está em curso". Por seu turno, Graça Freitas parece não ter grandes dúvidas de que as creches deverão conseguir cumprir as normas e indicações reveladas esta quarta-feira.

Portugal regista hoje 1.175 mortes relacionadas com a covid-19, mais 12 do que na terça-feira, e 28.132 infetados, mais 219, segundo o boletim epidemiológico divulgado pela Direção-Geral da Saúde (DSG).

Após efetuar a leitura dos números divulgados no boletim, António Lacerda Sales revelou que desde o dia 1 de março já foram realizados cerca de 566.000 testes e que de 1 a 11 de maio, em média, foram realizados mais de 12.600 testes por dia.

"Estamos, como reconheceu a OCDE, entre os países que mais testes de diagnóstico fazem à covid-19", disse.

O secretário de Estado da Saúde informou também que estão a ser feitos 250 testes por dia nos estabelecimentos prisionais. No entanto, a intenção passa por aumentar essa capacidade no futuro para 450.

Durante a sua intervenção inicial alertou que a epidemia "não acabou" e que "desconfinar não é abrandar".

"A epidemia não acabou, desconfinar não é abrandar. Regresso aos fluxos das nossas vidas não pode e não deve por em causa o caminho que foi feito até aqui com grande sacrifício pessoal de todos os portugueses", afirmou.

O secretário de Estado enfatiza que "nunca é de mais relembrar" que o sucesso "depende de todos e de cada um" e da "capacidade de respeitar o outro e as regras que se aplicam a todos".

Todavia, apesar dos tempos serem únicos e difíceis, o secretário de Estado acredita que há razões para termos esperança.

"Continuamos a dar pequenos passos todos os dias para o regresso da normalização social possível. Casos como o da dona Lurdes, de 96 anos, que regressou a casa curada após três semanas de internamento no Hospital Pedro Hispano, continuam, de facto, a ser sinais de esperança para todos nós", disse.

Evolução da imunidade

O primeiro estudo para monitorizar a evolução da imunidade contra o novo coronavírus na população portuguesa "já está no terreno" e envolve 17 hospitais e 105 postos de colheita.

Trata-se do "primeiro estudo transversal" de covid-19 promovido pelo Instituto Nacional de Saúde - Dr. Ricardo Jorge (INSA) e "visa monitorizar a evolução da imunidade contra o novo coronavírus na população portuguesa", explicou António Lacerda Sales.

Segundo o secretário de Estado, para a realização do estudo, que "está já no terreno", foram já contactados todos os 17 hospitais da rede nacional de hospitais, incluindo os das regiões autónomas da Madeira e dos Açores, e os 105 postos de colheita de análises clínicas em todo o território nacional.

"Os materiais para as colheitas de sangue e os questionários para a recolha de dados serão entregues nos locais até ao início da próxima semana" e depois terá início "a fase de recolha de amostras de sangue e dados", disse.

Todas as análises de sangue para a determinação de anticorpos e a análise de dados serão realizadas pelo Departamento de Epidemiologia e Doenças Infecciosas do INSA.

O inquérito serológico nacional é promovido pelo INSA em articulação com a Direção-Geral da Saúde (DGS) e conta com a parceria da Associação Nacional de Laboratórios Clínicos, dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde e das regiões autónomas.

Reabertura das creches

A Direção-Geral da Saúde publicou esta quarta-feira as orientações que devem ser seguidas pelas creches que reabrem no início da próxima semana. Questionada sobre a viabilidade de algumas das medidas, Graça Freitas respondeu que há coisas que se podem fazer.

"Tentamos conciliar o melhor de dois mundos. Permitir atividades lúdicas aos meninos, mas com regras. Por exemplo, tirar das salas todo o material que não estiver a ser utilizado como brincadeira. Os brinquedos que lá estão serem lavados e desinfetados com frequência ou os meninos não trazerem brinquedos de casa. Ou seja, permitir todas as atividades para o desenvolvimento harmonioso para a manutenção dos afetos daquelas crianças", explicou Graça Freitas.

A diretora-geral da Saúde falou depois de outros momentos das creches — e deu o exemplo do sono em que também foram criadas algumas regras e sobre as quais já recaíram algumas queixas. Porém, sabendo que havia dificuldades com o espaço, foi criada uma "muito simples".

"Se deitarmos os meninos em colchões seguidos como uma determina distância em que as cabeças estejam a uma distância de 1 metro e meio, minimizamos, à partida, o risco de transmissão de gotículas", explicou.

Graça Freitas afirmou também não acreditar que, dentro do possível, não se consiga diminuir o número de meninos nas salas.

"Creio que não vai ser difícil para que as creches cumprirem estas orientações, nomeadamente esta do distanciamento que se tem falado tanto, invertendo de facto as crianças; uma com a cabeça para baixo, a seguinte ao contrário e vice-versa. Vai aumentar a distância das vias respiratórias que é o que nós queremos", rematou.

Quanto a situações de infeção, a diretora-geral da saúde admitiu que poderão surgir casos, até porque, recordou, "muitas crianças são infetadas por um adulto com o qual privam, na família por exemplo".

"Se esse adulto for detetado, obviamente esta criança é colocada em isolamento para que não transmita a doença, mesmo que assintomática", apontou Graça Freitas.

Questionada sobre o ponto de situação de testes à comunidade das creches, nomeadamente educadores e funcionários, a diretora-geral da Saúde disse que "há regiões do país onde a situação está mais adiantada", mas não revelou números porque o rastreio, concluiu, "ainda não terminou".

Arranque da época balnear

A responsável pela direção-geral da Saúde indicou que há muitas instituições que ainda estão a dar os seus pareceres técnicos que têm por base a avaliação do risco (de se ir à praia) e solução. Contudo, "é um trabalho que não está terminado". Pelo menos, "da parte da saúde".

Apelo aos doentes oncológicos 

António Lacerda Sales disse que se houve em 2020, se compararmos com o período homólogo do ano passado, menos de 2.500 doentes oncológicos operados, ou seja, menos 15%. No entanto, o governante frisou que a redução se verificou à custa de cirurgias de prioridade "normal" — situações em que há o tempo máximo de 60 dias para que seja dada uma resposta.

Porém, salientou que, também relativamente a períodos homólogos, se registou um aumento de 7% no caso das cirurgias muito prioritárias. O que considera ter sido natural, uma vez que havendo redução de cirurgias normais, abriu-se espaço para a realização das mais urgentes.

A radioterapia também viu uma redução de 10%. Contudo, esta foi "inferior em relação a outras áreas de diagnóstico e terapêutica".

O secretário de Estado apelou também aos doentes oncológicos para que não tenham medo ou receio de irem fazer os seus tratamentos porque os circuitos estão "perfeitamente diferenciados" e as condições de segurança "são muito boas".

"Às vezes as consequências de uma cirurgia que não se realiza [são piores] do que a questão neste momento da covid-19. Os serviços e o SNS está preparado para os acolher e para os operar", afirmou.

Quanto às queixas de que as consultas estão a ser adiadas, António Lacerda Sales disse que se está a retomar a atividade de uma forma gradual e que estas terão que ser restabelecidas o mais brevemente possível. Porém, salienta que houve uma preocupação acrescida relativamente à oncologia.

Relativamente aos relatos de que há hospitais privados a cobrar o pagamento de equipamentos de proteção individual, o governante indica que se trata de uma matéria que o SNS e Ministério da Saúde não interfere nem se vai pronunciar.

Há mais de 3.000 profissionais de saúde infetados

O secretário de Estado da Saúde revelou que há 3.183 profissionais de saúde infetados com o novo coronavírus, responsável pela covid-19, entre os quais 477 são médicos e 838 enfermeiros.

Somam-se 774 assistentes operacionais, 152 assistentes técnicos e 107 técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica infetados. António Lacerda Sales também revelou que os dados acumulados apontam para 658 profissionais de saúde recuperados.

O governante, que aproveitou esta atualização para agradecer a colaboração dos técnicos e profissionais de diagnóstico e terapêutica, apontou que estes passarão "a ser incluídos nas atualizações" diárias.

"Aproveito para fazer um agradecimento porque têm estado na linha da frente no combate a esta pandemia. A todos os técnicos e profissionais de diagnóstico e terapêutica o nosso muito obrigada", disse António Lacerda Sales.

Este agradecimento e atualização relativamente a números de infetados pelo novo coronavírus surge um dia depois dos profissionais das áreas de diagnóstico e terapêutica terem acusado o Ministério da Saúde de desrespeito pela classe e terem avançado que ponderam pedir uma audiência urgente ao primeiro-ministro.

80 a 85% dos infetados apresentaram sintomatologia ligeira a moderada

Entre 80 a 85% das pessoas que testaram positivo covid-19 apresentaram sintomatologia muito ligeira a moderada, tendo permanecido no domicílio sem agravarem o seu estado e sem terem de recorrer ao hospital.

"Todas aquelas pessoas que temos referido que ficaram em vigilância e observação domiciliária correspondem aquelas que tiveram sintomatologia ligeira a moderada. Foi possível permanecer em domicílio. 80 a 85% tiveram sintomatologia muito ligeira a moderada", disse Graça Freitas.

A diretora-geral da Saúde, que respondia a uma pergunta sobre que percentagem de infetados que não manifestaram sintomas clinicamente valorizáveis, referiu que foram "encontrados casos positivos em pessoas que nem chegam a apresentar sintomas", uma situação, acrescentou, "como aliás está a ser comunicada e a acontecer no mundo todo".

"Não foram frequentes os casos que agravaram essa sintomatologia e foram encaminhados ao hospital", referiu a diretora-geral da Saúde.

Graça Freitas também foi hoje questionada sobre o documento que define regras para a reabertura da época balnear, tendo confirmado que “muitas instituições estão a dar o seu parecer técnico".

"Temos de ter em conta duas circunstâncias: a avaliação do risco que a atividade balnear contém e a proposta de soluções. Por parte da saúde essa parte ainda não está terminada", disse.

Já o secretário de Estado da Saúde, quando confrontado com o facto da Autoridade de Saúde Regional dos Açores ter anunciado que já começou a testar alunos e professores de cinco ilhas, estando em causa o regresso às escolas, disse que para o território continental “não há uma decisão definitiva sobre essa matéria”.

"A região tem autonomia política e administrativa e, portanto, a região deve tomar as medidas que achar necessárias (…). Estamos ainda a estudar essa matéria [de fazer no território continental]. Não há uma decisão definitiva sobre essa matéria", disse António Lacerda Sales.

Onde posso consultar informação oficial?

A DGS criou para o efeito vários sites onde concentra toda a informação atualizada e onde pode acompanhar a evolução da infeção em Portugal e no mundo. Pode ainda consultar as medidas de segurança recomendadas e esclarecer dúvidas sobre a doença.

Quem suspeitar estar infetado ou tiver sintomas em Portugal - que incluem febre, dores no corpo e cansaço - deve contactar a linha SNS24 através do número 808 24 24 24 para ser direcionado pelos profissionais de saúde. Não se dirija aos serviços de urgência, pede a Direção-Geral da Saúde.

Porque o seu tempo é precioso.

Subscreva a newsletter do SAPO 24.

Porque as notícias não escolhem hora.

Ative as notificações do SAPO 24.

Saiba sempre do que se fala.

Siga o SAPO 24 nas redes sociais. Use a #SAPO24 nas suas publicações.

Veja também

 

Comentários

Entre com a sua conta do Facebook ou registe-se para ver e comentar
mookie1 gd1.mookie1