Na conferência de imprensa tida na sede da Direção-Geral da Saúde, Marta Temido disse que o Serviço Nacional de Saúde tem em entrega "batas, toucas e luvas, máscaras cirúrgicas e máscaras FFP2", referindo que "só hoje serão recebidas 3 milhões máscaras cirúgicas e 400 mil máscaras FFP2”.
A responsável voltou a insistir que as máscaras são para quem tem sintomas ou trabalhe em instituições de saúde, mas elencou um conjunto de exceções, a começar pelos" doentes imunosuprimidos” e "os profissionais ou as pessoas que possam contactar diretamente com doentes suspeitos ou confirmados de Covid-19 ou com material utilizado por esses doentes”.
Neste grupo inserem-se não só "familiares ou pessoas que têm contacto com doentes", como também quem trabalhe "em unidades específicas, como as estruturas residenciais para pessoas idosas e as unidades da Rede Nacional de Cuidados Continuados e Integrados”
Para além disso, o uso de proteção individual também é recomendado a "elementos das estruturas prisionais no contacto próximo com os reclusos, das forças militares e de segurança quando fazem as fiscalizações dos carros e condutores, ou dos profissionais que trabalham em estabelecimentos de venda de bens de primeira necessidade e estão a atender ao público".
A ministra da Saúde informou também que, perante a "falta de zaragatoas em vários pontos do sistema” que se tem sentido nos últimos dias, vão ser entregues 80 mil zaragatoas e 260 mil testes.
Marta Temido disse ainda que, entre 1 de março e 1 de abril, o último dia para o qual existem dados completos, foram realizados em Portugal 88497 testes de diagnóstico, tendo 53% dos quais sido feitos no setor público e 47% no privado. A ministra da Saúde referiu também que a rede hospitalar e de laboratórios do SNS, que conta com 26 unidades com capacidade de testes, tem feito 6780 testes por dia no setor público e 4190 no privado.
Quanto à capacidade de resposta das unidades de saúde, Marta Temido anunciou a chegada amanhã de 144 ventiladores novos de uma encomenda de cerca de 1500.
“Os primeiros 144 ventiladores novos de uma encomenda de cerca de 1.500 chegam amanhã [domingo], resultado de aquisição e doação”, disse a ministra, lembrando estarem em lista de espera para entrega “1.298 ventiladores invasivo e 140 não invasivos”.
Marta Temido esclareceu que deste total de ventiladores, “alguns correspondem a doações”, desde a EDP, GALP, Comunidade Israelita de Lisboa, e também de particulares, sendo que existem igualmente “compras concretas da administração central do sistema de saúde e algumas de instituições do Serviço Nacional de Saúde que fizeram encomendas especificas”.
“Aquilo que estamos a receber é aquilo que vai sendo disponibilizado para entrega e os 144 ventiladores chegam amanhã. Sabemos que o voo estava a sair do local de origem, podemos ver imagens de embarque e esperamos que tudo chegue de acordo cm as encomendas realizadas”, frisou.
Marta Temido reconheceu ainda que o ministério tem a perceção que o mercado de equipamento, de equipamento de proteção individual e de reagentes “está a funcionar num contexto de grande pressão e enorme agressividade”.
À pergunta do jornalista que questionou sobre os desvios de material que têm ocorrido, a ministra afirmou ter nota da situação, mas manteve a convicção de conseguir “na linha de doação e compra todos os equipamentos em falta”.
Marta Temido garantiu também que a última entrega dos 500 ventiladores estão agendadas “para meados de abril”.
A ministra lembrou ainda estar “empenhada em reforçar os meios humanos ao nível da medicina intensiva”, tendo sido constituída uma Comissão de Acompanhamento da Resposta Nacional em Medicina Intensiva.
Marta Temido deu conta que a comissão será presidida por João Gouveia e terá como vice-presidente José Artur Paiva, e um coordenador para cada região.
A ministra pediu ainda coragem, pois "todos temos medo, mas este é o momento de equilibrar o medo e a coragem”, sendo esta a de "ficar em casa, a de continuar a ajudar os outros desde que devidamente protegidos e de pedir ajuda quando precisamos dela".
Quanto à possibilidade de vir a fazer testes à imunidade de grupo em Portugal, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, disse que vai concretizar-se em conjunto com outros países e que "vão ser efetuados estudos serológicos".
"O Instituto de Saúde Ricardo Jorge está neste momento a entrar numa fase piloto, em estudos, para ver quando é que esses testes podem ser feitos", disse a responsável de Saúde. No entanto, Graça Freitas alertou que "a imunidade é uma coisa que leva tempo a instalar-se" e que "a data de infeção e a data em que o nosso corpo a produzir anticorpos visíveis, há um tempo que temos mesmo de esperar".
Estando a maioria dos doentes em Portugal ainda em "fase de recuperação", a diretora-geral da Saúde alertou que se a análise "for demasiado precoce", pode "ainda não haver anticorpos", pelo que é preciso aguardar pela "data ideal para fazer isso numa amostra da população". Para além disso, vai ser preciso repetir testes para "ver a duração dessa imunidade", já que "o histórico do vírus é muito curto".
Quanto à data limite para a reabertura dos espaços de ensino comunicada pelo primeiro-ministro António Costa — 4 de maio —, a diretora-geral da Saúde foi mais evasiva, dizendo que não há "uma resposta nem uma data simples" a esta pandemia.
De acordo com Graça Freitas, cada uma das medidas implementadas para conter o avanço da pandemia está a ser acompanhada por um grupo de cientistas e académicos para se medir "o impacto dessa medida na redução da doença ou da curva".
“Temos muito trabalho para fazer com as projeções destes académicos para perceber em que altura é que ser útil começar a introduzir alguma normalidade na nossa vida, como será feito, com que gradualidade e como vai ser monitorizado", explicou a responsável.
Por isso mesmo, a evolução da epidemia tem de ser analisada "dia a dia, dado a dado, medida a medida", não sendo ainda claro "em que datas é que podemos retirar algumas medidas de contenção social".
Pouco antes da conferência de imprensa, foi divulgado o boletim de atualização da Direção-Geral da Saúde que dá conta de 266 mortes, mais 20 do que na véspera (+8,1%), e de 10.524 casos confirmados de infeção, o que representa um aumento de 638 (+6,5%), em relação a sexta-feira.
Quanto a estes dados, Marta Temido acrescentou ainda que sabe-se agora que o número médio de casos secundários resultantes de um caso infetado no período de 21 de fevereiro até 16 de março foi de 1,81. Ou seja, "cada pessoa infetada contagiava, em média, pouco menos de duas pessoas, mostra que o surto estava a crescer, mas que estávamos com uma taxa de casos secundários resultantes de um caso resultado inferior ao que já tivemos".
A ministra referiu que as atuais estimativas são positivas mas ainda "sujeitas a um elevado grau de incerteza", pelo que "todos os nossos esforços precisam de continuar” para “reduzir a transmissão”.
A responsável esclareceu ainda que vários dados registados no boletim de ontem — um óbito registado no Alentejo, um óbito no grupo masculino dos 50 aos 59 e um óbito no grupo feminino dos 70 aos 79 — foram corrigidos, sendo que tal decorreu de "terem sido casos que, no resultado laboratorial, na autópsia, tiveram como consequência não ser uma morte associada à Covid-19”.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais 1,2 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram perto de 60 mil.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
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