O objetivo era destronar a liderança socialista no arquipélago. Para isso, o PSD de José Manuel Bolieiro, antigo presidente da câmara de Ponta Delgada, juntou-se num acordo político com o PPM e o CDS-PP, válido para duas legislaturas, e fez acordos de incidência parlamentar com o Chega e o Iniciativa Liberal.
Porém, apesar das críticas ao anterior governo, o novo executivo tem mais um secretário regional e mais um subsecretário regional — cada um destes tem um chefe de gabinete, dois adjuntos e um secretário pessoal, revela o semanário ‘Expresso’. Para além disso, há também mais dois adjuntos e uma secretária pessoal, mais oito diretores regionais ou cargos equiparados, e mais dez técnicos especialistas nos gabinetes dos membros do governo regional que recebem pelo menos o equivalente à remuneração de um adjunto, cerca de 3.300 euros brutos.
O mesmo jornal aponta ainda para cerca de uma dezena e meia de familiares, ligados ao governo ou aos partidos que o compõem, já nomeados para cargos públicos ou em vias de o serem.
O líder do CDS-PP Açores, Artur Lima, que é vice-presidente do governo regional, desvalorizou as estimativas do jornal quando ao acréscimo dos gastos com o executivo de direita. Lima afirmou que “as contas fazem-se no fim” e garante que “no fim vão ver que este governo será mais poupado. Serão feitos cortes em direções de serviços, chefias de divisão, chefias atípicas, cargos criados de nomeação política, etc.”
Todavia, confrontado pelo jornal com o novo cargo de direção do Ecomuseu do Corvo, que até agora não existia, o líder centrista queixa-se da “falta de jornalismo isento e de qualidade em Portugal”. Este cargo, apurou o jornal, deverá ser ocupado por Deolinda Estêvão, casada com Paulo Estêvão, líder e deputado dos monárquicos do PPM nos Açores, que fazem parte da maioria que apoia o executivo de Bolieiro.
Paulo Estêvão e Artur Lima insurgem-se contra a evidência, sublinhando que Deolinda Estevão chegou ao Ecomuseu através de um concurso cujo resultado terá sido conhecido antes da vigência do atual governo. “Isto é difamar as pessoas, isto é jornalismo de pacotilha”, critica o líder regional do CDS-PP.
Este, porém, não é caso único: Catarina Lacerda Martins, que foi nomeada para liderar a Lotaçor —Serviço de Lotas dos Açores no final de janeiro, é casada com o deputado do PSD António Vasco Viveiros. Artur Lima vira a crítica para o governo da República e insiste que não há aqui “crime de lesa-pátria”: “Esta senhora já foi administradora da Lotaçor, tem um currículo para a área, o marido por acaso é deputado.”
A nova diretora regional da solidariedade social, Andreia Vasconcelos, é casada com André Castro, adjunto do secretário regional do ambiente e das alterações climáticas, Nesta mesma secretaria regional, Alvarina Gomes, secretária do secretário regional das finanças, que é mulher do diretor regional do orçamento e tesouro, José António Gomes, que transitou do governo PS.
Contactados pelo ‘Expresso’, quer o PSD Açores, quer José Manuel Bolieiro recusaram prestar declarações ao jornal, que aponta ainda a nomeação de Paulo Nascimento Cabral para chefe de gabinete de José Manuel Bolieirio, sendo irmão de Pedro Nascimento Cabral, o líder parlamentar do PSD Açores.
Vasco Cordeiro, afastado do governo após o acordo de direita na sequência das eleições regionais de novembro, reagiu ao ‘Expresso’ sobre as relações familiares no executivo de José Manuel Bolieiro: “Os compromissos, as declarações públicas e as tomadas de posição do PSD e de outros partidos que integram ou suportam o governo regional, agora são contraditados por esse comportamento e pela tolerância desses partidos”.
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