“Apesar de Portugal ser um caso de sucesso com a vacinação da população com mais de 65 anos, cuja taxa de vacinação é de mais de 75%, noutros grupos etários a vacinação ficou aquém do pretendido”, afirma um conjunto de especialistas em saúde pública, epidemiologia, economia da saúde e ciências comportamentais e clínica que a Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) reuniu num evento para debater a vacinação contra a gripe quando está prestes a arrancar a Campanha de Vacinação Sazonal de Outono-Inverno 2023/2024, a 29 de setembro.
A falta de literacia em saúde foi apontada como uma das maiores causas para os mitos criados em torno das vacinas que, segundo os peritos, “são na sua maioria infundados e criados também em torno de contrainformação”.
“As pessoas mais informadas tendem a ser às vezes mais relutantes à vacinação, pois informação não é conhecimento. Há resistência à vacinação por falta de confiança. No geral as pessoas pensam na carga negativa associada à vacina e não tanto nos benefícios da toma”, afirmam, defendendo ser “importante trabalhar mais, e de forma continuada, na informação dirigida aos receios individuais”.
Segundo os especialistas, “a pandemia de Covid-19 alterou o curso habitual da gripe, mas, infelizmente”, está-se a regressar aos níveis comportamentais pré-pandémicos em termos de percentagens de vacinação, nomeadamente nas populações ativas e nos profissionais de saúde”.
Em declarações à agência Lusa, Gonçalo Figueiredo Augusto, da ENSP, defendeu que para aumentar a adesão à vacinação é preciso “continuar a reforçar que as vacinas são seguras” e passar a mensagem de que a pessoa deve proteger-se a si e aos outros.
“Há muitas pessoas que não se percecionam como estando em risco de ter complicações ou doença grave”, mas, mesmo não tendo complicações graves, podem infetar os outros, advertiu.
“O inverno é uma época do ano em que (…) estamos mais vulneráveis a infeções respiratórias e também estamos mais uns com os outros em espaços fechados e, portanto, tudo se propícia para haver uma maior transmissão de infeções respiratórias, nós sabemos que ela acontece, temos a sobrelotação das urgências no inverno, etc”, salientou o especialista em saúde pública.
Além das urgências, também os centros de saúde “ficam sobrelotados, transformando-se em verdadeiros ‘tubos de ensaio’ para propagação rápida do vírus”.
Nesse sentido, os peritos realçam a importância da vacinação dos profissionais de saúde como forma de “minimizar os contágios populacionais, e até evitar a sobrecarga de trabalho dos seus colegas”, e alertaram também para a importância de quem está doente ficar em casa, para não contaminar os que o rodeiam.
A campanha de vacinação da gripe, que este ano decorre em simultâneo com a da covid-19, dirige-se a maiores de 60 anos, doentes crónicos, grávidas, profissionais de saúde e os profissionais que trabalhem em lares de idosos.
Mas, para os especialistas, as pessoas de 50 anos que têm filhos e são cuidadores informais de idosos também deviam ser abrangidas.
Para Gonçalo Figueiredo Augusto, a administração simultânea das duas vacinas será mais cómoda para os utentes e aumentará a cobertura vacinal, tal como se forem usadas as inovações na vacinação contra a covid-19 em que as pessoas podiam fazer o agendamento e escolher o local e a hora da vacinação, recebendo a confirmação por SMS.
“Os cidadãos gostam de sentir essa comodidade”, rematou.
A reunião, liderada por Gonçalo Figueiredo Augusto, contou com a participação de Julian Perelman, Francisco Ramos, Ana Rita Goês, da ENSP, do médico de Saúde Pública Ricardo Mexia, de Diana Costa, da DGS, Francisco George, da Sociedade Portuguesa de Saúde Pública, Sofia Duque, da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, Nuno Jacinto, da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, Baltazar Nunes do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge e de Jorge Barroso Dias, da Sociedade Portuguesa de Medicina do Trabalho.
Especialistas divulgam recomendações para aumentar adesão à vacinação contra a gripe |
Especialistas reunidos na Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) elaboraram sete recomendações para aumentar a adesão à vacinação contra a gripe, nomeadamente dos profissionais de saúde, visando mais proteção da população e prevenção de infeções, hospitalizações e até mortes. Dias antes do arranque da Campanha de Vacinação Sazonal de Outono-Inverno 2023/2024, a 29 de setembro, a Escola Nacional de Saúde Pública juntou um conjunto de especialistas em saúde pública, epidemiologia, economia da saúde e ciências comportamentais e clínica para uma sessão que visou "promover a vacinação contra a gripe e fazer algumas recomendações" para aumentar a cobertura vacinal, disse hoje à agência Lusa Gonçalo Figueiredo Augusto, da ENSP, que liderou o evento. "Nós temos bons resultados em Portugal, mas se formos fazer uma análise dos grupos prioritários para vacinação, temos coberturas vacinais um pouco mais modestas do que poderíamos ter, por exemplo, nos profissionais de saúde ou nas pessoas com idade entre 60 a 69 anos", disse o especialista em saúde pública. O grupo analisou os últimos dados publicados, os quais demonstraram que "sem dúvida, a vacinação contra a gripe é uma intervenção economicamente eficiente, pois reduz o risco de infeção de complicações e hospitalizações derivadas da gripe, logo diminui a probabilidade de morte". Com o objetivo de "maximizar a adesão à vacinação contra a gripe, assegurando mais proteção à população, prevenindo infeções, complicações, hospitalizações e até mortes na população portuguesa", os especialistas elaboraram sete recomendações. A vacinação contra a gripe dos profissionais de saúde é a primeira recomendação feita pelos especialistas que defendem que possa ocorrer nos locais de trabalho, assim como uma "comunicação eficaz e assertiva" para todos os profissionais, através de comunicações para as unidades de saúde, ordens profissionais, e publicação nos 'sites' dos organismos do Ministério da Saúde. "É preciso reforçar a mensagem de que é importante que os profissionais de saúde se vacinem, para proteger os seus doentes, os seus utentes e os seus familiares", consideram. "Quem diz os profissionais de saúde, médicos, enfermeiros, diz os cuidadores das pessoas que estão acamadas, os cuidadores informais", porque têm "um contacto maior com pessoas que podem ter potencialmente doença grave ou mesmo morte e que precisam de perceber que é muito importante que elas estejam protegidas", disse à Lusa Gonçalo Figueiredo Augusto. O especialista realçou a importância da saúde ocupacional na promoção da vacinação junto dos profissionais de saúde, defendendo que devia haver mais unidades do SNS com este serviço, que visa a prevenção dos riscos profissionais e a proteção e promoção da saúde dos trabalhadores. "Estabelecer métricas de vacinação e de prescrição de vacinas contra a gripe por unidades de saúde de cuidados primários" é outra recomendação, lembrando os objetivos das autoridades de saúde nacionais e internacionais de abranger pelo menos 75% de cada um dos grupos populacionais prioritários. Outras recomendações passam por "programar os 'softwares' clínicos para que alertem os médicos prescritores da população a vacinar, de acordo com os grupos da população definidos pela Direção-Geral da Saúde", comunicar a vacinação por SMS, possibilitar o agendamento 'online' da vacinação, com confirmação por SMS para os cidadãos, a possibilidade de envio da prescrição da vacina contra a gripe, por SMS, para os utentes menores 60 anos. Os especialistas recomendam ainda a "comunicação à população em geral da importância da vacinação contra a gripe, através de fortes campanhas em diversos meios de comunicação social e redes sociais". O evento liderado por Gonçalo Figueiredo Augusto contou com a participação do investigador Julian Perelman, dos professores Francisco Ramos e Ana Rita Goês, todos da ENSP, do médico de Saúde Pública Ricardo Mexia, de Diana Costa, da DGS, Francisco George, da Sociedade Portuguesa de Saúde Pública, Sofia Duque, da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, Nuno Jacinto, da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, Baltazar Nunes do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge e Jorge Barroso Dias, da Sociedade Portuguesa de Medicina do Trabalho. |
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