A Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde (DE-SNS) anunciou no sábado à noite um plano de reorganização abrangendo mais de 30 urgências de várias especialidades do país, que vão funcionar com limitações até ao dia 18 devido à falta de médicos para assegurar as escalas.

Contactado pela agência Lusa, o presidente da APAH, Xavier Barreto, considerou que “faz sentido” que a DE-SNS publique “um documento destes e que o faça numa base semanal”, numa altura em que hospitais de todo o país estão a ter constrangimentos devido à recusa dos médicos em fazer horas além das 150 horas extraordinárias obrigatórias por lei.

“Esta previsão para a próxima semana de quais são, em cada serviço de urgência, as especialidades que vão estar indisponíveis e, desde logo, indicar quais são os hospitais para onde devem ser reencaminhados estes doentes, de uma forma mais estruturada, mais previsível e até de uma forma pública faz todo o sentido”, declarou.

Além disso, salientou, o plano prevê que os centros de saúde se reorganizem para assegurar respostas a doentes urgentes não programados, mas que não precisam de ir ao hospital.

Prevê também que os hospitais criem, por exemplo, nas suas áreas de consulta externa, novas respostas para doentes crónicos do hospital, que, “quando agudizam, não têm que ir à urgência, podem ir à área de consultas externas desse hospital e ter aí uma resposta por parte das equipas que já os acompanha”, realçou.

O representante destacou ainda outras medidas como os hospitais deverem priorizar sempre a resposta pré-hospitalar, garantindo que as escalas das viaturas do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) estejam sempre completas.

Sobre os riscos do plano, Xavier Barreto indicou a sobrecarga dos hospitais, uma situação já conhecida: “O plano mostra isso de uma forma muito clara.”

“Há hospitais que estão a receber doentes de cinco, seis, sete hospitais da região e isso é um risco, naturalmente. É um risco para as equipas desse hospital ficarem sobrecarregadas e de não conseguirem eventualmente dar resposta”, sublinhou.

Xavier Barreto ressalvou, contudo, que “é melhor ter um plano e fazer isto de uma forma estruturada e programada do que não ter”.

“Portanto, saudamos este plano e, obviamente, vamos todos trabalhar para o implementar e para garantir que ele chega a bom porto”, rematou.

Questionado sobre as negociações entre o Ministério da Saúde e os sindicatos médicos no contexto político atual, Xavier Barreto disse que tem que se olhar para esta situação de uma forma muito pragmática.

“O que está em causa é se existem ou não condições formais e até políticas para se conseguir chegar a um acordo e, não existindo, então faria mais sentido suspender desde logo os protestos [dos médicos], reiniciando-os num momento em que existe um governo com quem se possa dialogar e eventualmente chegar a um acordo, o que não parece ser o caso neste momento”, referiu.

O dirigente salvaguardou que não está a fazer qualquer juízo sobre as reivindicações dos médicos, considerando apenas que “o protesto deixa de ser oportuno, no sentido em que não existe uma contraparte do outro lado” para discutir e eventualmente chegar a um acordo.

“Aliás, já dissemos variadíssimas vezes que entendemos que os médicos têm razão. Ou seja, existe um problema salarial, existe um problema de competitividade do Serviço Nacional de Saúde para atrair médicos. Portanto, isso não está em causa”, rematou o presidente da APAH.