“Há alturas em que um advogado fica satisfeito com os magistrados que tem. Neste momento, independentemente de concordar ou discordar das decisões deste magistrado, tenho de tirar o chapéu porque não se deixou influenciar por interferências ou ruído à volta e condenou por aquilo e só por aquilo que nós, defesa, entendemos que devia ser condenado, independente de virmos a recorrer ou não, e vamos fazê-lo”, disse Melo Alves.
Aos jornalistas, após a leitura do acórdão no Campus de Justiça, o advogado de Luís Pina referiu que irá recorrer pelo facto de a pena “ser ou não efetiva”.
Melo Alves lembrou que o seu cliente vinha acusado de cinco crimes de homicídio e, “se foi apenas condenado por um, por negligência, alguém andou bem mal”, deixando novamente críticas à forma com foi feita a investigação.
Já aquando das alegações finais, em 25 de setembro, Melo Alves referiu que a investigação não devia ter sido realizada pela Polícia Judiciária, voltando hoje a reafirmar o mesmo, salientando que deveria ter sido “uma entidade que tivesse competência para acidentes de viação”, como por exemplo a GNR.
“Podia ser benéfico ou prejudicial para o meu cliente, nós entendemos que seria benéfico”, frisou.
Quanto ao seu cliente, Melo Antunes adiantou que Luís Pina recebeu “com alívio” a sentença, porque era acusado de cinco crimes de homicídio.
Em relação à absolvição do pagamento da indemnização cível, o casuístico referiu que o tribunal “decidiu bem absolver da indemnização pedida”, lamentando, no entanto, que, por uma razão formal, as vítimas não tenham sido ressarcidas dos danos que tiveram, mas que não lhe cabia enquanto advogado da defesa pronunciar-se antes.
Luís Pina, o principal arguido no processo do atropelamento mortal do adepto italiano de futebol Marco Ficini, junto ao Estádio da Luz, em Lisboa, em 2017, foi hoje condenado a quatro anos de prisão efetiva, por homicídio por negligência grosseira.
Durante as alegações finais, o advogado de Luís Pina, Melo Alves, tinha pedido a absolvição do seu cliente, admitindo, no entanto, que este pudesse ser condenado por homicídio por negligência consciente.
Na altura, Melo Alves defendeu que quem infringiu as regras da estrada não foi Luís Pina, mas Marco Ficini, criticando a investigação da Polícia Judiciária.
O Ministério Público pediu a condenação do arguido por homicídio por dolo eventual, omissão de auxílio e ofensas à integridade física.
Luís Pina, ligado à claque benfiquista No Name Boys, foi acusado pelo Ministério Público do homicídio de Marco Ficini e de outros quatro homicídios na forma tentada - dos quais foi agora absolvido -, enquanto os restantes 21 arguidos no processo (com ligações aos No Name Boys ou à claque sportinguista Juventude Leonina) foram acusados de participação em rixa, dano com violência e omissão de auxílio.
Os factos remontam à madrugada de 22 de abril de 2017, quando Marco Ficini, que pertencia à claque do clube italiano Fiorentina 'O Club Settebello' e era adepto do Sporting, morreu após um atropelamento e fuga junto ao Estádio da Luz, horas antes de um jogo entre o Sporting e o Benfica.
Durante os confrontos e perseguições entre adeptos do Sporting e do Benfica, Luís Pina, de 35 anos e com ligações à claque do Benfica 'No Name Boys' atropelou mortalmente Ficini, “arrastando o corpo por 15 metros”, imobilizando o carro só “depois de ter passado completamente por cima do corpo da vítima”, descreve a acusação, acrescentado que o arguido abandonou o local “sem prestar qualquer auxílio”.
O Ministério Público acusou, em outubro de 2017, 22 arguidos (10 adeptos do Benfica com ligações aos ‘No Name Boys’ e 12 adeptos do Sporting da claque ‘Juventude Leonina’) pelo atropelamento mortal de Ficini, mas acabou por pedir a absolvição dos 21 arguidos que estavam acusados por omissão de auxílio e participação em rixa e dano grave.
A procuradora Leonor Machado disse não haver prova para os condenar, tendo por isso, pedido a absolvição.
Comentários