O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 1,2 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 70 mil. Em Portugal, havia hoje 11.730 casos confirmados e 311 mortes.
Perguntas e respostas sobre o uso de máscaras como forma de contenção da pandemia da covid-19.
Como é que as máscaras protegem do contágio com covid-19?
As máscaras faciais cobrem as mucosas da boca e do nariz por onde o novo coronavírus pode infetar o corpo humano. O coronavírus espalha-se através de gotículas expelidas a partir do nariz e boca quando uma pessoa infetada tosse ou expira.
Quando uma pessoa infetada usa máscara, contem a propagação das gotículas pelo ar, do mesmo modo que uma pessoa não infetada com máscara está a limitar os pontos de entrada do vírus: boca e nariz estão protegidas, mas não os olhos.
As gotículas podem atingir a cara de outra pessoa que esteja a menos de um metro de uma pessoa infetada. O vírus pode ainda ser transportado nas mãos se se tocar numa superfície onde tenham aterrado essas gotículas. O novo coronavírus e a maneira como contagia ainda não são totalmente compreendidas e a investigação científica sobre a covid-19 é contínua.
Que cuidados deve ter-se ao colocar e usar uma máscara de proteção?
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que as mãos devem ser lavadas com uma solução alcoólica ou com água e sabão antes de colocar a máscara. A boca e nariz devem ficar cobertas, sem folga entre a máscara e a cara. As mãos não devem tocar o tecido.
A máscara deve ser substituída se ficar húmida e as descartáveis não devem ser reutilizadas. As máscaras devem ser retiradas de trás para a frente, sem tocar na parte dianteira e colocadas no lixo num contentor fechado. Depois disso, devem lavar-se novamente as mãos com solução alcoólica ou água com sabão.
Qual é a posição da OMS sobre o uso generalizado de máscaras de proteção?
A organização só considera essencial o uso de máscaras para profissionais de saúde, pessoas infetadas e cuidadores de pessoas infetadas.
No entanto, hoje admitiu que seja alargado à população em geral nos casos de comunidades onde não haja acesso fácil a água para lavagem das mãos e onde as condições de alojamento não permitam manter o distanciamento físico, outras medidas que considera essenciais para conter o contágio.
O diretor geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, salientou hoje que a investigação sobre a eficácia do uso generalizado de máscaras é limitada e apelou aos países que adotem essa medida para que a avaliem e partilhem os resultados com o resto do mundo. O responsável salientou que há uma escassez de máscaras cirúrgicas a nível mundial e alertou que o alargamento do seu uso pode pôr em perigo quem mais delas precisa, ou seja, os profissionais que estão na linha da frente do combate ao novo coronavírus.
Na sua página da Internet, recomenda-se o uso de máscaras em “casos específicos”, nomeadamente, se se tem “tosse, febre ou dificuldades respiratórias”.
Pessoas sem sintomas só devem usar máscara se têm a seu cuidado alguém doente ou com suspeita de estar contagiado. A OMS salienta nas suas orientações e reiteradas declarações dos seus responsáveis que o uso de máscaras só é eficaz para evitar o contágio quando combinado com outras medidas de higiene, sobretudo a lavagem frequente das mãos com água com sabão ou com uma solução à base de álcool.
Qual é a posição das autoridades de saúde portuguesas sobre o uso de máscaras pela generalidade da população?
A Direção-Geral de Saúde (DGS) e o Ministério da Saúde que a tutelam têm seguido as posições da OMS. Em fevereiro, a DGS afirmava que não era necessário usar máscaras, salvo para cuidadores de pessoas infetadas.
Ao longo de dois meses, a posição manteve-se, com a diretora-geral de Saúde a desvalorizar o papel das máscaras como medida de proteção, afirmando que um pedaço de tecido sobre a boca não é totalmente eficaz e repetindo a ideia da falsa sensação de segurança da OMS.
O tom mudou, no entanto, numa norma divulgada na semana passada em que se alargou a recomendação de uso de máscaras mesmo fora das instituições de saúde para quem contacte diretamente com material usado por doentes, como bombeiros, voluntários de lares, pessoas que apoiam sem-abrigo, funcionários de morgues, forças de segurança, trabalhadores de alfândegas ou trabalhadores de limpeza.
A ministra da Saúde, Marta Temido, disse em entrevista à RTP este fim de semana que a tutela foi aconselhada por especialistas a rever o critério para recomendação de uso generalizado de máscaras.
Hoje, Graça Freitas declarou que estão pedidos pareceres e que será preciso aguardar alguns dias para que haja decisão sobre uma mudança de posição. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, já se antecipou e declarou que usa máscara e até luvas quando vai ao supermercado, mesmo sem estar nas orientações da DGS. O chefe de Estado disse ter aprendido com os seus netos “a lição da China”.
Quais são as posições dos governos sobre o uso de máscaras?
Em alguns países europeus, como a Bulgária, República Checa, Eslováquia, Eslovénia ou Áustria, o uso de máscara é obrigatório em diferentes graus. Na Áustria, as máscaras são obrigatórias para ir ao supermercado, enquanto na Bulgária e na República Checa, todas as pessoas em espaços públicos devem usá-las.
Nos Estados Unidos, as recomendações das autoridades de saúde passaram a partir da semana passada a ser o uso de máscara ou outro tipo de cobertura no nariz e na boca em espaços públicos.
Uzbequistão, Taiwan, Japão e China, onde o vírus surgiu no fim do ano passado, são outros países em que se adotou o uso generalizado de máscaras pela população.
O diretor do centro chinês para o controlo e prevenção de doenças, Gao Fu, declarou à revista Science em março que o “grande erro” dos Estados Unidos e da Europa foi não decretar o uso de máscaras pela população quando pandemia surgiu.
Quais são as posições dos cientistas sobre a eficácia do uso de máscaras pela população em geral na contenção da pandemia?
Não se pode falar de consenso na comunidade científica, mas cada vez mais organizações nacionais e internacionais estão a adotar posições a favor da recomendação do uso generalizado de máscaras.
Nos Estados Unidos, a Academia das Ciências citou estudos segundo os quais o vírus se transmite não apenas pelas gotículas expelidas quando se tosse ou espirra mas no ar expirado quando se fala, apelando à Casa Branca para adotar a recomendação de uso generalizado de máscara.
Várias investigações científicas realizadas desde o início da pandemia estabeleceram que o contágio partiu até de pessoas sem sintomas, o que sugere que não é só pela tosse que o vírus pode espalhar-se.
O Conselho de Escolas Médicas Portuguesas, que defendeu o uso generalizado de máscaras, recolheu uma série de artigos internacionais segundo os quais é eficaz alargar o uso de máscaras, em conjunto com outras medidas de proteção, para controlar a transmissão de infeções respiratórias, reduzindo o risco de contágio, a taxa de ataque e diminuindo o número de contágios a partir de cada pessoa doente.
Sublinha que se poderá conter a pandemia atual e prevenir futuros surtos, mesmo com “qualquer tipo genérico de máscara” ou mesmo um pano da louça de algodão ou uma máscara caseira pode diminuir a exposição ao vírus, libertando as máscaras cirúrgicas e respiratórias para os profissionais de saúde, cuidadores de doentes e forças de segurança.
O presidente deste conselho, Fausto Pinto, tinha criticado a DGS por esta afirmar que as máscaras são ineficazes, considerando que se trata de “um artifício” porque não existem em Portugal máscaras suficientes.
Hoje, a Ordem dos Médicos portuguesa defendeu também a revisão dos critérios para uso universal de máscaras, uma posição semelhante à tomada pela Academia de Medicina francesa ou pelo Instituto Robert Koch, na Alemanha.
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