“São sinais muito importantes, para nós trata-se da garantia de que podemos recuperar os nossos territórios, as nossas terras”, disse Volodymyr Zelensky ao receber Antony Blinken, referindo-se à nova ajuda militar de Washington a Kiev numa altura em que o exército ucraniano reivindica êxitos em várias frentes contra as forças russas.

Os ganhos mais significativos na grande contraofensiva ucraniana em curso desde a semana passada, nomeadamente para retomar a região ocupada de Kherson, ocorreram na região de Kharkiv, fronteiriça com a Rússia a nordeste, onde as forças ucranianas afirmam ter feito as defesas russas recuar cerca de 50 quilómetros, recuperando mais de 20 localidades.

No sul da Ucrânia, as forças de Kiev afirmam ter ultrapassado “muito”, até “várias dezenas de quilómetros”, as linhas russas e “libertado várias localidades”, segundo um alto responsável do Estado-Maior ucraniano, Oleksiï Gromov.

No Donbass, a bacia mineira do leste da Ucrânia onde decorreram os combates mais violentos da guerra nos últimos meses, Kiev disse que as suas tropas avançaram entre dois e três quilómetros perto de Kramatorsk e de Sloviansk e recuperaram a aldeia de Ozerné.

Tais avanços, neste momento impossíveis de verificar por fontes independentes, serão os mais importantes para a Ucrânia desde a retirada das tropas russas das imediações de Kiev, no fim de março, e são anunciados quando Blinken realiza uma visita-surpresa a Kiev, a sua segunda desde o início da invasão, com a promessa de uma nova ‘tranche’ de ajuda.

A progressão da contraofensiva ucraniana é “constante”, congratulou-se hoje o chefe do Estado-Maior dos Estados Unidos, Mark Milley, no final de uma reunião dos aliados da Ucrânia realizada na base norte-americana de Ramstein, na Alemanha, e destinada a coordenar a ajuda militar a Kiev. A Rússia não comentou.

Após o seu encontro com Zelensky e o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba, Blinken prometeu o apoio dos Estados Unidos “até que a agressão [russa] termine e a Ucrânia seja totalmente soberana”.

“Aquilo a que estamos a assistir é o preço que a Rússia tem a pagar, que é já extraordinário, e que vai ser cada vez maior”, comentou Blinken, que se deslocou à capital ucraniana para discutir uma nova ‘tranche’ de 2,8 mil milhões de euros para Kiev e 18 países da região.

Dessa quantia, 675 milhões irão diretamente para Kiev sob a forma de carregamentos de armamento, munições e sistemas de artilharia HIMARS, que já permitiram às forças ucranianas atingir colunas de abastecimento russas muito recuadas em relação à linha da frente.

Quanto aos restantes 2,2 mil milhões, eles serão entregues como empréstimos e subsídios à Ucrânia e aos países que se sentem ameaçados pela Rússia, para a compra de armas norte-americanas.

Esta nova verba faz ascender a 15,2 mil milhões de euros o total da ajuda norte-americana à Ucrânia desde o início da invasão, há mais de seis meses.

Entre os países elegíveis, estão a Geórgia e a Moldova, que têm no seu território zonas controladas por separatistas pró-russos, bem como os países bálticos e ainda a Bósnia, onde as tensões estão a aumentar com os dirigentes sérvios.

Em Kiev, o secretário de Estado norte-americano começou por visitar um hospital que trata crianças vítimas da guerra, na companhia do seu homólogo ucraniano.

“Trouxe amigos”, disse o Kuleba aos jovens doentes, oferendo-lhes peluches.

Entre as novas promessas feitas à Ucrânia, a Noruega ofereceu 160 mísseis Hellfire e equipamento de visão noturna, a Alemanha forneceu equipamentos para o inverno e os Países Baixos formação em desminagem.

Blinken saudou depois, em Kiev, os “progressos claros e reais” da contraofensiva do exército ucraniano para recuperar territórios controlados pelas forças russas.

“Ainda é muito cedo, mas vemos progressos claros e reais no terreno, nomeadamente na zona à volta de Kherson (sul), mas também desenvolvimentos interessantes no leste, no Donbass”, disse Antony Blinken.

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas — mais de seis milhões de deslocados internos e mais de sete milhões para os países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

A invasão russa — justificada por Putin com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.

A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra, que entrou hoje no seu 197.º dia, 5.718 civis mortos e 8.199 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.