No seu relatório diário sobre o conflito entre Israel e o grupo islamita Hamas, o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários das Nações Unidas (OCHA) declarou que agora só consegue distribuir ajuda em Rafah, no extremo sul da Faixa de Gaza e junto à fronteira com o Egito.
“A zona central de Gaza está praticamente desligada do sul, devido às restrições de circulação de Israel nas estradas principais”, sublinhou o relatório, lembrando que o acesso ao norte está interrompido desde o fim da trégua, em 1 de dezembro.
Na quinta-feira, a única ajuda humanitária que conseguiu chegar à cidade de Khan Yunis, que fica também no sul da Faixa de Gaza, foram os fornecimentos médicos da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o Hospital Europeu e o Complexo Médico Nasser, principais instalações de saúde da cidade.
Apenas 14 dos 36 hospitais no enclave continuam a funcionar e destes apenas dois estão no norte da Faixa de Gaza, ocupada pelas forças israelitas e onde os combates se haviam concentrado antes da pausa humanitária que foi acordada entre 24 e 30 de novembro.
O relatório referiu que um dos dois hospitais que ainda funcionam no norte, o centro hospitalar de Al-Awda, em Jabalia (extremo norte), foi cercado pelo exército israelita e sofreu danos devido a bombardeamentos e disparos de franco atiradores israelitas.
A OMS documentou, até agora, 212 ataques a instalações de saúde em Gaza e alertou que os dois principais hospitais do sul do enclave estão a funcionar com o triplo da sua capacidade.
O relatório destacou que nas últimas 24 horas centenas de homens, alguns adolescentes, foram detidos numa escola em Beit Lahia (norte de Gaza) onde se refugiaram e foram levados para local desconhecido, acusados por Israel de possível ligação ao Hamas.
Segundo a ONU, continuam a chegar a Gaza camiões com ajuda humanitária [69 na quinta-feira], mas a possibilidade de gestão destes carregamentos pelas Nações Unidas é muito difícil porque muitos veículos foram bloqueados na zona central da faixa.
As frequentes interrupções nas telecomunicações e a perda de contacto com muitos funcionários de agências da ONU também dificultam a prestação de ajuda, afirmou o relatório.
As Nações Unidas recordam que os deslocados internos em Gaza ascendem agora a 1,9 milhões, cerca de 85% da população total do território palestiniano, incluindo 1,2 milhões de refugiados em escolas e outras instalações da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos (UNRWA).
Desde 3 de dezembro, dezenas de milhares de deslocados chegaram de Khan Younis e de outras áreas a Rafah, cidade no extremo sul, onde as condições de sobrelotação, segundo a ONU, são “extremas” e onde sequer há espaço para acampar nas ruas ou áreas abertas.
“Milhares de pessoas esperam durante horas nos centros de distribuição de ajuda, necessitando desesperadamente de comida, água, abrigo, serviços de saúde e proteção”, afirmou a ONU.
De acordo com inquéritos realizados pelo Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas (PAM), 36% das famílias em Gaza sofrem de fome severa e 63% afirmam ter passado dias inteiros sem comer.
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