Estudante de Ciência Política da Universidade Laval, que fica ao lado da mesquita, Bissonnette foi detido pouco depois do atentado, que também deixou oito pessoas feridas, cinco das quais em estado grave.
O suspeito foi apresentado a um juiz esta segunda-feira, acusado de homicídio premeditado de seis pessoas e tentativa de homicídio de outras cinco. Uma nova audiência está marcada para 21 de fevereiro, quando a procuradoria apresentar formalmente as acusações contra Bissonnette.
"As investigações estão em curso e esperamos obter as provas" que levarão a acusações de "terrorismo", indicaram as autoridades.
Bissonnette telefonou para as autoridades após o ataque e admitiu a sua participação no crime, informou o inspetor de Quebeque Denis Turcotte.
Um outro estudante canadiano de origem marroquina, chamado Mohamed Belkhadir, foi detido pelas autoridades quando saía da mesquita e considerado suspeito do ataque. No entanto, já foi libertado pela polícia.
"A Polícia de Quebeque (SQ) confirma que um dos indivíduos presos na noite passada no âmbito do atentado de Quebeque é considerado suspeito”, cita a AFP.” Após investigação, o outro indivíduo [detido] está ser abordado como testemunha", adiantaram as autoridades.
O atacante invadiu às 19h30 o centro cultural islâmico de Quebeque, que tinha quase 50 pessoas, no fim da última oração do dia. As vítimas mortais tinham entre 35 e 70 anos e eram todas canadianas com dupla nacionalidade, avançou o vice-presidente do Centro Cultural Islâmico de Quebeque, Mohamed Labidi. “[Entre as vítimas estão] dois marroquinos, um ou dois argelinos, um tunisino e possivelmente duas pessoas da África Subsaariana", detalhou Labidi.
Segundo a AFP, que cita informações de uma associação de apoio a refugiados, o suspeito, Alexandre Bissonnette é conhecido pelo seu posicionamento nacionalista, apoiante da candidata da extrema-direita francesa Marine Le Pen e de Donald Trump, e favorável a movimentos antifeministas.
Horror e incredulidade
Esse foi um dos piores ataques contra a comunidade muçulmana cometido num país ocidental e o primeiro com estas características contra uma mesquita no Canadá, onde a população muçulmana tem 1,1 milhão de pessoas, de acordo com números oficiais.
"Tal como outros lugares no mundo, o Quebeque foi vítima de terrorismo. Enfrentaremos isto juntos, com coragem e solidariedade", afirmou o chefe de Governo da província de língua francesa, Philippe Couillard.
A mesquita de Quebeque já havia sido alvo de represálias no ano passado, quando uma cabeça de porco foi deixada diante de uma das suas portas.
"A diversidade é nossa força e, como canadianos, a tolerância religiosa é um valor que valorizamos", sustentou o primeiro-ministro, Justin Trudeau. "Os muçulmanos canadianos são parte importante do nosso tecido nacional. Estes atos sem sentido não têm espaço nas nossas comunidades, cidades e no país", acrescentou.
O ataque aconteceu um dia depois de Trudeau ter anunciado que o Canadá "vai receber" os refugiados rejeitados pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Numa mensagem na rede social Twitter, Trudeau escreveu: “Para aqueles que fogem de perseguições, terrorismo e guerra, os canadianos vão receber-vos, independentemente da vossa fé. A diversidade é a nossa força #BemVindosaoCanadá”.
O mayor de Quebeque declarou que a cidade "está de luto” e vive “um drama indescritível”.
As testemunhas ainda têm dificuldade em perceber como isto aconteceu.
"Não entendo. Porquê aqui, é uma mesquita pequena", disse à AFP um dos homens que estava dentro do centro cultural islâmico no momento do ataque. "Não é Montreal, ou Toronto", acrescentou. O sentimento que assolou o país rapidamente passou da revolta e medo a união em torno da comunidade islâmica.
As reações internacionais não se fizeram esperar.
O presidente francês, François Hollande, condenou com "firmeza" o que chamou de "odioso atentado" na mesquita de Quebeque.
A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, afirmou que a União Europeia "está ao lado do Canadá e de todos os canadianos neste dia tão triste”.
“Condeno veementemente este bárbaro ataque que vitimizou inocentes pertencentes a uma comunidade religiosa específica, num momento em que se encontravam num local de culto e de oração", escreveu Marcelo Rebelo de Sousa na mensagem de condolências que enviou ao governador-geral do Canadá, David Johnston.
O país registou alguns atentados nos últimos anos, mas nenhum desta envergadura. Em outubro de 2014, dois jovens extremistas cometeram dois ataques e, em agosto de 2016, a polícia matou um homem de 24 anos que jurou lealdade ao grupo terrorista autoproclamado Estado Islâmico momentos antes de tentar executar um atentado suicida.
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