"É a situação de uma guerra de guerrilha. Não obedece a qualquer lei e tem havido muitos atropelos aos direitos humanos, quer por parte das guerrilhas, quer por parte das forças de defesa, dos militares", afirmou Pedro Neto.
Entre os exemplos mais recentes apontados por Pedro Neto está um vídeo onde se vê uma mulher a ser perseguida, torturada e morta por homens com uniformes das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, situação denunciada pela secção da AI para a África Oriental e África Austral, que pediu ao Governo moçambicano uma investigação independente aos factos.
Há ainda vídeos e fotografias anteriores, também analisados e divulgados pela AI, que "mostram tentativas de decapitação, tortura e outros maus-tratos de detidos, desmembramento de alegados combatentes, possíveis execuções extrajudiciais e o transporte de um grande número de cadáveres até valas comuns".
"O que pedimos ao Governo moçambicano é que não 'chute a bola para canto', que faça uma investigação séria e independente porque eles têm responsabilidades", salientou.
Por outro lado, Pedro Neto denunciou o discurso das autoridades moçambicanas, que têm atribuído os acontecimentos aos "terroristas", acusando-os de se vestirem de militares para fazerem crer que as atrocidades têm sido cometidas pelas forças armadas.
"Isto não basta. É preciso perceber se isso é verdade e se é verdade como é que os alegados terroristas conseguiram os uniformes militares completos até com os distintivos", apontou.
"Há descrições de muita violência de parte a parte contra a população, que se sente desprotegida. Há trabalho a fazer por parte das Forças Armadas e de Defesa de Moçambique, a comunidade internacional também tem de apoiar e o Governo moçambicano deve ser realista e pedir essa ajuda porque esta situação arrasta-se há muito tempo", acrescentou.
Pedro Neto assinalou, por outro lado, as perseguições à população, a jornalistas e organizações da sociedade civil, incluindo a própria AI, que viu um dos seus investigadores ser detido e tem sido alvo, segundo o responsável, de tentativas de descredibilização nas redes sociais.
Sobre os autores dos ataques em Cabo Delgado, que se autodenominam Al Shabab, o diretor executivo da secção portuguesa da AI sublinhou as incertezas quanto às suas ligações diretas com grupo com o mesmo nome que atua mais a norte, na região da Somália, ou ao autodenominado Estado Islâmico, que tem reivindicado alguns ataques.
A situação "está muito instável", frisou Pedro Neto, revelando que durante a noite as populações são forçadas a dormir no mato com medo de que as aldeias sejam atacadas, e que com o passar do tempo há "um escalar" da violência e das violações dos direitos humanos.
Cabo Delgado enfrenta desde há três anos ataques de grupos armados que já fizeram mais de mil mortos e 250.000 deslocados internos.
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