Num frente-a-frente com alguns momentos tensos, e no qual os dois protagonistas se interromperam várias vezes, o presidente do Chega, André Ventura, foi questionado sobre o setor da saúde mas acabou por introduzir no debate o tema da imigração, depois de ter sido divulgado, precisamente esta semana, que o número de imigrantes no país rondará os 1,6 milhões.

André Ventura argumentou que o aumento da população imigrante contribui para “o caos na saúde” e voltou a defender que os portugueses devem ter “acesso privilegiado” ao SNS em detrimento dos cidadãos imigrantes – cujas contribuições à Segurança Social atingiram um recorde de 3,6 mil milhões de euros em 2024.

“O Rui Tavares quer um Serviço Nacional de Saúde que seja bar aberto. Independente de terem contribuído ou não. Nós exigimos que quem venha para cá tratar-se tenha que ter pago alguma coisa ao serviço de saúde português”, argumentou Ventura, que defende que um imigrante tenha um mínimo de cinco anos de contribuição antes de aceder a cuidados de saúde.

O porta-voz do Livre Rui Tavares contrapôs que “o SNS neste momento funciona com imigrantes, muitas vezes”.

“Seria a maior injustiça dizer «vens para cá, ajudas o Serviço Nacional de Saúde, pagas impostos para o Serviço Nacional de Saúde, trabalhas no Serviço Nacional de Saúde, mas não és atendido cá». Seria uma enorme injustiça dizer a uma criança que não escolheu nascer filha de português ou de imigrante e que vive no nosso país e que chegou aqui com dois ou três anos, como muitos filhos de portugueses”, argumentou.

Argumentando que o SNS “está a lutar com uma venda nos olhos e com as mãos atadas atrás das costas”, Rui Tavares defendeu que a lei deve obrigar os privados da saúde a tornar públicas as mesmas informações que o SNS, e propôs um “Programa Regressar” para a saúde, com incentivos para o regresso ao país de profissionais de saúde emigrados.

Interrogado sobre se já se arrependeu de ter apoiado Donald Trump, agora que  as tarifas impostas pela administração norte-americana estão na ordem do dia, Ventura respondeu que Trump está a fazer nos EUA o que a Europa devia fazer também.

“Ou protegemos a Europa da China, da Índia e de mercado exterior, ou protegemos a nossa agricultura, os nossos trabalhadores, a nossa indústria automóvel, ou vamos acabar um reduto da China, da Índia, e desses países. Donald Trump está a fazer nos Estados Unidos o que nós temos que fazer na Europa. Proteger os nossos trabalhadores”, advogou.

Ventura chegou a dizer, numa adaptação do mote de Trump que quer “fazer Portugal grande outra vez”.

“Eu sei que o Livre não acredita nisso, mas eu acredito. Nós temos uma história de nove séculos. A nossa história não é para ser deitada fora em cultura «woke» e LGBTQIA+, como o Livre quer”, atirou.

Por seu turno, Rui Tavares salientou que as tarifas de Trump vão prejudicar “mais ainda aqueles que são mais pobres” e advogou que é preciso “andar pelo país” e dizer aos trabalhadores portugueses de setores como o azeite, a cortiça ou o vinho, que serão afetados por esta medida, “quem esteve do lado de Trump”.

Neste ponto do debate, quando Tavares referiu uma proposta do Livre de constituir uma “comunidade europeia de Defesa”, Ventura perguntou várias vezes ao candidato adversário se defendia uma saída de Portugal da NATO.

“O que eu defendo é a construção de uma comunidade europeia de Defesa dentro ou fora da NATO e muito provavelmente os Estados Unidos saem da NATO ainda antes”, disse.

Perante esta afirmação, Ventura acusou Tavares de “irresponsabilidade absoluta”. Tavares contrapôs que a “Dinamarca faz parte da NATO e Donald Trump quer ficar com um pedaço da Dinamarca que é a Groenlândia” e atirou: “Um dia que Trump se lembre que os Açores existem e que quer os Açores, aí o que é que o André Ventura vai fazer?”.

Olhando diretamente para a câmara, Rui Tavares lembrou que o Chega, que tem cartazes no qual Ventura pede “uma oportunidade” para governar, e apontou que  já “teve cinquenta oportunidades”, aludindo aos deputados eleitos nas últimas legislativas cuja conduta ética criticou.