“O que estão a dizer nos corredores de São Bento e de Belém é que farão um ‘acordo de cavalheiros’ entre o PSD e o PS, em que o PS viabiliza o programa e orçamento do PSD ou o PSD viabiliza o programa de governo e orçamento do PS. Uma espécie de bloco central para anular a importância do Chega no parlamento, para não precisarem de negociar connosco”, afirmou André Ventura durante o 8.º Conselho Nacional do partido, que decorreu em Chãs, lugar da freguesia de Regueira de Pontes, no distrito de Leiria.
Segundo Ventura, o Chega “tem informações” de que caso o partido seja o terceiro mais votado em futuras legislativas “e PSD ou PS fiquem em primeiro”, haverá entendimento entre os sociais-democratas e socialistas.
“Para muitos parece uma miragem, mas não é. É a única forma que têm de anular o efeito do Chega a nível nacional”, disse.
Ao mesmo tempo, André Ventura disse também, aos militantes presentes no Conselho Nacional, dispor de “elementos muito reveladores e credíveis” que “é muito provável” que PSD e CDS se apresentem juntos “para evitar o efeito Chega nestas eleições”.
Para o presidente do Chega, as legislativas que se anunciam surgem “numa fase muito, muito difícil” para o partido.
“Esgotámos os nossos recursos praticamente todos nestas autárquicas. Foi uma opção política, porque as autárquicas eram fundamentais para o partido. Porquê? Nenhum partido consegue chegar ao poder sem uma base autárquica de implantação”, justificou.
Por isso, o Chega gostava de ter “eleições um pouco mais tarde”, porque “não temos recursos, não há listas feitas, é preciso identificar quadros, é preciso pacificar o partido em muitos aspetos, não nos interessava [ter eleições agora]”.
“Se tivermos eleições nestes dias [sugeridos pelos outros partidos] vai ser um tremendo sacrifício. Mas o país não pode estar à espera meses e meses a fio de um novo orçamento e em instabilidade governativa, apenas porque o PSD, o CDS ou o Chega não têm a ‘casa’ devidamente arrumada”, sublinhou.
Para André Ventura, as próximas legislativas vão implicar, assim, “uma das maiores lutas” da vida do Chega.
“Vamos ter contra nós não apenas todos os outros partidos, vamos ter contra nós um sistema inteiro montado para nos dificultar a vida, para não chegarmos a ser decisivos na tomada de decisões”.
“Acredito mesmo que o destino conspirou para que nós pudéssemos ter aqui um grande sucesso. Que grande desilusão vai ser se não soubermos aproveitar esta única oportunidade”, afirmou.
André Ventura pede a militantes que evitem "lavar roupa suja” no congresso
O presidente do Chega pediu aos militantes para evitarem levar os desentendimentos internos para o congresso que o partido vai realizar entre 26 e 28 de novembro em Viseu, sugerindo que a “roupa suja” seja deixada à porta.
“Vamos estar sob escrutínio máximo da comunicação social e do país e saibamos honrar o que os portugueses nos pedem. Não estou a pedir que façamos um congresso a discutir a política e as grandes linhas de futuro do país. Mas estou-vos a pedir encarecidamente que a ‘roupa suja’ fique à porta deste congresso; o país espera de nós muito mais do que lavar ‘roupa suja’”, disse.
Ventura, que se juntou aos trabalhos quase no fim do encontro devido à audiência com o presidente da República, desdobrou-se em apelos.
“Estou só a pedir para darmos uma imagem digna neste congresso”, disse, rogando aos militantes do Chega para colocarem de lado as diferenças de opinião.
“Sei que muitos não concordam com os seus presidentes distritais, não concordam com o presidente da direção nacional em muita coisa. Mas é assim em democracia. Nos próximos meses vamos ter de pôr de lado o que é possível pôr de lado. É pôr de lado o que é pequeno e menor, que vale zero para os portugueses”, sublinhou.
Classificando de “espetáculo deplorável” a situação no PSD e no CDS - “entre quem não quer sair de lá e quem quer ir para lá a todo o custo para fazer listas de deputados” -, Ventura lamentou igualmente a motivação de Carlos Natal, que contra ele concorre nas eleições diretas à presidência do Chega, a 06 de novembro.
“Sim, tem de haver democracia, temos de ter abertura para pluralidade dentro do Chega; mas tem de ser pluralidade e democracia, não palhaçada, oportunismo e destruição”, atacou, lamentando que quem o desafia não apresente listas a delegados “em nenhum distrito do país”.
“Devemos levar isto a sério, não é uma brincadeira. Com o devido respeito, eu não concebo que alguém se candidate a presidente e, no fim da apresentação da candidatura, diga 'eu nem estou aqui para ganhar e nem tenho jeito para ser presidente do Chega, estou aqui para protestar'. Temos de pensar se isto é admissível num partido como o nosso”, disse, prometendo “repor as regras” que existiam antes para evitar “candidaturas absolutamente fantasmas”.
O encontro de Leiria ficou ainda marcado pela demissão dos elementos da mesa do Conselho Nacional, devido ao facto de o presidente da mesma, Luís Graça, “se encontrar em parte incerta”, anunciou a coordenadora dos trabalhos.
Uma nova mesa, liderada por Jorge Valsassina Galveias, foi eleita para dirigir o Congresso Nacional do Chega em Viseu, com 80 votos favoráveis entre os 126 conselheiros presentes.
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