
Segundo o The Guardian, a peça em causa é uma ânfora de figuras negras, fabricada por volta de 550 a.C., decorada com esfinges, um carneiro e um leão. A obra é atribuída ao "Pintor de Fineu", um artista da Grécia Antiga cujo nome se baseia numa taça que decorou com a narrativa do mito de Fineu, o rei cego atormentado pelas harpias e salvo por Jasão e os Argonautas.
Com 23,6 cm de altura, a ânfora estava a ser promovida pela Kallos Gallery, situada no bairro de Mayfair, em Londres, tendo sido apresentada no mês passado na feira Tefaf Maastricht, uma das mais prestigiadas feiras de arte e antiguidades do mundo.
Foi nesse contexto que Christos Tsirogiannis, arqueólogo, professor associado na Universidade de Cambridge e responsável pela investigação de tráfico ilícito de património no âmbito da cátedra da UNESCO sobre ameaças ao património cultural na Universidade Jónica (Grécia), identificou o objeto como possivelmente saqueado.
O arqueólogo reconheceu a ânfora numa fotografia Polaroid incluída num arquivo apreendido pela polícia italiana ao traficante Giacomo Medici, condenado em 2004 por tráfico de artefactos roubados. A imagem fazia parte de uma coleção usada como prova no processo judicial e consta do site oficial dos Carabinieri italianos.
Depois disto, o leilão terminou. "A peça em questão foi imediatamente retirada de venda, aguardando instruções das autoridades competentes. Não temos qualquer interesse em comercializar obras de proveniência duvidosa e acolhemos a oportunidade de colaborar em soluções construtivas para estas questões complexas", declarou Madeleine Perridge, diretora da Kallos Gallery.
Nos últimos 19 anos, Tsirogiannis identificou mais de 1.700 peças saqueadas, contribuindo para o seu regresso a 15 países. Entre os casos mais mediáticos está o de um cavalo grego em bronze que a Sotheby’s, em Nova Iorque, pretendia leiloar em 2018, até ser identificado como tendo ligações ao antiquário britânico Robin Symes. A peça foi reclamada pela Grécia e, em 2020, o tribunal deu razão ao país, numa decisão celebrada pela ministra da Cultura grega como uma vitória contra o tráfico de património.
Casos semelhantes levaram já outras casas de leilões, como a Christie’s, a retirar objetos antigos das suas vendas, após alertas de Tsirogiannis sobre ligações a traficantes como Gianfranco Becchina, condenado em 2011.
O arqueólogo também critica frequentemente a falta de cooperação de negociantes e leiloeiras com as autoridades gregas e italianas, acusando-os de omitir a proveniência completa dos artefactos.
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