Em entrevista à RTP, em Luanda, na véspera do início da visita de Estado a Angola do Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, o chefe de Estado angolano apontou a necessidade de continuar a aprofundar o relacionamento que “sempre foi especial” entre os dois países.

“Neste preciso momento as relações estão no pico da montanha, estão lá bem em cima. De qualquer forma, temos o dever de continuar a trabalhar no sentido, não diria de manter esse nível, mas de subir ainda mais”, disse João Lourenço.

O Presidente angolano acrescentou que o diferendo com Portugal, a propósito da investigação da Justiça portuguesa a Manuel Vicente, por suspeitas de corrupção, enquanto presidente da petrolífera angolana Sonangol, resultou do incumprimento de um acordo ao abrigo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, ao nível da Justiça, com Luanda a reclamar receber o processo.

“Para Angola, essa questão foi relevante porque nós estávamos perante um incumprimento de um acordo entre dois Estados - e dois Estados que se querem bem - e havia a necessidade de uma das partes recordar à outra parte que tínhamos um acordo que precisa de ser cumprido. Felizmente, o bom senso acabou por vencer e esse momento difícil passou rapidamente e não deixou sequelas”, declarou João Lourenço.

 Sobre a chegada do Presidente português a Luanda na terça-feira, precisamente no dia do 65.º aniversário do chefe de Estado angolano, João Lourenço admitiu que “na política não há acasos”.

“Juntamos o útil ao agradável”, disse, a propósito da participação de Marcelo Rebelo de Sousa no jantar de aniversário de Lourenço.

O chefe de Estado angolano descreveu que mantém “boas relações” com Marcelo Rebelo de Sousa, de 70 anos, “apesar da diferença de idades”.

“Mas as relações são boas e procuramos cultivar cada vez mais”, assegurou.

Questionado durante a entrevista sobre as orientações dadas à Sonangol relativamente às participações que a petrolífera detém em Portugal – indiretamente na Galp e diretamente no Millenium BCP, com 19,49 % do capital social -, o chefe de Estado insistiu que são para manter.

“De uma forma geral, a Sonangol tem orientação no sentido de se retirar daqueles negócios que não têm muito a ver com a sua atividade, que é a extração e comercialização de petróleo, isto é no geral. No concreto, vamos ver caso a caso”, insistiu, tal como já tinha feito em novembro, durante a visita de Estado a Portugal.

Concretizando, João Lourenço assumiu que no caso da Galp, como está ligada à extração de petróleo, “não há razão para sair”.

“Portanto, a Galp não se põe”, disse, acrescentando que sobre a posição no Millennium BCP “em princípio vamo-nos manter”.

[Notícia atualizada às 22h40]