Henrique Gomes está hoje a ser ouvido na comissão parlamentar de inquérito ao pagamento de rendas excessivas aos produtores de eletricidade, tendo sido questionado pelo deputado do PS Hugo Costa sobre os motivos do seu pedido de demissão, na altura a primeira baixa do Governo então liderado por Pedro Passos Coelho.
“A opinião pública tinha que saber quais eram os excessos e cada vez que eu falava nas rendas excessivas, o ministro [Álvaro Santos Pereira] ficava muito atrapalhado e dizia ‘Henrique, já lhe disse várias vezes. Você não pode falar em rendas excessivas, está proibido de falar de rendas excessivas’", relatou.
Henrique Gomes admitiu que, apesar destas indicações, não se “calava mesmo”, assumindo que não tornou “a vida fácil” ao ministro, penitenciando-se hoje por isso.
“Ele começou a querer ver os discursos. Eu ia num belo dia ao ISEG, ele olhou para o discurso e tinha lá os preços, tinha lá os problemas e ele nesse dia de manhã disse-me que eu não podia falar”, lembrou.
Se “não podia falar”, continuou Henrique Gomes, ia embora do Governo, tendo então pedido a demissão e saída do executivo em março de 2012, admitindo que este episódio foi “a gota de água”.
No entanto, esta não tinha sido a primeira vez que Henrique Gomes tinha colocado um pedido de demissão em cima da mesa, tendo sido questionado sobre a sua intenção de sair do Governo em outubro de 2011.
Para além de a contribuição sobre o potencial de geração não ter avançado na altura, Henrique Gomes justificou o seu pedido de demissão com o facto de ter sabido que o presidente executivo da EDP, António Mexia, tinha ido duas vezes no mesmo dia ao ministério “insistir nas medidas que a EDP tinha” para responder às exigências da 'troika' para cortar as remunerações aos produtores.
“Achei que era acintoso e pedi a demissão”, lembrou, tendo sido uma conversa com Passos Coelho que o fez mudar de opinião e manter-se no Governo.
O nome de António Mexia já tinha surgido na audição no período de perguntas do deputado do PSD Jorge Paulo Oliveira, que quis ver esclarecido em que circunstâncias é que Henrique Gomes deixou de ser administrador da REN, já depois de ter estado no Governo.
“Em outubro o Jornal de Negócios convida-me para dar uma entrevista como ex-político. Uma entrevista que não tem nada de especial, mas o jornalista em determinada altura pergunta […] se o doutor António mexia era um osso duro de roer. Eu confirmei que sim e foi a única coisa que fiz, mas isso caiu mal”, relatou.
De acordo com o antigo secretário de Estado, estas declarações caíram “mal na administração da REN e na presidência da REN”.
Apesar de considerar que tinha “feito considerações políticas perfeitamente legítimas”, como “havia alguma incomodidade”, Henrique Gomes acordou “sair imediatamente”, considerando que veio “embora pacificamente”.
Já questionado sobre contactos anteriores com António Mexia, Henrique Gomes explicou que havia tido uma “relação de um ou dois meses” na Gás de Portugal em 1998, altura em que o atual presidente da EDP assumiu a liderança da empresa.
“Quando eu saio, fiquei com um contrato como consultor mas dois ou três meses depois foi denunciado. Dizem que foi por qualquer coisa que fiz. Foi uma desculpa esfarrapada”, relatou Henrique Gomes, em resposta ao socialista Hugo Costa.
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