“O PS é filho ideológico da Ação Socialista [Portuguesa] na defesa intransigente da liberdade, dos direitos fundamentais dos cidadãos e do Estado de Direito democrático. Quando celebramos os 50 anos da fundação do nosso partido constato que esta matriz fundadora do PS se tem vindo a perder”, escreveu o antigo braço-direito das direções socialistas de Mário Soares numa carta dirigida ao secretário-geral do PS, António Costa, à qual a agência Lusa teve acesso.
Deputado à Assembleia Constituinte, deputado à Assembleia da República em várias legislaturas até ao final da década de 1990 e antigo secretário de Estado de governos de Mário Soares, António Campos apoiou a liderança de José Sócrates no PS.
Segundo o atual presidente dos socialistas, Carlos César, José Sócrates não foi convidado para estar presente nas comemorações dos 50 anos da fundação do PS, que liderou entre 2004 e 2011, por já não fazer parte deste partido desde 2018.
António Campos, na sua missiva, agradeceu ao secretário-geral, António Costa, o convite que recebeu para estar presente no jantar comemorativo dos 50 anos do PS, hoje, no Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa, mas salientou logo depois que o atual partido “está distante da liderança de Mário Soares, onde a divergência era salutar e muito enriquecedora politicamente”.
“É com profunda deceção que, com a benevolência do partido, assisto à acelerada degradação das instituições democráticas que tanto custaram a conquistar. Infelizmente já não tenho a energia do passado. Se a tivesse estaria presente para pessoalmente te afirmar a necessidade de reaproximar o partido dos valores que presidiram à sua fundação”, acentuou António Campos, atualmente com 84 anos.
Na carta que dirigiu a António Costa, o dirigente histórico socialista referiu vários episódios que marcaram a vida desta força política, tanto no período anterior, como nos primeiros anos após a sua fundação na Alemanha em 19 de abril de 1973. E, num deles, António Campos elogiou mesmo o atual secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, que, no PS, foi adversário interno dele e da corrente “soaristas” no final da década de 70.
“No PS o valor da solidariedade esteve sempre presente. Mesmo nos momentos de forte divergência interna foi sempre um princípio inabalável de todos”, defendeu António Campos.
António Campos contou então que teve um cancro “muito agressivo”, foi operado, fez tratamentos, “e muitas vezes, na hora em que os fazia, recebia um telefonema do António Guterres”.
“Como sabes, [António Guterres] liderou uma tendência política no PS no período em que tive responsabilidades na organização do partido”, observou.
António Campos, no fim, deixou com um conselho a António Costa: “Espero que este pequeno testemunho sobre a fundação e legalização do PS te ajude, se quiseres, a dar conhecimento histórico no jantar da comemoração dos 50 anos do nosso partido”.
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