Esta convicção foi transmitida por António Costa no final do programa "Circulatura do Quadrado", na TVI-24, moderado pelo jornalista Carlos Andrade, com a participação habitual da líder parlamentar do PS, Ana Catarina Mendes, do antigo dirigente do PSD Pacheco Pereira e do membro do Conselho de Estado António Lobo Xavier.
"Não acredito que daqui a 15 dias se regresse ao ensino presencial", declarou o líder do executivo, que também adiantou que o Governo não repetirá a medida que tomou na sexta-feira passada no sentido de decretar uma interrupção no ano letivo, com compensações nos períodos tradicionais de férias.
"Por isso, devemos retomar o ensino online", admitiu António Costa.
No programa, após críticas feitas pelo antigo dirigente do CDS António Lobo Xavier às posições assumidas pelo ministro da Educação a propósito da suspensão das aulas presenciais, o líder do executivo saiu em defesa de Tiago Brandão Rodrigues.
"Ninguém proibiu ninguém de ter o ensino online", advogou António Costa, recusando que o seu executivo entre "numa discussão fantasma" e que haja "preconceitos" em relação ao ensino do setor privado.
"Momentos de tensão" vão prolongar-se por mais algumas semanas
António Costa advertiu ainda que os "momentos de tensão" por causa da epidemia vão durar mais algumas semanas e assumiu que não teria aligeirado medidas no Natal se já se conhecesse o impacto da variante inglesa.
"Vamos ter esta tensão ainda por mais umas semanas seguramente", declarou.
Sobre a evolução da situação epidemiológica em Portugal, o líder do executivo referiu que se deverá atingir "um momento em que o número de novos casos por dia vai deixar de subir, perdendo força a variação diária".
"Mas só depois disso começaremos a baixar o número de pessoas que carecem de internamento. E só depois disso começaremos a baixar o número de óbitos por dia. Portanto, não vale a pena alimentarmos a ilusão de que não estamos a enfrentar o pior momento. Vamos continuar a enfrentar o pior momento ainda durante as próximas semanas", avisou o primeiro-ministro.
O antigo dirigente do PSD José Pacheco Pereira criticou o caráter errático das medidas adotadas pelo Governo no combate à epidemia de covid-19 e António Costa foi mesmo questionado sobre o que teria feito diferente se soubesse aquilo que sabe hoje sobre a doença.
"Olhando agora, se tivéssemos tido conhecimento atempado da existência da variante inglesa [do novo coronavírus], seguramente, o quadro das medidas que foram definidas para o Natal teria sido diferente. Seguramente, as restrições que entraram em vigor no princípio de janeiro teriam entrado em vigor, provavelmente, logo no dia 26 de dezembro", assumiu.
Segundo António Costa, quando foram definidas as medidas para o Natal, "havia uma greve de fome à porta da Assembleia da República para exigir o aumento do número de horas de funcionamento dos restaurantes".
"A realidade [dos números da epidemia] que temos hoje não é a realidade que temos presente quando as decisões são tomadas. Entre o momento em que se toma a decisão e ela produz efeitos temos normalmente 14 dias de espera. Ou seja, as medidas tomadas na semana passada, em princípio, começam a ter efeitos nos números que vamos conhecer na próxima semana", alegou.
Interrogado se Portugal vai pedir ajuda internacional para que sejam acolhidos doentes, ou para a requisição de profissionais de saúde de outros Estados-membros da União Europeia, o primeiro-ministro revelou-se prudente sobre esta matéria.
"A chanceler [alemã] Angela Merkel, no princípio da semana, manifestou-me a disponibilidade da Alemanha para apoiar. Mas, infelizmente, não há condições para disponibilizar médicos ou enfermeiros e aquilo que a Alemanha tinha condições de disponibilizar eram ventiladores, mas não é isso que nos está a faltar", referiu.
António Costa adiantou que já foi colocada a hipótese de acolhimento internacional de doentes com outras patologias não covid-19, cujo tratamento não prioritário tem estado a ser adiado, mas, também aqui, até agora, não terão existido desenvolvimentos relevantes.
"É preciso ter alguma cautela em relação a essa ideia de que há um estrangeiro para onde é possível enviar doentes. Nas zonas de fronteira temos essa relação com Espanha, mas é diferente um país com a posição geográfica de Portugal e outro país que está no centro da Europa, tendo vários com quem faz fronteira. Nestes casos, a cooperação transfronteiriça é muito mais habitual e muito mais fácil", observou o líder do executivo.
O primeiro-ministro procurou depois deixar uma garantia: "Sem qualquer preconceito em relação a setores público ou social, ou em relação a nacional ou estrangeiro, o Governo não regateará esforços, nem deixará de recorrer a qualquer meio que esteja disponível, para assegurar o tratamento de quem quer que seja nas circunstâncias que elas existirem".
"Mas é preciso é saber se elas existem. Provavelmente, estamos a assistir à primeira vaga que não vem de leste para oeste e que vai de oeste para leste. Espero que não. Espero que fique na nossa fronteira", acrescentou.
Costa espera que segundo mandato do Presidente da República seja igual ao primeiro
No mesmo programa, o primeiro-ministro afirmou também que espera que o segundo mandato do Presidente da República seja igual ao primeiro.
"Espero que o segundo mandato seja igual ao primeiro. Aquilo que estas eleições traduziram foi claramente um apreço generalizado e transversal à sociedade portuguesa pela forma como Marcelo Rebelo de Sousa exerceu o seu primeiro mandato", sustentou o primeiro-ministro.
António Costa considerou depois que "foi esse voto de confiança na continuidade que se traduziu no resultado eleitoral de domingo passado".
De acordo com o líder do executivo, até agora, Marcelo Rebelo de Sousa, tal como antes aconteceu com Cavaco Silva, tem mantido uma "adequada relação institucional com o Governo".
"O Presidente da República nunca deixou de ser exigente com o Governo, seja nos bons momentos, como na saída de Portugal do procedimento por défice excessivo, quer nos momentos difíceis, como nos incêndios de 2017 ou na atual pandemia de covid-19", disse.
Em relação aos resultados eleitorais das presidenciais de domingo passado, falando como secretário-geral do PS, António Costa disse o seguinte: "Dos socialistas que conheço, todos tiveram razões para festejar", apontou, referindo-se aos que votaram em Marcelo Rebelo de Sousa, Ana Gomes ou João Ferreira.
Neste ponto, António Costa disse que "houve muita gente que apoia o Governo que votou no candidato vencedor e há também seguramente outras pessoas que apoiam o Governo e que votaram em Ana Gomes ou em João Ferreira".
"Em relação aos resultados alcançados pelo líder do Chega, André Ventura, que ficou em terceiro nas presidenciais, António Costa defendeu que têm "causas várias, uma delas em consequência da excessiva centralidade que lhe foi atribuída".
Sobre eleições presidenciais, só mesmo na parte final António Costa falou na candidatura da eurodeputada do Bloco de Esquerda Marisa Matias, que ficou em quinto lugar e perdeu cerca de 300 mil votos em relação ao ato eleitoral de 2016.
"Dos partidos que têm estado na base de apoio ao atual Governo, se houve alguém que teve claramente uma penalização em relação há cinco anos foi Marisa Matias, que passou de 10% para um resultado claramente inferior. Se isso tem alguma relação com aquilo que tem sido a última postura do Bloco de Esquerda, isso não sei dizer e os comentadores políticos poderão dizer melhor do que eu. Mas eu diria que deve ter alguma relação", acrescentou, numa alusão ao facto de os bloquistas terem votado contra a proposta do Governo de Orçamento do Estado para 2021.
[Notícia atualizada às 23:45]
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