Guterres nasceu e estudou em Lisboa: terminou o liceu (no Liceu Camões) com média de 18, recebendo o Prémio Nacional dos Liceus em 1965. O curso de Engenharia Eletrotécnica, no Instituto Superior Técnico, foi o escolhido: licenciou-se 1971, com média de 19, e foi durante algum tempo docente nessa instituição, lecionando a disciplina de Teoria de Sistemas e Sinais de Telecomunicações.

Durante a faculdade, fez parte Grupo da Luz, onde participavam, entre outros, Marcelo Rebelo de Sousa, Carlos Santos Ferreira e o padre Vítor Melícias.

O Grupo da Luz era formado por um conjunto de “alunos de diversas faculdades, diria até, se calhar as melhores cabeças daquele tempo, motivados por Guterres e Marcelo Rebelo de Sousa, a quem eu dava assistência, acolhimento, apoio e participava na celebração aqui em casa [Seminário da Luz] na eucaristia, ou no debate social e político – era o tempo da Guerra Colonial, da PIDE”, explicou o padre Vítor Melícias ao Correio da Manhã (edição de 5 de julho de 2007).

Foi o mesmo padre Melícias quem celebrou o casamento de Guterres e Luísa Amélia Guimarães e Melo, em 1972, um ano depois de terminar o curso. Luísa Melo morreu a 28 de janeiro de 1998, vítima de cancro. Guterres casou pela segunda vez, com Catarina de Almeida Vaz Pinto, em 2001.

O envolvimento na política partidária começou, segundo o próprio, apenas em 1974. Para trás ficaram alguns anos de trabalhos em movimentos associativos de acção social ligados à Igreja Católica. Disse Guterres, em entrevista à jornalista Anabela Mota Ribeiro: "Não tive uma actividade política significativa antes do 25 de Abril. O meu envolvimento foi em questões de natureza social. Fui lentamente, com isso, despertando para opções políticas. Entrei para o PS justamente no dia 25 de Abril de 74."

Em 1976, estreou-se como deputado na Assembleia da República, e foi presidente da Assembleia Municipal do Fundão, entre 1979 e 1995. Manteve-se como deputado ao longo dos anos, eleito pelo círculo de Castelo Branco, de onde é oriunda a família. Em 1983 ocupou o cargo de Presidente da Comissão Parlamentar de Demografia, Migrações e refugiados na Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa..

Em 1992, foi eleito secretário-geral do PS, derrotando Jorge Sampaio. Começou a partir de então uma forte oposição ao governo de Cavaco Silva. Chegou ao cargo de Primeiro-ministro a 28 de outubro de 1995, com um governo minoritário, e o mesmo voltaria a acontecer quando voltou a vencer as eleições legislativas em 1999.

Em dezembro de 2001 pediu a demissão do cargo de Primeiro-Ministro, como consequência dos maus resultados que o PS obteve nas eleições autárquicas.

Em 2005 foi nomeado para o cargo de Alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados, que exerceu até dezembro de 2015.

Gafes e outros momentos

A gafe do PIB

Corria o ano de 1995, António Guterres era candidato a primeiro-ministro, eleição que viria a ganhar, quando foi questionado sobre o Produto Interno Bruto (PIB). Guterres não só errou no valor do PIB, como esteve durante 25 segundos a tentar fazer contas de cabeça, muito atrapalhado.

“Ah... São... O PIB é cerca de 3 mil milhões de contos. Portanto. Ahhh. Ora 6% de 3 mil milhões... Seis vezes três 18... Um milhão e... ah... Ou melhor... Enfim, ah, aah... É fazer as contas”, comentou Guterres.

Guterres, Portas e a arroba

Durante a campanha para as legislativas de 1999, António Guterres, então primeiro-ministro, propôs-se fazer seis debates televisivos, contra cada um dos partidos da oposição: cinco com 30 minutos e o último, entre os líderes do PS e do PSD, com uma hora.

Durante o debate com Paulo Portas, José Alberto Carvalho mostrou a Guterres e a Portas uma folha com o símbolo @ e perguntou se os dois sabiam o que era. Guterres calou-se, não sabendo claramente do que se tratava, e Paulo Portas, depois de algum tempo, acertou, dizendo tratar-se de uma arroba.

É verdade que os tempos eram outros e que muito provavelmente nenhum dos dois usava um computador com alguma regularidade, mas esse foi um dos momentos caricatos da campanha.

O Orçamento Limiano

Para conseguir a maioria necessária para fazer passar o Orçamento do Estado, o PS juntou-se ao deputado Daniel Campelo.

Campelo viabilizou os Orçamentos de Estado de 2001 e 2002 a António Guterres, a troco de vários investimentos públicos no concelho de Ponte de Lima, do qual era autarca.

O pedido de desculpas

Durante uma entrevista a RTP, em 2012, Guterres assumiu que teve alguma responsabilidade na crise em que Portugal se encontra, e no facto de o país não ter conseguido melhores níveis de desenvolvimento.

"Todos aqueles que exerceram funções em Portugal terão tentado fazer melhor ou pior, mas obviamente têm uma responsabilidade no facto de até hoje não termos sido capazes de ultrapassar esses défices tradicionais, essa incapacidade tradicional, para competir em plano de verdadeira igualdade com os nossos parceiros, nomeadamente no quadro europeu”, disse então o ex-primeiro ministro.