Ao final da noite, a deputada adiantou, ao Observador, mais algumas farpas: diz que nunca teve o apoio da direção do partido. “Fui eu que ganhei as eleições, sozinha, e a direção quer ensinar-me a ser política”.

Joacine diz que mesmo antes da campanha eleitoral “a falta de apoio” já era notória. O apoio, esse, só veio “de quem não era do partido”, diz ao jornal. E vai mais longe: na noite das legislativas, “alguns membros da direção” festejaram a subvenção partidária, antes sequer de a cadeira de Joacine na Assembleia da República ser certa.

Desde então, o Grupo de Contacto e a deputada têm comunicado apenas através de correio eletrónico “para que tudo fique registado”, diz Joacine.

Antes destas declarações ao Observador, a deputada única do Livre garantiu que a abstenção no voto sobre a Palestina não se deveu a "um descaso desta grave situação", mas "à dificuldade de comunicação" com a direção, mostrando-se surpreendida com a posição do partido, que na manhã deste sábado criticou a abstenção.

"Assumo total responsabilidade pelo voto e devo dizer que, apesar de a abstenção não constituir um voto a favor ou um voto contra, ela não representou aquilo que tem sido desde sempre a minha posição pública sobre esta temática. Votei contra a direção de mim mesma", refere Joacine Katar Moreira em comunicado enviado à agência Lusa.

Segundo a deputada única do Livre, a abstenção no voto de condenação pela "nova agressão israelita a Gaza", apresentado pelo PCP, "não se deveu a uma falta de consciência ou descaso desta grave situação, mas à dificuldade de comunicação" entre a própria e a atual direção do Livre, da qual é "parte integrante”.

"Foram três dias de contacto infrutífero para saber dos posicionamentos da direção relativos ao sentido de voto das propostas que nos chegaram, onde esta constava", afirma. Assim, Joacine Katar Moreira decidiu abster-se “por prudência, acreditando estar a defender a posição do partido” e não a sua.

“Foi, então, com surpresa que recebi hoje, como todos vós, a posição da direção do partido, o Grupo de Contacto, a distanciar-se da minha abstenção”, sustenta.

O Livre manifestou este sábado preocupação com a abstenção da deputada única Joacine Katar Moreira na condenação pela "nova agressão israelita a Gaza", aprovado na sexta-feira no parlamento, um voto "em contrassenso" com o programa e as posições do partido, de acordo com o comunicado do Grupo de Contacto, a direção do partido.

Na sexta-feira, em plenário da Assembleia da República, foi aprovado um voto apresentado pelo PCP de "condenação da nova agressão israelita a Gaza e da declaração da Administração Trump sobre os colonatos israelitas", texto que teve votos contra de PSD, CDS-PP, Chega e Iniciativa Liberal, bem como a abstenção da deputada única do Livre, Joacine Katar Moreira, e do deputado socialista Ascenso Simões.
“Ainda estamos em aprendizagem”, admite a deputada, sobre um partido com seis anos e a primeira eleição o primeiro deputado no hemiciclo: o Livre “ainda está a aprender”, refere.

O desencontro marcou, assim, a festa: onde, entre os cerca de 80 apoiantes, estiveram também quer o líder do partido, Rui Tavares, quer a única deputada, Joacine Katar Moreira.

Aliás, Tavares saiu algum tempo durante a noite, para os compromissos com a RTP. Foi no canal público que disse que o argumento da impossibilidade de falar com a direção do partido “não colhe”. “Conhecendo bem a forma de funcionamento do partido e sabendo que é uma direção colegial de 15 pessoas, em que é sempre possível apanhar alguém ao telefone, este argumento para mim não colhe.”

Este domingo, o Livre reúne em assembleia — e, em janeiro, vai a eleições.

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