"A operação era necessária, vai ser um êxito, mas não é suficiente. É preciso um pacote completo. De reconstrução de mentalidades, de pessoas, de relações e só depois as localidades. É preciso um processo de reconciliação", disse à Lusa Bashar Warda.
O arcebispo católico de rito caldeu, que visita Portugal pela primeira vez, encontra-se em Lisboa para dar um testemunho da situação que vive a comunidade cristã no Iraque, especialmente em Erbil, capital do Curdistão iraquiano, por ocasião da apresentação pública, esta tarde, do relatório sobre Liberdade Religiosa no Mundo da fundação católica Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).
Mossul "é uma cidade muito antiga", onde "não se pode negar, nem apagar toda uma história de quase dois mil anos num só dia", afirmou o arcebispo.
Bashar Warda sublinhou que os refugiados no Curdistão iraquiano "estão à espera" da libertação de Mossul, para saber se a zona ficará segura e conhecer a "seriedade do governo na reconstrução das localidades e da estrutura social".
A diocese de Erbil acolheu desde o verão de 2014 mais de 120 mil refugiados iraquianos em fuga do EI, que assumiu o poder em Mossul, Qaraqosh e Karamles.
"Só com uma vontade séria [das autoridades], as pessoas estarão dispostas a regressar às terras que foram obrigadas a deixar", afirmou Bashar Warda.
Sobre o envolvimento da nova administração norte-americana, sob a liderança do presidente eleito Donald Trump, o arcebispo afirmou "esperar que faça a diferença", uma vez que a sua prioridade é combater o EI.
"O 'Daesh' (acrónimo árabe de Estado Islâmico) é um cancro para toda a zona e precisamos que todos, incluindo os países muçulmanos, participem", acrescentou.
O responsável religioso apelou para um maior envolvimento do Ocidente na região, "no trabalho de reconciliação", na defesa dos "direitos das minorias" e para garantir "fundos para a reconstrução".
Uma das responsabilidades do Ocidente "é ajudar os cristãos que queiram ficar a prosperar", disse.
Bashar Warda destacou os contributos da comunidade cristã no Médio Oriente na educação e na saúde, reconhecidos e apoiados pelas restantes comunidades no Iraque e no Líbano, por exemplo.
"Os cristãos são necessários no Médio Oriente, que sofre uma violência brutal, a maldade, e para responder a esta maldade são provavelmente necessárias resoluções económicas e soluções políticas, mas pessoalmente penso que é necessário sobretudo perdão", afirmou.
A Portugal, onde fica até segunda-feira, o arcebispo Bashar Warda pediu orações e sensibilização para a situação dos cristãos desaparecidos, bem como ajuda material, que "é o mais necessário agora".
O relatório sobre Liberdade Religiosa no Mundo é apresentado esta tarde, em Lisboa, pelo deputado Fernando Negrão (PSD), presidente do grupo parlamentar informal de Solidariedade para com os Cristãos Perseguidos, contando com o testemunho de Bashar Warda.
O documento conclui que a liberdade religiosa voltou a diminuir entre 2014 e 2016, sobretudo devido à violência de um "hiper-extremismo islâmico".
A fundação AIS, que analisou a situação de 196 países entre junho de 2014 e junho deste ano, considera que em sete países - Afeganistão, Iraque, Nigéria, Coreia do Norte, Arábia Saudita, Somália e Síria -, a situação global era "já tão má" que "dificilmente podia piorar".
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