A venda da arma Lefaucheux, de calibre de 7 mm, foi concluída por telefone, por um comprador que não optou por não revelar a sua identidade. O valor estava estimado algures entre os 40 e os 60 mil euros, com a base de licitação nos 20 mil euros.

Esta é supostamente a arma que Van Gogh terá utilizado para pôr termo à vida a 27 de julho de 1890, quando o mestre holandês terá caminhado até um campo próximo da hospedaria onde estava instalado, junto à vila de Auvers-sur-Oise.

Segundo os relatos, o pintor terá levantado a camisa e atirado no próprio peito com esta arma, pertencente ao proprietário do estabelecimento. O revólver terá então caído das mãos de Van Gogh, que, ferido, voltou para a pensão. Não tendo um calibre suficiente para causar uma morte imediata, a arma, porém, provocou ferimentos que levaram ao falecimento do holandês dois dias depois.

A suposta arma utilizada neste suicídio foi apenas encontrada em 1965, quando um agricultor a descobriu, muito danificada, nesse mesmo campo, tendo-a entregado a Arthur Ravoux, proprietário dessa hospedaria. Desde então, o objeto terá permanecido na família, conta a casa de leilões AuctionArt.

O revólver foi apresentado publicamente pela primeira vez em 2012 com o lançamento do livro "Aurait-on retrouvé l'arme du suicide?" ("Teria-se encontrado a arma do suicídio?"), o qual narra a história desta arma. Em 2016, o museu criado em seu nome em Amsterdão apresentou a arma, na exposição "Nos confins da loucura, a doença de Vincent Van Gogh".

Apesar da autenticidade deste revólver nunca ter sido completamente comprovada, existem vários indícios que tornam verossímil a hipótese de que o artista se terá suicidado com esta arma. Uma análise efetuada ao revólver concluiu que este permaneceu enterrado entre 50 e 80 anos, janela de tempo que coincide com a morte de Van Gogh e com a descoberta da arma. Para além disso, foi encontrada no local da tentativa de suicídio e o seu calibre corresponde ao descrito pelo doutor Paul Gachet, que cuidou do pintor até à sua morte.

Contudo, como reporta a BBC, o Instituto Van Gogh criticou o leilão, considerando-o a "comercialização de uma tragédia que merece mais respeito", e relembrou que "nada sugere que os destroços [da arma] estão formalmente ligados à morte de Van Gogh".

Apesar de ter morrido ainda no século XIX, o génio artístico e as crises de loucura de Van Gogh continuam a causar fascínio no mundo da arte, sendo o mais notório exemplo quando em 1888 cortou a própria orelha numa luta com seu amigo e pintor Paul Gauguin, tendo alegadamente sido oferecida a uma prostituta.

O artista instalou-se em Auvers-sur-Oise dois meses antes do seu suicídio, aconselhado pelo irmão, Théo, após passar um ano numa instituição para doentes mentais. Nesta fase, o pintor estava no auge da carreira, pintando mais de uma obra por dia, mas, ao mesmo tempo, era vítima de grandes crises psicológicas que se acentuaram pouco antes da sua morte.