A vacina, fruto do trabalho de uma equipa da Universidade de Helsínquia, procura dar às abelhas a resistência necessária para combater doenças microbiais graves, potencialmente mortais para as comunidades de polinizadores.

"Se podemos salvar mesmo que seja apenas uma pequena parte das abelhas com esta invenção, acredito que faríamos uma boa ação, ajudando a salvar um pouco o mundo", declarou Dalial Freitak, investigadora que dirige o projeto.

Nos últimos anos, as abelhas têm sido dizimadas pela misteriosa síndrome do Colapso das Colónias (CCD, sigla em inglês), que é atribuída aos ácaros, pesticidas, vírus e fungos, ou a uma mistura destes fatores.

Segundo a ONU, mais de 40% dos polinizadores invertebrados, em particular as abelhas e as borboletas, estão ameaçados de extinção, sendo que, a sua redução acentuada pode, segundo os cientistas, provocar um aumento dos preços de alimentos e, consequentemente, o risco de situação de miséria.

Antes acreditava-se ser impossível vacinar insetos, já que não têm anticorpos, um dos principais mecanismos utilizados pelos humanos e outros animais para combater as doenças. Mas em 2014, Freitak, especialista em insetos e imunologia, percebeu que as borboletas alimentadas com certas bactérias transmitiam a sua imunidade à sua prole.

Freitak e Heli Salmela, que trabalhava com abelhas e proteínas, criaram uma vacina contra a Loque American, a mais difundida e devastadora entre as doenças bacterianas das abelhas, também conhecida como doença da Cria Pútrida Americana.

Neste novo procedimento, a abelha-rainha recebe o tratamento através dum cubo de açúcar, e depois transmite a imunidade à sua descendência.

A equipe afirma que "há um grande número de obstáculos regulamentares" para que a vacina seja disponibilizada no mercado e que esperar "quatro a cinco anos para que chegue ao mercado é uma estimativa otimista", considera Freitak.

Um número variado de causas

Os cientistas acreditam que as doenças são apenas uma das muitas causas da perda de polinizadores, sendo outras a agricultura intensiva, que reduz a diversidade da alimentação de insetos, e os pesticidas.

Mas a equipa de Freitak acredita que a proteção de populações de abelhas contra as doenças torná-las-á mais fortes, e portanto mais resistentes às demais ameaças.

Como exemplo de um esforço recente, União Europeia e o Canadá votaram a favor da proibição dos neonicotinoides, considerados muito nocivos para a reprodução das abelhas.

Segundo um estudo da ONU publicado em 2016, o equivalente a 507 mil milhões de euros em alimentos cultivados por ano dependem diretamente dos polinizadores, sendo que o volume desses alimentos aumentou 300% nos últimos 50 anos.

Com a diminuição de polinizadores, alguns agricultores recorreram ao aluguer de abelhas ou à polinização manual, como é o caso das árvores frutíferas em algumas regiões da China.

Em Helsínquia, o projeto é apoiado por financiamento externo, mas a equipa tenta continuar as suas investigações na Universidade de Graz, na Áustria, a do célebre zoólogo Karl von Frisch. As suas descobertas sobre a dança das abelhas como método de comunicação e sua aplicação à linguagem humana renderam-lhe o prémio Nobel da Medicina em 1973.