A Cimeira da "ambição climática”, convocada pela ONU, pelo Reino Unido e pela França, em parceria com o Chile e com a Itália, realizou-se hoje — virtualmente — exatamente o dia em que se assinalam os cinco anos do Acordo de Paris (assinado a 12 de dezembro de 2015).

Em substituição da Cimeira de Glasgow (a COP26), marcada para o mês de novembro, mas adiada para 2021 devido à pandemia de covid-19, o evento juntou virtualmente dezenas de líderes.

Na abertura, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pediu aos líderes mundiais que declarem o estado de emergência climática nos seus países até que se consiga atingir a neutralidade carbónica. Aos países subscritores do Acordo de Paris pediu que tenham "metas claras de curto prazo" que se reflitam nas contribuições determinadas nacionalmente que estão obrigados a apresentar a tempo da próxima conferência das partes do acordo.

Na cimeira de hoje não participaram os Estados Unidos, que saíram — formalmente —  este ano do Acordo de Paris pela mão de Donald Trump. No entanto, o Presidente eleito, Joe Biden, não passou a data em silêncio.

"Os Estados Unidos regressarão ao Acordo de Paris no primeiro dia da minha presidência", afirmou numa declaração hoje divulgada.

"Vou começar a trabalhar com os meus homólogos por todo o mundo para fazermos tudo o que pudermos, incluindo juntar os líderes das maiores economias para uma cimeira climática nos primeiros cem dias da minha presidência", declarou Biden.

Para além de Guterres e Biden, outra voz se destacou. Falando a partir do Vaticano, o Papa Francisco salientou que os efeitos das alterações climáticas no mundo têm "repercussões nas vidas dos mais pobres e mais fracos", defendendo que é preciso "promover uma cultura de cuidado, de dignidade humana e de bem comum" que se traduza em estratégias para conseguir a neutralidade nas emissões. De acordo com a agência Reuters, que cita um comunicado do Vaticano, a cidade-estado dará o exemplo comprometendo-se a atingir a neutralidade nas emissões de carbono até 2050.

A conferência também teve eco em Portugal. O ministro do Ambiente lembrou que Portugal foi o primeiro país a assumir a neutralidade carbónica até 2050, enquanto Augusto Santos Silva destacou o papel da ONU e de António Guterres, no âmbito das metas definidas pelo Acordo de Paris. O movimento ambientalista Climáximo saiu à rua e criticou o que consideram um acordo “totalmente ineficaz” para travar o aquecimento global, com uma marcha fúnebre por Lisboa para enterrar “o institucionalismo, que não vai salvar da crise climática”.

Os objetivos do Acordo de Paris fixados em 2015 vão ser confirmados em 2021 na conferência das partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as alterações climáticas, quando se espera que os cerca de 200 países signatários apresentem novas contribuições determinadas nacionalmente e metas concretas de neutralidade carbónica.

O objetivo último do Acordo é conseguir limitar o aquecimento global até ao fim do século, impedindo que ultrapasse os dois graus centígrados acima da temperatura média da era pré-industrial, mas mantendo-o idealmente nos 1,5 graus.