O Clube da Arrábida, que representa cerca de 350 moradores, comerciantes, proprietários e utentes da praia do Portinho, critica a opção por uma estrutura fixa de grande dimensão, que irá trazer mais turistas, mas que, dizem, "tem um impacto visual muito negativo".
"Isto projeta um pontão metálico 45 metros para dentro da baía do Portinho, o que é uma barbaridade colossal. Para o cais funcionar com maré cheia e maré-baixa, projetaram isto muito para fora, porque a baía do Portinho está completamente assoreada e, na maré vazia, os barcos não conseguiriam chegar lá", disse à agência Lusa Pedro Vieira, porta-voz do Clube da Arrábida.
"O cais flutuante vai subir e descer consoante a maré, mas o passadiço é fixo e, com a maré vazia, vai ficar a cerca de três metros de altura e vai desvirtuar completamente a beleza natural daquela baía. Se fosse um cais pequeno, que saísse uns cinco metros da muralha para fora, tudo bem. Mas uma coisa com 45 metros é fazer uma estrada pelo mar dentro", criticou.
Além de considerar que o passadiço, tal como está projetado, constitui um atentado ambiental, Pedro Vieira alerta para a necessidade de se resolver o que diz ser o principal problema do Portinho: "a falta de areia na praia".
"Qualquer investimento feito no Portinho da Arrábida sem se atacar primeiro o problema de raiz, que é o desassoreamento, é deitar dinheiro pela janela. O Portinho vai continuar a desassorear a um ritmo brutal. Conforme revelou, o ano passado, um parecer do LNEC (Laboratório Nacional de Engenharia Civil), o Portinho já perdeu 70% da areia da praia. Qualquer obra que seja feita, que não contemple o enchimento de areia, de hoje para amanhã vai estar em seco", acrescentou.
Pedro Vieira reconhece que a referida infraestrutura pode ajudar a trazer mais pessoas, por via marítima, para o Portinho da Arrábida, e aproveitar o aumento da procura turística daquela zona paradisíaca, mas lamentou que não tivesse sido realizado qualquer estudo de impacte ambiental para a construção da nova ponte-cais.
"Numa área protegida onde não se pode meter um grão de areia sem um estudo de impacto ambiental, é possível construir, mar dentro, uma estrutura fixa de 45 metros de comprimento sem qualquer estudo de impacto ou qualquer consulta pública", disse.
Apesar de várias tentativas, não foi possível confrontar a presidente da câmara de Setúbal, Maria das Dores Meira, com as críticas do Clube da Arrábida à construção da nova ponte-cais, tal como está projetada.
No entanto, o capitão do porto de Setúbal, Luís Lavrador, confirmou à agência Lusa que se trata efetivamente da construção de uma ponte-cais com base num projeto antigo do ICNF (Instituto para a Conservação da Natureza Florestas), que, entretanto, passou para a responsabilidade da Câmara de Setúbal, e que terá sido objeto de algumas adaptações.
A conclusão dos trabalhos de construção da nova ponte-cais do Portinho da Arrábida está prevista para o próximo mês de outubro.
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