Os responsáveis revelaram à Lusa algumas das sugestões que querem debater, à margem da sétima Convenção Nacional entre Federação Nacional de Educação (FNE), Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP) e Federação Nacional de Associações de Estudantes do Básico e Secundário (FNAEBS), que decorreu hoje em Santa Maria da Feira.
O presidente da ANDAEP, Filinto Lima, afirmou que os diretores têm um “processo limitadíssimo em relação à contratação de professores” e quer levar o assunto “para a agenda política”, porque o atual método em vigor é “uma lista cega” que gradua professores com uma “nota fria e crua” com que saíram da faculdade e que “não define um bom professor”.
“Devia haver outros critérios, como uma entrevista para que o diretor possa contratar professores. Os sindicatos são contra esta ideia, a contratação de professores é um tema tabu, os sindicatos não querem debater, os ministros têm receio, mas estamos numa altura em que o assunto tem de deixar de ser tabu”, defendeu.
Outro tema que quer trazer para a luz do dia é o modelo de acesso ao ensino superior, mostrando incompreensão com o atual sistema em vigor que “vive à custa dos resultados dos exames – que são os donos disto tudo“ e que têm “uma ponderação muito elevada”, exemplificando que um 18,2 como nota não define um futuro médico, porque este, além de boas notas, tem de “ter uma parte humana essencial à profissão”.
“Focar só num número é redutor, o modelo de acesso ao ensino superior é um debate que temos de fazer. Desafio os reitores a fazê-lo ao nosso lado, que não estão nada interessados nesse debate – eu percebo porquê –, mas não pode ser um assunto tabu. Temos de discutir. Se achamos todos que o caminho é este, temos de falar”, frisou.
Filinto Lima saudou a abertura de bolsas de contratação para substituir funcionários ausentes, mas revelou que a ANDAEP quer a revisão da portaria 272 de 2017, que calcula os rácios, ou seja, o número de funcionários que cada escola deve ter, mostrando estupefação como esta não tem em conta a volumetria das escolas, que “hoje são enormes e não é por isso que há mais funcionários”.
“Vamos pedir a revisão da portaria. É um pedido muito direto ao Ministro das Finanças, que hoje tomou posse. Tem de tratar da educação de forma diferente da legislatura anterior. Tem que investir mais em recursos humanos e físicos para que a escola pública assuma o seu papel de charneira, mas que pode ser potenciado tendo em conta o aumento de qualidade para o qual trabalhamos”, apontou.
João Dias da Silva, secretário-geral da FNE, quer que haja respeito pelas “longas carreiras dos professores que não vêm reconhecido o direito a um regime especial de aposentação, que tenha em conta o desgaste físico e psicológico” que a profissão implica e vai pedir uma reunião ao Ministério da Educação na segunda-feira.
“Vamos levar um documento que é o roteiro para a legislatura. É um conjunto de propostas concretas sobre vários problemas que afetam a educação e devem ser resolvidos, vamos propor ao Governo o início de processos negociais em que as nossas propostas sejam ouvidas. Vamos procurar pontos de convergência porque o apelo que fazemos nesta altura é à disponibilidade do Ministério da Educação para o diálogo e concertação”, indicou.
Por seu lado, Jorge Ascenção, presidente da Confap, mostrou preocupação não só com a falta de auxiliares de educação, mas com a formação durante a sua carreira, no sentido de “competências e habilitações para trabalhar com as crianças”.
“Por exemplo, gestão de conflitos ou questões de personalidade, isolamento, ‘bullying’, como se trabalham com estas crianças. Esse caminho ainda tem de ser feito. O Governo tem a responsabilidade de pensar na continuidade e sustentabilidade do sistema educativo”, apontou.
Referiu ainda que se trata de uma classe, quer docentes e auxiliares, com “responsabilidades muito importantes no desenvolvimento, educação e transmissão de valores de crianças e jovens que serão a sustentabilidade da nossa sociedade”, admitindo que também a Confap vai pedir uma reunião com o ministério da Educação, na segunda-feira.
Comentários