Um dos locais ocupados pelo movimento estudantil "Fim ao Fóssil: Ocupa!" ameaça tornar-se um ponto de tensão numa série de protestos até agora pacíficos e sem incidentes de maior.

Cerca de 20 ativistas estão a ocupar o átrio da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL) desde 7 de novembro. Esta sexta-feira, a direção da instituição universitária fez um ultimato aos estudantes em protesto, dizendo-lhes que tinham de abandonar o local até às 19:00 e chamando a polícia ao local.

No entanto, o prazo foi alargado e, com agentes da Polícia de Segurança Pública a fazer intermediação, os ativistas reuniram com a direção para negociar um desfecho, mas nenhuma das partes cedeu.

Ao SAPO24, António Assunção, um dos porta-vozes do movimento, disse que os estudantes tinham até às 22:00 como prazo final para sair e que os agentes, que tinham desmobilizado do local, regressaram às imediações, tendo organizado um cerco em redor da FLUL.

Neste momento, não se sabendo o desfecho da ação de ocupação, os alunos prometem que não vão ser demovidos e que só sairão se forçados, sublinhando, contudo, que o farão de forma pacífica. No entanto, apelam a que mais pessoas se concentrem no local.

"Estão a aparecer mais pessoas em solidariedade, entre as quais professores", adiantou Alice Gato, outra das porta-vozes do movimento, durante a tarde, ressalvando que se os ativistas "forem detidos, há planos de convocar uma concentração".

A porta-voz adianta que, a uma primeira fase, a permanência dos ativistas no local estava dependente de não fazerem barulho, sob ameaça se serem chamadas as autoridades. No entanto, "eles pararam de fazer barulho mas chamou-se a polícia à mesma", lamenta Alice Gato.

Na página de Instagram do grupo estão publicados vídeos onde é possível ver agentes da Polícia de Segurança Pública a falar com os ativistas.

No entanto, a mesma referiu que os agentes no local têm-se mostraram-se reticentes a fazer uso da força para retirar os ativistas, estando a fazer a ponte entre o movimento climático e a direção. "Querem negociar com o diretor, mas não se sabe ainda se este pretende negociar ou não", afirmou Alice Gato.

Questionada porque é que não são os alunos a falar diretamente com os dirigentes universitários, a porta-voz adianta que "a  direção está muito contra esta ação", sugerindo até que o diretor, Miguel Tamen, tem revelado ceticismo quanto às alterações climáticas, alegação baseada em "em reuniões tidas com os alunos".

O SAPO24 tentou contactar tanto o gabinete de comunicação da FLUL como o Comando Metropolitano de Lisboa da PSP, não tendo obtido resposta.

Esta tarde, em outro dos espaços ocupados, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), os ativistas foram também ameaçados "com uma ordem de despejo". "Se eles não saíssem pelas 17:00, iam ser retirados, mas ainda não apareceu  a polícia por lá", informa a porta-voz.

Entretanto, na conta de Telegram onde os ativistas têm veiculado os desenvolvimentos das suas ocupações, foi publicado que os ocupantes da FCUL se mudaram para o relvado junto ao edifício C8 do campus e que há a possibilidade do despejo ter sequência ainda hoje.

Iniciado a 7 de novembro, o movimento estudantil "Fim ao Fóssil: Ocupa! previa ações nas escolas secundárias Liceu Camões e António Arroio, bem como no Instituto Superior Técnico (IST) e na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL), além das já mencionadas FLUL e FCUL.

Esta quinta-feira, o acontecimento mais mediático deu-se na António Arroio, já que perto de 70 estudantes bloquearam a escola de ensino artístico, com alguns a barricarem-se no telhado. Apesar de não pedir a intervenção das autoridades, o diretor do estabelecimento de ensino, Rui Madeira, considerou não haver condições para o prosseguimento de atividades letivas, não havendo aulas nem ontem nem nesta sexta-feira.

A iniciativa faz parte do movimento internacional “End Fossil Occupy!” que desde o início do semestre foi responsável pela ocupação de escolas nos Estados Unidos e na Alemanha e que tem como objetivo apelar ao fim da utilização de combustíveis fósseis.

Neste momento, os protestos no IST já terminaram, com os ativistas a juntarem-se às outras ações em curso. Alice Gato adianta que "a ideia é continuar a ocupação até que as reivindicações sejam atendidas".

Estas consistem no fim da exploração dos combustíveis fósseis até 2030 e também na demissão o ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva, que em maio afirmou “não ter ‘parti pris’” (preconceitos) com projetos de exploração de gás.

[Notícia atualizada às 21:46]