“É necessário reforçar-se a aposta na prevenção e no ataque à perturbação mental antes de se tornar grave; caso contrário, torna-se cada vez mais difícil resolver, com mais custos e complicações” para o próprio doente e para a família, afirma o bastonário da OPP, Francisco Miranda Rodrigues, num comunicado divulgado a propósito do Dia Mundial da Saúde Mental, que se assinala na quarta-feira.
A ordem dos psicólogos lamenta que mais de 10 anos após a criação do Programa Nacional de Saúde Mental se verifique “a inexistência de uma estratégia integrada para a promoção da saúde mental e para a prevenção das perturbações mentais”, “o aumento da prevalência da depressão e ansiedade na população portuguesa”, a “quase inexistência de seguros de saúde com cobertura para doenças mentais, ao contrário do que acontece em outros países da Europa”.
Para os psicólogos, foram 10 anos de “abandono mental” em Portugal, porque, afirmam, o programa “falhou na melhoria do acesso dos portugueses às respostas na área da saúde mental e na melhoria dos indicadores nacionais”.
“A saúde mental é mais do que psicofármacos”, adverte a OPP, lembrando que “os portugueses gastam 600 mil euros por dia em psicofármacos e continuam com acesso limitado a psicólogos” no Serviço Nacional de Saúde, a serviços de Psicologia na ADSE e outros subsistemas, e nos seguros de saúde.
Apenas em 2016, foram prescritas cerca de 30 milhões de embalagens de psicofármacos, salienta a ordem, que considera que “chegou o momento de assumir que o atual modelo está gasto e não funciona, sendo imperativo delinear-se uma estratégia que privilegie a prevenção, nomeadamente para reduzir o risco”, melhorar a identificação e o tratamento precoce e diminuir o sofrimento das pessoas e os custos associados do Estado.
Segundo o primeiro estudo epidemiológico nacional de Saúde Mental, divulgado em 2013, um em cada quatro portugueses sofre de um problema de saúde mental.
Francisco Miranda Rodrigues lamenta a “inexistência de dados relativos a 2017” disponibilizados pelo Programa Nacional, mas crê que pouco se tenha alterado “na medida em que as políticas nesta área, de um modo geral, continuam as mesmas”.
"O Programa Nacional de Prevenção da Depressão continua sem ser aplicado apesar da recetividade do Governo à proposta da OPP", adianta o bastonário, manifestando preocupação com o facto de Portugal ser dos países europeus com maior taxa de prevalência nas perturbações mentais.
Dados divulgados pela OPP referem que, atualmente, Portugal é o segundo país da Europa com maior prevalência de doenças mentais na população (com um valor quase idêntico ao da Irlanda do Norte, que ocupa o primeiro lugar) e que 43% já teve uma perturbação mental durante a sua vida.
Em apenas seis anos o número de portugueses, entre os inscritos nos centros de saúde, com depressões aumentou 43% entre 2011 (6,85%) e 2017 (9,8%), adiantam.
A Organização Mundial de Saúde escolheu como tema este ano "os jovens e a saúde mental num mundo em mudança", pois é nesta fase da vida que aparecem metade das perturbações mentais.
O bastonário apelou para a necessidade de todos fazerem da prevenção em saúde mental “uma prioridade” sob pena de se hipotecar “o futuro das crianças e jovens e de Portugal”.
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