A pandemia está a afazer aumentar a procura de cuidados pedopsiquiátricos, diz esta segunda-feira o jornal ‘Público’. Segundo aquele diário, das perturbações de ansiedade às alterações de comportamento do sono ou apetite, e, até, à ideação suicidas e comportamentos autolesivos.
No Centro Hospitalar Universitário do Porto, que engloba o Hospital de Santo António, regista-se um aumento de episódios de urgência superior a 95%, entre março e maio de 2021, quando comparado com o mesmo período de 2019, antes da pandemia.
Este aumento sente-se em todo o país, e surge depois de o total de idas à urgência ter caído para quase metade no princípio da pandemia de covid-19, indica o diário. Agora, alerta o diretor de pedopsiquiatria do Dona Estefânia, em Lisboa, os serviços não estão preparados para responder ao crescimento da procura, aumentando o tempo de espera.
Pedro Caldeira diz que “para a primeira infância, o tempo médio de espera é agora de dois meses, quando foi sempre abaixo de um mês. Para a segunda infância são três a quatro meses e, para a adolescência, são quatro a cinco meses.”
O pedopsiquiatra diz que às urgências do Dona Estefânia “estão a chegar cada vez mais miúdos na segunda infância, em idade escolar, com quadros de ansiedade e depressão, à semelhança dos adolescentes.” As urgências deste hospital de Lisboa funcionam 24 horas por dia, todos os dias, e recebem também os doentes do Algarve e do Alentejo.
A Norte, um estudo sobre a procura de cuidados pedopsiquiátricos urgentes mostra que a procura no Centro Hospitalar Universitário do Porto não foi sempre igual. Depois da queda para metade entre março e maio do ano passado (os meses do primeiro confinamento por causa da pandemia em Portugal), seguiu-se “uma evolução gradual para níveis equiparáveis do período homólogo do ano pré-pandemia”, cita o ‘Público’.
Comparando com os mesmos meses de 2019, entre março e maio deste ano (agora coincidindo com o segundo desconfinamento), a procura aumentou 95%.
Se durante o primeiro confinamento, em 2020, os motivos que levavam os mais novos a estes serviços tinham a ver com alterações de comportamento, nomeadamente o alimentar, no segundo período de isolamento, as idas às urgências mudaram, aumentando a taxa de admissão por ideação suicida, “tendo os comportamentos auto-lesivos não suicidáreis e comportamentos suicidáreis atingido o pico de admissões após este período”, diz a pedopsiquiatra Otília Queirós, que, ainda assim, não liga diretamente o aumento da procura à pandemia , dada a “multiplicidade de fatores envolvidos: confinamento, isolamento social, dificuldades familiares, ensino à distância, pressão escolar, interferência no processo de socialização dos adolescentes…”, cita ainda o Público.
Já Pedro Caldeira apronta o dedo à informação: “os pedopsiquiatras não sentir privado têm os consultórios cheios e os psicólogos também e só têm a agradecer à comunicação social”. Para o médico, é um dos efeitos de, mais do que nunca, esta pandemia ter levantado as questões da saúde mental: “aumentou-se a sensibilidade para estes problemas e os serviços públicos ficaram sobrecarregados, porque os recursos são os mesmos” — e são poucos.
“É inacreditável a falta de médicos nesta área. Em todo o Algarve há um pedopsiquiatra e não está a tempo inteiro, Setúbal tem neste momento duas pedopsiquiatras, Santarém tem uma e Évora tem outra, mas está de baixa”, diz.
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