O tema começou por 'entrar' na campanha autárquica através do secretário-geral do PS, António Costa, que defendeu, no domingo, que “era difícil imaginar tanto disparate, tanta asneira, tanta insensibilidade” como a Galp demonstrou no encerramento da refinaria de Matosinhos, prometendo uma “lição exemplar” à empresa, que encerrou em abril a última unidade de produção desta refinaria, na sequência da decisão de concentrar as operações em Sines.
A reação a estas declarações não tardou, principalmente à esquerda, com a coordenadora do BE, Catarina Martins, a criticar o “exercício de cinismo” de António Costa em relação à Galp, considerando que o primeiro-ministro “não pode estar chocado” depois de nada ter feito para impedir os despedimentos.
“O que é que pensará um trabalhador da refinaria da Galp quando ouve a mesma pessoa que impediu qualquer mudança que protegesse o seu emprego, uma vez despedido, a dizer que aquilo que não podia ter acontecido? A política não pode ser esse exercício de cinismo, a política tem de ser sobre soluções para a vida das pessoas”, condenou, no final de uma ação de campanha autárquica na Feira de Espinho, distrito de Aveiro.
Na mesma linha, Jerónimo de Sousa acusou o primeiro-ministro de estar agora a “carpir mágoas” pelos trabalhadores da refinaria da Galp em Matosinhos, quando a “passividade e cooperação” do Governo permitiram que o despedimento coletivo acontecesse.
“Bem pode o primeiro-ministro vir carpir mágoas sobre os trabalhadores, como ainda ontem se viu, ao acusar a Galp de falta de consciência social a propósito dos despedimentos. Como se o capital monopolista, como se as grandes empresas, tivessem coração em vez de um cifrão”, sustentou o secretário-geral comunista, durante um contacto com a população de Odemira, no distrito de Beja.
Já o líder do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, em campanha pela Madeira, aconselhou Costa a não ser um “papão dos empresários”, criticando a postura que assumiu sobre a Galp, quando deu o encerramento da refinaria de Matosinhos como exemplo de aposta nos desafios ambientais.
Em declarações à Lusa em Braga, o presidente da Iniciativa Liberal (IL), João Cotrim Figueiredo, criticou o "radicalismo" das declarações de António Costa sobre a Galp, sublinhando que um responsável político “não pode ameaçar uma empresa”, seja ela pública ou privada.
Já André Ventura, presidente do Chega disse, em Santarém, que as declarações do primeiro-ministro e líder socialista sobre o comportamento da Galp em Matosinhos são de “uma grande hipocrisia”.
Inês Sousa Real, porta-voz do PAN, afirmou que o encerramento da refinaria da Galp em Matosinhos deve salvaguardar as questões laborais e ambientais, acrescentando que o “PRR não pode servir de bandeira eleitoral”.
O tema do Plano de Recuperação e Resiliência continua a marcar a agenda da campanha eleitoral e o sétimo dia não foi exceção.
O presidente do PSD, Rui Rio, reiterou que o PRR é insuficiente no apoio às empresas, mas considerou que, “se fosse verdade” o que diz o primeiro-ministro, “não servia para nada”.
“Temos o primeiro-ministro todos os dias a oferecer mais uma estrada, mais um hospital, mais uma ponte. Se fosse verdade o que o primeiro-ministro diz, o PRR seria a pior coisa do mundo, não servia para nada, era para gastar o dinheiro todo de qualquer maneira”, afirmou Rui Rio aos jornalistas, no final de uma reunião com a Associação Empresarial do Baixo Ave, na Trofa.
Mais tarde, já na Maia, distrito do Porto, o presidente do PSD ironizou hoje que, apesar de António Costa chamar bazuca ao PRR, na verdade trata-se de uma metralhadora, já que o primeiro-ministro “dispara de rajada”, em vez de com tiros certeiros.
Por seu turno, o secretário-geral do PS, António Costa - que vai estar hoje na Madeira, participando, no Funchal, num comício da coligação Confiança (PS, BE, MPT, PDR e PAN) e num jantar-comício com militantes socialistas - defendeu hoje que é preciso “sarar a ferida” da “falta de coesão social” e “territorial” para dar um “combate pela positiva, efetivo e estrutural, ao vírus do populismo”.
Falando na Amadora, num comício onde foi assinado, em conjunto com todos os candidatos socialistas da Área Metropolitana de Lisboa (AML), um compromisso em matéria de habitação, Costa salientou que, apesar de a AML ser “das áreas mais desenvolvidas do país”, é também uma área onde há maior “fratura social e maiores fraturas de pobreza”, que “convivem lado a lado”.
“Essa falta de coesão social e de coesão territorial é mesmo a oportunidade por onde se infiltra o vírus do populismo e nós temos de sarar esta ferida se queremos efetivamente dar um combate pela positiva, efetivo e estrutural, ao vírus do populismo”, salientou.
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