Na conferência de imprensa diária de atualização de informação sobre a pandemia da Covid-19, a ministra da Saúde, Marta Temido, anunciou que a Direção-Geral da Saúde (DGS) e o Instituto Nacional e Saúde Ricardo Jorge começaram a fazer uma análise dos dados sinalizados através da plataforma SINAVE "para perceber melhor esta evolução epidemiológica".

A amostra analisada, segundo a governante, reuniu 2958 casos confirmados, do total de 4370 casos confirmados entre 18 e 24 de abril em Portugal. Desta verificação, Marta Temido diz que "44% dos registos tinham informação sobre o tipo de transmissão".

Dentro dos casos com informação, a ministra disse que apesar das restrições decorrentes do estado de emergência, verifica-se que "9% dos casos confirmados que tinham a informação de local onde ocorreu a transmissão identificado referiam casos de transmissão social: contacto com amigos, com familiares, não cohabitantes". Por isso mesmo, Marta Temido, fez um apelo a que "ninguém, em qualquer circunstância, baixe as medidas de prevenção da transmissão da infeção".

Outro dado relevado pela análise é que o local de cohabituação continua a ser or principal contexto de transmissão, "representando cerca de 30% dos casos nos quais foi identificado onde ocorreu a transmissão de entre o número de casos confirmados", avançou a ministra.

Outros 25%, porém, "correspondiam a situações de surto, ou seja, de conjunto de casos em instituições coletivas", referindo-se a contextos específicos como "lares, IPSSs, dois hostels e uma empresa".

De resto, a ministra falou também quanto aos critérios epidemiológicos a serem considerados para avaliar as "condições para o alívio das medidas de contenção no combate à Covid-19”

Um deles, referindo em conferências passadas, é o R0, o "número médio de contágios causados por cada pessoa infetada", relembrou Marta Temido. "Ele deve ser considerado numa fase inicial da epidemia, ainda sem as medidas de contenção implementadas", disse a ministra, indicando que, "com base na curva epidémica até ao dia 16 de março", o R0 português se situa nos 2.8.

A ministra referiu também que se estima ainda que "o número máximo da incidência da infeção tenha ocorrido entre os dias 23 e 25 de março".

Outro dos indicadores, de acordo com a governante, é o RT, o "número médio de casos secundários resultante de um caso infetado, medido em função do tempo". De acordo com os dados mais recentes, de entre 16 e 20 de abril, o RT português encontra-se no "1.04, variando entre 0.99 na região Norte e 1.2 na região de Lisboa e Vale do Tejo".

“Olhando para o período de 16 a 20 de abril, este risco de transmissão ao longo do tempo subiu um bocadinho”, disse Marta Temido, dando conta que da última vez em que abordou o assunto esse risco era de 0,95%.

Monitorização de contactos? Ministra não revela detalhes, mas admite que podem acontecer

Questionada pelo SAPO24 quanto a um possível acesso da Direção-Geral da Saúde à localização de telemóveis com o objetivo de poder avisar pessoas que tenham estado em contacto próximo com uma pessoa infetada, Marta Temido optou por mencionar que tal está sob avaliação, sem se alongar.

"Todas as formas de acompanhamento daquilo que possa ser o regresso possível à normalidade estão a ser pensadas e avaliadas. Algumas delas são o desenvolvimento de instrumentos que ainda não estão disponíveis no nosso país, como noutros países. Aliás a Comissão Europeia tem feito essa referência a esses mecanismos de acompanhamento, que a existir serão utilizados em moldes a definir e em termos combinados com outras medidas. As lógicas de atuação concertada serão sempre as melhores", respondeu a ministra ao SAPO24.

Assim, Marta Temido não confirmou as palavras proferidas pelo primeiro-ministro António Costa, que no podcast Política com Palavra admitiu a possibilidade de fazer um rastreio de contactos a partir dos números de telefone.

Abordando também outras questões concernentes à privacidade dos cidadãos portugueses, a ministra da Saúde apontou para vários aspetos legais sobre a medição da temperatura corporal por parte das entidades patronais, salientando que tem de haver consentimento expresso do trabalhador e que o controlo tem de estar sujeito a dever de confidencialidade.

Na conferência de imprensa, Marta Temido remeteu ainda para a explicação dada no sábado pelo Ministério do Trabalho, que afirmou que a medição da temperatura corporal aos trabalhadores "não se afigura inviável", desde que não seja guardado qualquer registo da mesma.

Para além disso, a governante recomendou também aos trabalhadores que meçam duas vezes ao dia a sua temperatura corporal, como parte da sua responsabilidade individual.

"Um trabalhador deve ter o cuidado de medir duas vezes ao dia a sua temperatura" e deve alertar a entidade patronal caso registe alguma alteração, afirmou,

A governante salientou que, "se as pessoas sentirem que têm temperatura, devem abster-se de ir trabalhar".

Quanto a outras medidas a serem implementadas — inclusive a possibilidade do Governo substituir o estado de emergência vigente pelo decreto de uma situação de calamidade pública — a ministra também não se adiantou, dizendo apenas que "o Governo tomará as melhores medidas no contexto que venha a ser decidido como adequado para continuar a garantir que a contenção da infeção acontece”.

“Vacinem-se e vacinem as vossas crianças”

Repetindo um apelo que já tinha feito, a diretora-geral da Saúde, Graça Feitas, voltou a pedir aos portugueses que não negligenciem o seu plano de vacinação, recordando a importância que as vacinas têm, inclusivamente para impedir epidemias como a que atualmente decorre.

"O maior anseio que as pessoas têm em relação a uma nova infeção, neste caso à infeção que provoca a doença Covid, é o desejo de termos uma vacina. E porque é que a humanidade quer tanto uma vacina para uma doença nova e que é potencialmente grave? Porque as vacinas fazem uma simulação da doença sem que se tenha doença. Portanto, evitam a infeção", disse Graça Freitas.

Por isso mesmo, a responsável pediu para que se pense "nas vacinas que já temos". "Temos bastantes, bastante eficazes e seguras e com grande qualidade", disse Graça Freitas, recordando o Programa Nacional de Vacinação universal e gratuito em vigência.

O apelo é especialmente urgente porque março teve uma quebra de 13% da vacinação, referiu a diretora-geral da Saúde. Tais números contrastam com os de 2018 e 2019, que foram " anos extraordinariamente bons na vacinação em Portugal, até um bocadinho em contraciclo com o que se passa em outros países".

A quebra, de acordo com Graça Freitas, resultou por alguma inibição dada a atual situação epidémica, apesar de "estar ser recuperada em abril". "Nunca descontinuámos a atividade de vacinação, esteve sempre acessível nos centros de saúde” disse a diretora-geral da Saúde, recordando que é seguro ir proceder à vacinação, existindo Circuitos Covid e não-Covid.

A responsável, apelou, porém, a que marquem as vacinas com antecedência para que não haja acumulação de pessoas nos centros de saúde.

Graça Freitas deixou um apelo final: "vacinem-se e vacinem as vossas crianças”, pois “Portugal não tem surtos, mas não podemos deixar de nos vacinar”.

Novo coronavírus SARS-CoV-2

A Covid-19, causada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, é uma infeção respiratória aguda que pode desencadear uma pneumonia.

A maioria das pessoas infetadas apresentam sintomas de infeção respiratória aguda ligeiros a moderados, sendo eles febre (com temperaturas superiores a 37,5ºC), tosse e dificuldade respiratória (falta de ar).

Em casos mais graves pode causar pneumonia grave com insuficiência respiratória aguda, falência renal e de outros órgãos, e eventual morte. Contudo, a maioria dos casos recupera sem sequelas. A doença pode durar até cinco semanas.

Considera-se atualmente uma pessoa curada quando apresentar dois testes diagnósticos consecutivos negativos. Os testes são realizados com intervalos de 2 a 4 dias, até haver resultados negativos. A duração depende de cada doente, do seu sistema imunitário e de haver ou não doenças crónicas associadas, que alteram o nível de risco.

A covid-19 transmite-se por contacto próximo com pessoas infetadas pelo vírus, ou superfícies e objetos contaminados.

Quando tossimos ou espirramos libertamos gotículas pelo nariz ou boca que podem atingir diretamente a boca, nariz e olhos de quem estiver próximo. Estas gotículas podem depositar-se nos objetos ou superfícies que rodeiam a pessoa infetada. Por sua vez, outras pessoas podem infetar-se ao tocar nestes objetos ou superfícies e depois tocar nos olhos, nariz ou boca com as mãos.

Estima-se que o período de incubação da doença (tempo decorrido desde a exposição ao vírus até ao aparecimento de sintomas) seja entre 2 e 14 dias. A transmissão por pessoas assintomáticas (sem sintomas) ainda está a ser investigada.

Vários laboratórios no mundo procuram atualmente uma vacina ou tratamento para a covid-19, sendo que atualmente o tratamento para a infeção é dirigido aos sinais e sintomas que os doentes apresentam.

Onde posso consultar informação oficial?

A DGS criou para o efeito vários sites onde concentra toda a informação atualizada e onde pode acompanhar a evolução da infeção em Portugal e no mundo. Pode ainda consultar as medidas de segurança recomendadas e esclarecer dúvidas sobre a doença.

Quem suspeitar estar infetado ou tiver sintomas em Portugal - que incluem febre, dores no corpo e cansaço - deve contactar a linha SNS24 através do número 808 24 24 24 para ser direcionado pelos profissionais de saúde. Não se dirija aos serviços de urgência, pede a Direção-Geral da Saúde.