Segundo o líder da autoproclamada república de Donetsk, Denis Pushilin, a participação no primeiro dia de votação foi de 23,64%, enquanto na vizinha Lugansk foi de 21,97%.

“Estou próxima da Rússia e considero-me russa. Apesar de ter nascido e crescido em Lugansk, onde vivo há 64 anos, sempre quis estar perto da Rússia”, disse à agência oficial TASS a primeira pessoa a introduzir hoje o seu voto nesta região pró-russa.

Noutro vídeo, uma jovem residente de Antratsit qualificou de “histórica” a votação, acrescentando: “Voto pela paz, a felicidade e o nosso bem-estar”.

No sudeste, na região de Zaporíjia, a presidente da comissão eleitoral, Galina Katiushchenko, disse que 20,5% dos votantes já participaram no referendo de anexação à Rússia.

A participação na consulta na província de Kherson, no sul, foi de 15,3%, segundo a presidente do órgão eleitoral pró-russo, Marina Zakhrova.

Na Rússia, tal como em Kiev e no ocidente, ninguém duvida de que o resultado dos referendos, cuja votação se prolonga até terça-feira, será favorável às pretensões do Kremlin de anexar estas quatro regiões ucranianas, nenhuma das quais controla totalmente, tal como fez em 2014 na Crimeia.

Em Donetsk e Lugansk “aproximadamente 90% votará” a favor da anexação destas regiões, reconhecidas como independentes pelo Kremlin três dias antes da invasão da Ucrânia, segundo fontes próximas da administração presidencial russa.

Em Kherson e Zaporíjia, o resultado será também de cerca de 90%, com uma participação de 80%.

Em muitas zonas, comissões eleitorais ambulantes deslocam-se de casa em casa, acompanhadas de soldados armados.

Oficialmente, o objetivo é garantir a segurança dos residentes, mas as autoridades ucranianas dizem tratar-se de aumentar a participação a todo o custo.

Em mensagem escrita enviada à Efe, um eleitor que vive numa localidade ao sul de Kherson, Viktor, contou que a comissão eleitoral se deslocou à sua casa hoje de manhã: “Eram três, acompanhados de vários soldados com armas automáticas”.

Apontaram os dados do seu passaporte e deram-lhe um boletim.

“Marquei o ‘não’ e meti-o na urna”, disse Viktor, acrescentando que outros vizinhos marcaram a cruz onde lhes disseram, “sob o olhar atento das armas automáticas, quer quisessem quer não”.

Com a anexação, os homens em idade militar da região serão mobilizados, afirmou Viktor.

“Seremos lançados contra as nossas forças armadas como carne para canhão”.

Em alguns casos, os membros das comissões eleitorais apontam os dados das pessoas que votam contra a anexação ou ameaçam-nas de expulsão das suas casas se não fizerem a cruz no sítio certo, diz um canal da rede social Telegram que recolhe testemunhos de residentes de Kherson.

Yuriy Sobolevskiy, representante das autoridades de Kherson leais a Kiev, disse que em alguns casos os residentes são obrigados a votar várias vezes ou a introduzir boletins em nome dos familiares que não estão em casa.

O presidente da autarquia de Enerhodar, na região de Zaporíjia, descreveu hoje situações semelhantes, enquanto, segundo o ‘media’ da oposição russa “Astra”, na localidade de Vasilivka, na mesma província, algumas pessoas que marcaram a “opção errada” foram detidas.

O governador de Lugansk, Serhiy Haidai, afirmou na sua conta de Telegram que em algumas localidades sob controlo russo as autoridades estão a contabilizar votos de eleitores que estão a lutar na frente de combate ou até que já morreram.

Fontes da autarquia de Mariupol prévia à tomada da cidade pelos russos falam de “brigadas móveis” que esperam os trabalhadores quando chegam aos seus postos de trabalho e pressionam-nos a votar sob ameaça de perderem os seus empregos.

O anúncio oficial de realização dessas consultas populares para anexação dos territórios ucranianos sob ocupação russa foi feito num discurso à nação proferido na quarta-feira pelo Presidente russo, Vladimir Putin.

Os referendos foram anunciados juntamente com a mobilização de 300.000 reservistas russos para combater na Ucrânia e uma ameaça velada de utilização de armas nucleares contra o Ocidente.

A invasão russa — justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia — foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.